Não serei dos que dizem que os ziguezagues políticos dos últimos anos deitaram abaixo a possibilidade de Fernando Nobre ser eleito Presidente da Assembleia da República.
Direi, apenas, que cada um desempenhou o seu papel, nas duas votações de hoje. O PSD manteve a promessa e os deputados decidiram.
O CDS/PP não votou a favor, apesar da aliança de governo, o que é estranho, mas admissível. Mas o que o CDS/PP fez deve ficar como um aviso. A coligação é um acordo de interesses, nada mais. Cada um vai puxar o rabo à sua sardinha. Não há que ser ingénuo. Nem mole.
A Grécia é, esta noite, um rastilho que ninguém tem a coragem de apagar.
Ora, só encarando o assunto de frente --o país está falido, não tem dinheiro nem para o petróleo, como se dizia em Évora, quando eu era menino e moço -- é que se poderá resolver o imbróglio. Quando se está numa situação dessas, ou se consegue mais empréstimos ou reduz-se o consumo e as despesas, sem esquecer que as dívidas aos credores deixam de poder ser pagas a tempo e horas. Mas quem pode emprestar dinheiro, novos fundos, a quem não tem nenhuma hipótese de o reembolsar, no futuro previsível? A não ser que seja por motivos políticos. Aqui a política seria, no entanto, um adiar por uns meses, não muitos, do problema.
50% da população grega, entrevistada por sondagem nas últimas horas, pensa que a situação não é tão grave como a pintam. Que não deveria ser necessário agravar as medidas de austeridade. Não sei se assim é. O que é verdade é que a maioria das medidas aprovadas pelo governo, há um ano, ainda está por efectivar. Esta constatação não permitiria, noutros cantos do mundo, ter acesso a mais empréstimos.
Mas, na Europa, vive-se num planeta à parte. Só que a realidade é como um meteorito que se preparar para entrar em choque com esse planeta, nos momentos que se seguem.
Não é uma questão de beleza, é um problema de justiça e de paridade. Temos que ter mais mulheres em cargos de direcção, incluindo no governo. Duas em onze, não chega.
O governo agora anunciado merece o benefício da dúvida. Ou seja, não deve ser julgado desde já, logo à partida.
Tem alguns pontos positivos, o ser composto de gente relativamente jovem e bem preparada tecnicamente, assim como o facto de ser pouco numeroso, o que deveria permitir uma melhor coordenação governativa. Tem pessoas que já deram provas de competência e outros que ainda têm que mostrar o que valem.
Sem querer falar em nomes, acho que a escolha para as Finanças deixa algumas questões no ar. O nome indigitado não tem o carisma nem as qualidades de negociador que o ministério pediria. Sem contar com o facto do homem possuir um ego muito acima do que seria de esperar.
E a Defesa Nacional parece, uma vez mais, ter sido tratada como um ancoradouro de quem tem nome mas poucas capacidades estratégicas. Este ministério esta a ser sistematicamente tratado como um pé-de-página, um afterthought.
Tenho a vantagem de ver as coisas com alguma distância, depois de ter passado mais de três décadas na frente das relações internacionais - sem ser pago pelo contribuinte nacional. Também tenho uma outra vantagem: não estou enfeudado a nenhum grupo nem procuro fazer mais pela causa pública do que dar a minha opinião. É o que volto a fazer hoje, na revista Visão, que continua a dar-me refúgio, de quinze em quinze dias.
Tive a lembrança de escrever sobre a política externa portuguesa. As minhas colunas são, ponto estabelecido, sobre as questões internacionais. Desta vez, com um governo prestes a tomar posse e um novo titular dos Negócios Estrangeiros às portas do palácio, pareceu-me importante chamar a atenção sobre duas ou três coisas.
Uma delas, relaciona-se com o facto do MNE estar desligado da Assembleia da República. A culpa cabe à Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas. A Comissão tem sido mal gerida, pobre de ideias e ausente em matéria de estratégia. É uma Comissão que não está no centro das atenções dos líderes partidários. Residual, serve apenas para colocar uns fundos de calças que andam às moscas em S. Bento.
A outra, é sobre as prioridades externas. Devem corresponder a um largo consenso entre os partidos. Assim não acontece. Não tem havido um debate fino e visionário sobre a questão. Parece que há consenso, quando na realidade o que existe é falta de reflexão.
A terceira, tem que ver com a necessidade de fazer compreender que o investimento em relações externas compensa. Mas tem que estar em sintonia com a política interna, com os interesses das nossas comunidades no estrangeiro e com os investimentos das empresas portuguesas em certos pontos importantes do mundo.
As estradas do Luxemburgo, durante as horas de ponta, são um inferno. Fazia-se, hoje, uma média de 12 km por hora na autoestrada que saía da capital com destino à Bélgica. As vias secundárias estavam, de igual modo, saturadas. Não havia por onde escapar.
A gestão do trânsito automóvel é um dos grandes quebra-cabeças do mundo de agora, quer num país rico como o Luxemburgo quer em Freetown, na Serra Leoa.
Este fim de dia faz-nos, uma vez mais, pensar na crise europeia.
A Grécia afundou-se mais uns pontos. Está, neste momento, numa situação de insolvência, uma insolvência que não quer mostrar a cara mas que é real. Qualquer novo empréstimo significará, simplesmente, que se disponibiliza dinheiro para ir pagando os juros da dívida, não o principal, e para manter o mínimo dos mínimos a funcionar, ao nível do Estado grego.
Portugal, que vive alegremente numa constelação solar que lhe é própria, conheceu um novo agravamento dos juros da dívida pública. Com juros a 12,5% para as obrigações a cinco anos, o panorama é bem claro. Não vamos sair desta crise num horizonte temporal previsível.
Cada vez mais a solução é perdoar a dívida destes dois países, e a da Irlanda, e acompanhar esse perdão com uma saída do euro. Estas duas medidas devem ser tomadas em simultâneo. É uma terapia de choque, mas com hipóteses de retoma económica num prazo de cinco a sete anos. A alternativa, a continuação destes países no euro, não permite descortinar um processo de recuperação. Vai, além disso, a curto prazo, dar azo a uma crise política no seio da União.
O partido do primeiro-ministro Erdogan ganhou as eleições legislativas com cerca de 50% dos votos a seu favor.
É uma grande vitória, mas não permite a Ergodan, um político complexo, que mistura atitudes conservadoras com uma governação moderna e virada para o futuro, rever a Constituição a seu belo prazer. Fica-se, por isso, mais descansado.
A Turquia, sobretudo a sociedade de inspiração islâmica que Erdogan gostaria de consolidar, está culturalmente longe da Europa. Uma parte importante da sua população tem um comportamento exterior, que se manifesta na maneira como se veste, que é estranho, para os olhos de um Europeu. Este facto não deveria impedir a sua adesão à UE, mas a verdade é que pesa no processo e acaba por ser um obstáculo. Os políticos, em Paris, Bruxelas, Haia ou Berlim, sabem que os seus concidadãos teriam dificuldades em aceitar os Turcos como membros de pleno direito da UE.
Numa Europa que vive uma período de grande fragilidade, a adesão da Turquia poderá contribuir para um acréscimo dessa fragmentação. Há que ver esta questão com muito cuidado.
RobertGates, o Secretário norte-americano da Defesa, veio a Bruxelas, para se despedir da NATO e da Europa. Em breve, Gates, que fez toda a sua carreira na CIA, deixará as funções governamentais, a seu pedido.
O discurso que proferiu ontem na SecurityandDefence Agenda, um lobby disfarçado de thinktank, estabelecido em Bruxelas, revelou claramente as críticas que os Estados Unidos fazem aos países europeus, em matérias do foro militar. No essencial, a posição de Washington é de que os Europeus têm estado a fugir às suas responsabilidades em matéria de segurança. Os americanos, que há dez anos suportavam 50% dos orçamentos militares da Aliança Atlântica, despendem agora mais de 75%. Mais ainda. Os aliados, sem contar com os Estados Unidos, têm mais de dois milhões de homens e mulheres vestidos com uniformes militares, mas quando se trata de mobilizar combatentes, não conseguem pôr no terreno mais do que quarenta a cinquenta mil, em cada dado momento. O resto ocupa-se de outras tarefas, de apoio, de treino e estudo, administração, honrarias e pouco mais.
Gates explicou que a campanha contra a Líbia tem servido para expor a falta de operacionalidade das forças armadas europeias.
É um retrato amargo sobre a Europa e a sua capacidade. Mas não diz tudo. Não fala, por exemplo, no mal-estar que se nota em vários países, com estruturas militares desmotivadas, muito ressentidas em relação ao poder político e envergonhadas, face à situação calamitosa em que as suas nações se encontram.