Uma crise militar nunca vem só
Robert Gates, o Secretário norte-americano da Defesa, veio a Bruxelas, para se despedir da NATO e da Europa. Em breve, Gates, que fez toda a sua carreira na CIA, deixará as funções governamentais, a seu pedido.
O discurso que proferiu ontem na Security and Defence Agenda, um lobby disfarçado de think tank, estabelecido em Bruxelas, revelou claramente as críticas que os Estados Unidos fazem aos países europeus, em matérias do foro militar. No essencial, a posição de Washington é de que os Europeus têm estado a fugir às suas responsabilidades em matéria de segurança. Os americanos, que há dez anos suportavam 50% dos orçamentos militares da Aliança Atlântica, despendem agora mais de 75%. Mais ainda. Os aliados, sem contar com os Estados Unidos, têm mais de dois milhões de homens e mulheres vestidos com uniformes militares, mas quando se trata de mobilizar combatentes, não conseguem pôr no terreno mais do que quarenta a cinquenta mil, em cada dado momento. O resto ocupa-se de outras tarefas, de apoio, de treino e estudo, administração, honrarias e pouco mais.
Gates explicou que a campanha contra a Líbia tem servido para expor a falta de operacionalidade das forças armadas europeias.
É um retrato amargo sobre a Europa e a sua capacidade. Mas não diz tudo. Não fala, por exemplo, no mal-estar que se nota em vários países, com estruturas militares desmotivadas, muito ressentidas em relação ao poder político e envergonhadas, face à situação calamitosa em que as suas nações se encontram.
Fiquemos por aqui.