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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Andam a enganar-nos, viva a alegria!

 

A crise económica portuguesa é muito grave. O país está cada vez mais endividado, as famílias mais pobres e o tecido produtivo continua à espera de modernização. A nossa capacidade de inovar é fraca. A preparação profissional, de muitos, é simplesmente insignificante. Mesma a produção de ideias é pouco criativa. Passamos as horas a copiar os outros. O acordo ortográfico é uma distracção sem sentido, que nos baralha ainda mais. A política, quando não anda a tratar de coisas periféricas, como o casamento entre duas cenouras, fixa as suas preocupações em protagonismos de gente que sente o tempo a fugir-lhes da vida.

 

Para quem tem vistas largas, tudo isto soa a miudinho. Não dá muito lugar à esperança. Mas, enfim, enquanto houver bacalhau e vinho tinto, o Domingo passa mais alegremente. O fundamental é, para quem está nas savanas das terras distantes, não ligar a RTP Internacional. Sobretudo se o Teixeira dos prantos estiver a falar das agências de rating e do orçamento fictício do Estado.

 

 

 

Um pouco de frescura

 

Copyright V.Ângelo

 

Este canto do deserto, o leito de um wadi, ou seja, de um rio que só tem água umas horas ou uns dias por ano, na estação das chuvas, lembra a quem anda nestes combates que há sempre maneira de encontrar um pouco de sombra e de frescura, mesmo nos espaços mais recuados.

 

A vida que me conduz, sim é a vida que dita o meu dia a dia, é feita de momentos muito tensos e áridos. Trabalhar com governos em terras da lei da força é uma tarefa desgastante e, quantas vezes, ingrata. Por isso, um pouco de sombra, um pensamento mais suave, um imaginar a doçura do viver, tudo isso tem que ser saboreado sem pressas.

 

Fora isso, foi um dia de estratégia. Formular uma estratégia com gente esperta é um encanto. Uma campanha nos media. Um plano de transição. Uma maneira de sair do impasse. Talvez não vá muito longe. Mas mantém as portas abertas. Que é o fundamental, numa situação de conflito. Como também é fundamental não dar a entender que se perdeu a calma. A serenidade é uma arma de combate.

 

 

Capitais do mundo

 

Ainda estou por aqui. Quem diria? A custo, mas estou. Para mais, o meu artigo desta semana, na VISÃO, é sobre o Afeganistão, a União Africana e a pretensão chamada Davos.

 

Dizem que vale a pena ler.

 

O editor on-line demorou algum tempo antes de disponibilizar o texto para os leitores que se servem da Net. Mas acabou por chegar. O homem disse que estava muito ocupado. Acredito. Também eu ando muito ocupado. E o mundo, que ocupado está! É esse, aliás, o título do meu trabalho.

 

http://aeiou.visao.pt/um-mundo-muito-ocupado=f546129

 

Está tudo bem?

Disputas de sucateiros e botas velhas

 

Passei algum tempo, esta tarde, a falar ao telefone com o A. Guterres. A determinada altura disse-lhe que, se ele vier em Março à África Central, como está a planear, será muito provável que eu já não esteja nas paragens. Reformado. Sim, sentado num banco de jardim, no Restelo. Sem estar a olhar para Belém, não hajam equívocos.

 

Não queria acreditar. Como seria possível deixar um emprego como o meu? Depois percebeu que as minhas décadas com a ONU não foram passadas a resolver a crise da Islândia ou o separatismo no Québec. Nem a partição de Chipre, acrescentei eu. Foram vividos no meio de conflitos mais ferozes, vidas mais ásperas, ambientes de grande tensão. Ou seja, talvez já seja tempo de procurar climas mais amenos e passar o tempo com disputas mais caseiras, do género dos sucateiros da nossa terra.

 

Entretanto o meu amigo Staffan de Mistura, um homem mais velho do que eu, foi nomeado como representante especial para o Afeganistão. Tenho amigos que não conseguem parar, sair desta vida de homens dos sítios impossíveis. Cada um sabe de si. É verdade que o Afeganistão é um desafio muito tentador. Mas há outros, bem mais perto de casa. Basta pensar nos "afeganistães" que são certos bairros da periferia de Lisboa.

 

Caras de pau

 

Ando metido numas negociações difíceis. Que exigem muita diplomacia. É como se ambos os lados estivessem perante uma garrafa de água e a parte mais forte dissesse que se trata, na verdade, de aguardente. Sim , de aguardente. Perante isso, que deve fazer um diplomata experimentado? Dizer que não, não senhor, é água, água, água? Bater com o pé e dar murros na mesa? Seria o fim da discussão. Cada um iria à sua vida e ficava tudo por resolver.

 

Prefiro dizer que é mesmo capaz de ser aguardente, mas, ao mesmo tempo, propor que se tente utilizar essa "aguardente" para regar as rosas que estão a brotar. Porque, na realidade, o importante é conseguir que as flores não murchem.

 

Numa negociação, o fundamental é não perder de vista os objectivos que se pretende atingir. E manter uma postura realista, perceber bem o que é possível, as razões da outra parte, e saber manter o silêncio, quando as palavras podem enfraquecer o jogo.

 

É tão difícil estar em silêncio perante os outros. Mas é muito eficaz.

 

No caso concreto, a parte oposta consegue manter uma cara de pau. Nem uma linha do rosto se move. Não há body language. Mas um aperto de mão, no momento da interrupção das negociações, pode quebrar muito gelo. É que os caras de pau sabem o valor do respeito, apreciam as boas maneiras, mesmo quando o desentendimento é muito sério.

 

Os povos do Sahel, gente habituada às paisagens ressequidas, são combatentes natos. Gostam da guerra. Por isso, não é muito produtivo entrar num conflito em que as únicas pedras em jogo são apenas o sim e o não. É que a vida tem muitos matizes.

 

 

A derreter

 

55 graus na sala de reuniões, 100 por cento de humidade, um ambiente de Inferno, numa reunião amigável com as ONGs que operam na República Centro-Africana, gente jovem e cheia de boa vontade, tudo no edifício do PNUD, onde trabalhei há 25 anos, os aparelhos de ar acondicionado tão a cair de velhos que alguém disse que devem ser os mesmos que eu instalei nessa mesma sala, quando aí cheguei em 1985, preocupações sobre um processo eleitoral que só é credível para quem queira acreditar nele, uma equipa de desmobilização de combatentes muito profissional mas dirigida por incompetentes, um país de diamantes em que os pigmeus são uma atracção anacrónica, enfim, um dia bem preenchido, de fato e gravata.

 

A voltar ao aeroporto, ao fim do dia, para voar para outras paragens, havia também o voo da TAAG, uma ligação de Luanda, por Brazzaville e que de Bangui vai a Douala, uma outra maneira de sair destas terras isoladas. Ao lado do jacto das Nações Unidas, um bom avião de classe acima da média, havia dois outros jactos privados, muito maiores, mais luxuosos, um francês e outro do Congo, o pequeno Congo, que fariam nesta cidade, nesta Bangui de palhotas e de dancings populares, de gente pobre e de recursos naturais vastos, urânio, entre eles, sem contar o ouro e os diamantes. Estariam os senhores dos jactos numa das palhotas onde se serve vinho de palma? Ou nos salões sossegados do poder, onde se fala do minério do urânio com a delicadeza que a gente fina possui?

 

Passam-se coisas interessantes nestes apeadeiros de fim de linha.

Bangui,vinte e tal anos depois

 

Vivemos em Bangui entre Setembro de 1985 e Setembro de 1989. Depois de quase cinco anos em Maputo, Bangui parecia um paraíso de tranquilidade, mas muito perdido no coração de África. O destino seguinte foi a Gâmbia.

 

Hoje Bangui, onde estou a escrever este texto, está mais bonita. La Coquette, como gosta de ser conhecida. Tem mais ruas, mais alcatrão, mais gente. Até tem dois ou três monumentos. Mas menos actividade económica, menos Europeus. O clube de ténis, que nos anos oitenta era frequentado por muitos sócios, até às 22:00 horas, fecha agora às seis da tarde. O Rock Club, onde as minhas filhas passavam o fim do dia, nas actividades extra-escolares, mesmo junto ao rio Ubangui, em frente do Congo Democrático, está meio parado e a cair de sujo.

 

O aeroporto tem um voo por semana para a Europa. Chega-se aqui às Quintas, cedo, passa-se o dia em reuniões e volta-se a Paris no mesmo avião que nos trouxe, levanta-se voo depois do jantar.

 

As árvores de grande porte estão agora mais velhas. A cidade é conhecida pelas inúmeras árvores de mangas. Na estação das mangas, os jovens andam de um lado para o outro com grandes varas, vários metros, e vão derrubando os frutos mais apetitosos.

 

É um mundo fora do mundo.

 

 

 

 

O encómio da palavra

 

Ouvi bons discursos, durante a minha visita de hoje a Farchana e Hadjer Hadid, a dois passos da fronteira do Chade com o Sudão. Duas zonas de violência, de massas de refugiados e de deslocados, duas zonas em que o controlo das nossas forças começa a ganhar forma. No meio de tanta secura, foi bom escutar um par de discursos elegantes, bem estruturados, de improviso, mas cheios de significado. Palavras ditas bem e com equilíbrio ajudam a resolver os problemas. Afinal, o ser humano é um animal que precisa de comunicar.

 

E em política, a elegância da palavra justa é uma arte que aprecio.

Uma pazada na cara

 

Sexta-feira cheira a fim-de-semana. Mas é apenas um cheiro. Amanhã estarei novamente na estrada. Ou no ar, melhor dizendo. Vou visitar o Sector Central da minha área de operações. Ver os civis, os militares e os polícias. Passar pelos campos de refugiados. É uma vida mexida.

 

Domingo, será a altura de escrever o meu texto para a Visão da próxima semana. Um prazer, misturado com a angústia de produzir palavras que caibam em duas colunas e que façam sentido.

 

Mas, mesmo assim, é bom ter um fim-de-semana.

 

Entretanto, hoje, para além das muitas coisas que foi preciso fazer, tivemos um incidente grave no nosso campo de Abéché. Cerca de 25 trabalhadores manuais, recrutados ao dia, no mercado local, atacaram à paulada e com pás o funcionário que orientava o seu trabalho. Uma das pazadas rasgou-lhe a face. Não mataram porque as tropas do Nepal, que estão aquarteladas nessa base, puderam intervir rápidamente. Foram todos presos. Sem que se saiba bem que fazer com eles, que o sistema de justiça não funciona. Um problema a acrescentar à lista.

 

Mais a Sul, uma viatura de uma ONG nacional foi atacada na estrada e roubada. Os meus serviços enviaram um pequeno destacamento, para perseguir os ladrões. Umas boas dezenas de quilómetros mais para Leste, já perto do Sudão, os nossos polícias conseguiram alcançar a viatura. Houve um tiroteio dos antigos. Os larápios acabaram feridos. As balas das velhas kalashnikov fazem doer. Para mais, estão cheias de pó. O pó é uma constante nestas terras. Estão em tratamento no hospital de Goz Beida. No meio do muito pouco que existe.

 

O Ministro do Interior dissera-me, na Quarta-feira, que gente assim deve ser tratada como cães raivosos. Aqui fica a nota. Sem mais.

 

 

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