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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Anunciar o Ano Novo

 

Copyright V. Ângelo

 

À porta de casa, a minha tenda em Birao, capital da Vakaga, uma residência de luxo, com internet e tudo, a badalar o sino de um ano que será um tempo de grandes mudanças. Há que ter a coragem de enfrentar novos desafios, abrir outros horizontes,  começar uma vida diferente. Não é apenas renovação. 2010 é um ano novo.

 

Um bom Ano de 2010 para todos os que seguem o meu blog.

Um tiro para o ar, sem que caia uma estrela

 

Levantei-me muito cedo, depois de ter dormido cerca de três horas e meia, para viajar num velho Transall C-160 francês, se calhar o mesmo que utilizei há vinte cinco, quando viajava na África Central com o Presidente Kolingba, um avião que já nessa altura era velho, ruidoso e inconfortável, mesmo para um esquadrão de duros da Legião Francesa, fugidos da justiça.

 

Voltei ao fim do dia, na mesma banheira voadora, para descobrir que o meu editor na Visão não tinha feito o seguimento do meu texto com a atenção necessária. Em vez de sair na Revista impressa de hoje, como estava previsto, o texto, uma obra-prima, diria eu, com muita modéstia, depois da fartura do Transall, acabou por sair apenas no on-line. O on-line é para meia dúzia de intelectuais, cansados da vida, alguns deles.

 

O meu editor teve sorte. Para já, estamos numa quadra festiva. Mais. Depois de um dia fechado naquela máquina que até voa e de mais de cinco horas de desfiles de escolas, academias, madrassas (escolas de ensino do Corão, onde as crianças passam anos da sua vida a recitar, de cor, o livro santo) , sem falar das marchas das forças vivas, meias-mortas pelo calor intenso que se fazia sentir, em Sarh, para comemorar um dia em que um golpe de força se transformou em jornada de liberdade e de democracia, que energias me restavam para enfrentar o editor?

 

Sem contar que de Sarh a Paço de Arcos há muita duna que nos tapa o horizonte.

 

Como não lhe posso dar um tiro, que é a maneira local, aqui onde me encontro, de resolver as disputas, limito-me a convidar os leitores a ver o sítio na Visão. Nos comentários, até poderão acrescentar uma pitada de sal à minha raiva de hoje.

 

http://aeiou.visao.pt/ano-novo-em-sam-ouandja=f542770

 

Uma leitura calma, é o que vos desejo.

Temos que falar

 

Um dia ao telefone. A diplomacia das palavras. A procura de plataformas comuns.

 

No comunicar é que está o ganho. Sem diálogo, não há futuro.

 

Ao fazer o balanço do dia, penso na falta de diálogo que caracteriza a política portuguesa. Andam todos a dizer coisas. A tentar marcar pontos. Sem que haja entendimentos. É só conversa, numa guerra de palavras, inspirada pelo sectarismo e a exclusão.

 

 

Os fumos cinzentos de Bangui

 

Ao chegarmos a Bangui, não havia visibilidade. As queimadas nos arredores da cidade enchiam o horizonte de fumo. Não deixavam fazer a aproximação ao aeroporto. Andámos cerca de vinte cinco minutos às voltas. A paisagem é linda, mesmo tendo em conta que a floresta equatorial já está muito desbastada.

 

Tínhamos que encontrar uma abertura. Era importante ter as reuniões que haviam sido programadas para o dia.

 

Os pilotos sabiam que esta era uma missão decidida à última hora, necessária devido à gravidade da situação junto da fronteira. Acabaram por conseguir pôr as rodas na pista.

 

Começámos com a representante de Guterres em Bangui. Uma senhora senegalesa muito decidida. Tinha estado em contacto com Genebra e preparado a nossa visita com o ministro centro-africano que se ocupa da matéria. Vamos mudar o campo de sítio, transpor os mais de três mil refugiados ainda mais para o interior do país? Não significa isso ceder à chantagem de um grupo armado influente? Enfim, uma discussão a sério sobre questões muito sérias.

 

Depois, foi a vez das ONGs que têm sido mais atacadas na região. Uma delas tem dois dos seus funcionários raptados há mais de um mês. Assuntos relacionados com sequestros são muito delicados. Mas concluímos que há esperança.

 

Fomos para o Ministério da Defesa. O ministro é filho do Presidente. Como de costume, recebeu-nos bem, mas com uma conversa muito vaga. Fora do assunto principal. Um longo discurso, sobre um tema que não estava em cima da mesa. Penso que queria reservar o diálogo para a discussão que iríamos ter, de seguida, com o seu pai.

 

A Presidência cheirava a férias de Natal. Não havia a azáfama habitual. Os conselheiros, gente de idade muito acima do respeitável, não andavam pelos corredores, como é habitual. Tivemos uma reunião muito pormenorizada. O Presidente Bozizé quis percorrer cada assunto com tempo. Uma digressão. O essencial é que as mensagens que tinha pensado transmitir-lhe foram dadas, repetidas, e sublinhadas. Houve tempo e ambiente para se ser claro.

 

Nestas coisas, cada um tem as suas responsabilidades. Cada um responde pelas suas. Fiz a minha parte.

 

Antes de voltarmos para o aeroporto ainda houve tempo para ver o técnico que se ocupa do programa de desmobilização dos combatentes irregulares. Rebeldes, diria o leitor. Um velho coronel francês, que já viu muitas. Veremos se consegue ver esta, que é bem complicada. Há homens armados por todos os cantos desta casa grande, fumarenta e de pouca visibilidade.

 

O voo de regresso a N'Djaména foi um martírio. O céu estava limpo, mas correntes de ar quente abanavam o nosso Learjet. Parecia que estávamos na turbulência da política portuguesa.

 

Claro que depois disso, só se pode estar cansado e com uma dor de cabeça.

Uma fé inacabada

 

Copyright V. Ângelo

 

A igreja de Sam Ouandja, na RCA, está por acabar. Algum missionário mais ousado deve ter passado pela vila e pensado numa construção sólida. Mas, nestas terras de violências, tudo é precário.

 

Mesmo as pessoas parecem estar por acabar. Como se faltasse acrescentar qualquer coisa à alma das gentes. Vive-se devagarinho, na esperança que as balas perdidas passem ao lado.

A dúvida faz bem à saúde

 

A dúvida está presente no meu quotidiano. É fundamental dar espaço à dúvida, para que a compreensão do que nos rodeia se torne mais clara.

 

Neste tipo de vida, o que parece nem sempre é. Há, tantas vezes, um grau de incerteza sobre a realidade de um facto. Com a experiência, aprendemos a ir para além das aparências. Das interpretações simples. Que pode estar por detrás de um incidente, de uma declaração, de uma acção militar, de uma abertura política? Será que nos querem fazer crer em determinada coisa, tomar uma determinada direcção, quando a realidade é outra?

Os serviços secretos e os meios de comunicação social são muito dados à fabricação de factos. E de boatos, de medos, de papões.

 

Estou, neste momento, a lidar com alguns deles.

 

Não convém, no entanto, cair na teoria da conspiração, que vê um enredo em toda a parte, como acontece muitas vezes em regimes totalitários. E nas mentes simples.

 

Hoje cerca das 10:30, os militares das FACA (Forças Armadas Centro-Africanas), acampados em Sam Oundja, entraram em parafuso e começaram a disparar uns contra os outros. No final do tiroteio, havia quatro mortos para enterrar e dois feridos graves. Um dos militares mortos foi o comandante do contingente, um jovem tenente. Tinha passado uma parte do dia de Terça-feira a negociar com ele. Achei-o um homem inteligente e carismático. Tinha vindo para Sam Ouandja, com os seus homens, para uma expedição de três meses, e já ia em nove...Estava desejoso de voltar para Bangui, o que iria acontecer dentro de um ou dois dias...

 

O meu conselheiro político principal, que também o conhecia, disse-me que, nestas terras, o carisma não protege das balas.

 

É verdade. Mas ser prudente, ter dúvidas, ver bem todos os ângulos, ajuda muito.

 

Se se abre bem os olhos, fica-se mais sábio, cada dia que passa.

Um sorriso de Natal

 

Copyright V. Ângelo

 

Não posso deixar, no dia de Natal, de trazer uma cor diferente. Um sorriso, vários sorrisos, que nos lembram o calor doutros povos, gente de bem e com um coração igual ao nosso.

 

É preciso ir para além do habitual, pensar em termos mais vastos, que o mundo não termina ao virar da nossa esquina.

 

Estas mulheres são Darfuris, refugiadas do outro lado da fronteira e da vida, a viver em campos de gente sem meios. Mas são pessoas com muita luz, coragem e um grande sentido de humanidade. Falam devagar, com a profundidade dos que já passaram por muitos desaires, com a sabedoria de quem sabe que a única coisa que não convém perder é a dignidade e o respeito por si próprio.

Paz de Natal

 

O pobre do camelo não teria cornos mas a sua carne era rija como os ditos.

 

E muito mal temperada. Não dava para disfarçar.

 

Uma ceia de Natal diferente.

 

Com a situação na área das nossas operações, na RCA, a ficar cada vez mais violenta, incluindo o risco acrescido de raptos de Ocidentais, o desejo desta quadra é que haja tranquilidade e respeito. Duas características pouco frequentes, nas terras que frequento.

 

E ainda há quem diga que o pessoal dirigente da ONU são uns meros burocratas...

 

Fora isso, e esquecendo a comida, um bom Natal.

 

 

Sam Ouandja, uma cidade ecológica

 

Hoje, Sam Ouandja teve um novo tipo de visitas. Ontem, foi a minha vez. Ainda tenho que escrever sobre essa missão. Agora, foi um grupo rebelde rival, que resolveu, esta manhã, atacar os combatentes do UFDR. Cada grupo representa uma etnia vizinha, inimiga nas horas más, detestável, nos tempos mais serenos.

 

Foi uma confusão de morteiros, rajadas de kalash, gritos, a população civil a fugir para o mato, os meus soldados a tomar posição à volta do campo de refugiados.

 

No final dos combates, os assaltantes retiraram-se, levando consigo as duas únicas viaturas que existiam na cidade e que pertenciam às ONG Triangle e IMC ( International Medical Corps). Os ecologistas diriam que temos agora uma localidade sem carros. É verdade. Mas não sei se este facto entra nos planos da Conferência de Copenhaga.

 

Acabei por ter que proceder a uma evacuação do pessoal humanitário. Mandei dois helicópteros. Mas a lista de passageiros a evacuar e o grupo que nos esperava na pista não coincidia. Alguns humanitários tinham feito umas "amizades" locais e queriam levar as moçoilas amigas...Os pilotos, Russos que são, não tinham instruções para tanto. E, por isso, estavam prestes a levantar voo, de regresso à base, sem trazer ninguém...O meu conselheiro político principal, homem velho e sabido, que compreende bem a natureza humana e a força da vida, encontrou finalmente uma solução...

 

Só que com a demora, os helicópteros já não tiveram tempo de ir buscar um outro grupo de gente a evacuar, a cerca de cem quilómetros a Norte de Sam Ouandja.

 

É uma tarefa para amanhã. São quatro, sem contar com as companhias possíveis...A vida no mato não é só feita de espinhos...

Cada ser humano é um diamante

 

Estou cansado.  Viajei cerca de dois mil quilómetros, num dia que começou muito cedo, era ainda noite cerrada, para ir negociar com homens armados, gente muito violenta. São cem, neste sítio, têm estado a ameaçar de morte e destruição uma quinhentas famílias de refugiados provenientes do Darfur. Ameaçam igualmente muitos dos civis que vivem na zona.

 

As negociações tiveram lugar em Sam Ouandja, na República Centro-Africana. Tenham a paciência de procurar no Google.

 

Voltarei ao assunto. Que é muito grave. Está em causa a vida de muita gente, em terras isoladas, é verdade, são três a quatro dias de viagem com o todo-o-terreno, desde a capital do distrito, 120 marcos a Oeste, oito dias às cavalitas de um burro, a partir da fronteira com o Darfur. Os diamantes e o ouro, que são explorados artesanalmente na região, explicam muita coisa.

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