Pensar a sério no nosso futuro, sem ilusões mas com ambição.
Sair dos quadros de referência a que nos acomodámos, do facilitismo pretensamente desenrascado, da classe política que representa o imobilismo e os velhos interesses, das fronteiras que nos impusemos a nós próprios.
Fachada principal da Universidade de Tartu, no sul da Estónia, esta manhã. A grande maioria da população de Tartu tem menos de 35 anos. A cidade faz-se toda a pé, com excepção das faculdades de agricultura e de veterinária, que estão à saída, na estrada que nos leva de regresso a Tallinn.
Muitos parques, vegetação abundante. Numa das ruas mais centrais concentram-se as vendedoras de flores. Mulheres de idade, a contrastar com a juventude que as rodeia, e de origem russa. As flores são lindas e como o resto, estão disponíveis a preços que imbatíveis.
A Academia Militar da Estónia e a Escola de Estado-Maior dos Bálticos, e não só, pois é frequentada por oficiais superiores vindos dos países do Cáucaso, da Alemanha e dos Estados Nórdicos, estão também localizadas em Tartu.
Tudo isto dá à cidade, que tem cerca de 100 000 habitantes, um ar descontraído, jovem, arejado e tolerante. É, além disso, uma terra muito segura. Apesar da cerveja que é consumida ao litro, sobretudo nestes dias de muito calor.
Viajo, amanhã cedo, para a Estónia, para falar de segurança internacional, do conceito de segurança humana e dos processos de resposta às crises. Passei uma boa parte dos últimos dias a preparar os temas. E a informar-me sobre a Estónia, que é um país que gosta de ser visto como mais escandinavo do que báltico, ou ambos, talvez. É dos países europeus com menor dívida pública. Funciona bem.
É curioso ver um pequeno país à procura de projecção internacional. E a consegui-la, primeiro como agregador dos dois outros países bálticos, depois, dando uma formação académica aos seus jovens que os prepara para a sociedade global.
Os temas que vou tratar despertam um novo tipo de interesse naquela parte do mundo. Até na Rússia, que organiza o primeiro curso com uma participação ocidental sobre crises violentas e a resposta da comunidade internacional de 21 a 23 de Junho. Estava previsto falar nesse curso. Mas a minha operação ao nariz, marcada agora para uns dias antes, obriga-me a uma privação de vodka e de viagens de avião.
Quem tem um nariz sensível...Mas é apenas por uns dias.
Noite eleitoral, num Portugal em crise. Virou-se uma página, criou-se um novo momento político, mas os tempos serão difíceis. Há que tirar, pelo menos, um lição dos resultados de hoje: sem vontade de diálogo não se resolverá grande coisa. O diálogo não é, todavia, um hábito muito enraizado na cena política portuguesa.
Amanhã, convém ter a cabeça no lugar certo e votar com os pés bem assentes na terra.
Sei que muitos de nós não temos os pés firmes na realidade, que andamos a sonhar com fantasias e a pensar no lado fácil das coisas, mas há momentos em que é melhor reflectir bem e tentar ver as coisas como elas são: ninguém nos deve nada, nós é que temos que tomar conta de nós próprios.
Na Visão, que hoje saiu à rua, escrevo de novo sobre a União Europeia.
O objectivo é o de ultrapassar as ideias feitas e superficiais, que aparecem na nossa comunicação social. Procuro abrir uma reflexão mais séria sobre as contradições actuais do projecto europeu. Um projecto que sofre das diferenças existentes entre os níveis de desenvolvimento dos estados membros e da capacidade de cada um em responder aos desafios da globalização. Sem contar que as mutações sociais são sentidas de modo diferente em cada país - a emigração é uma dessas mutações - e provocam, por isso, reacções distintas e respostas díspares.
A verdade é, também, que a Comissão Europeia não tem sabido desempenhar o papel de coordenação que lhe cabe. Temos uma Comissão que se habituou a ter medo de certos líderes nacionais. Fraca perante os fortes, forte perante os fracos. Assim é a liderança de Bruxelas.
Espero que se entenda que apontar o dedo a Ângela Merkel ou aos finlandeses não é suficiente para entender a crise actual.
Viajo frequentemente em companhias semelhantes à TAP. Na maior parte das vezes noto duas coisas: primeiro, que o pessoal de cabine dessas companhias é, em média, menos numeroso que no caso da TAP; em segundo lugar, que têm, em geral, uma atitude mais profissional, com um grau de empenho mais notório, mais passagens na cabine e maior sentido de serviço.
Isto em classe económica.
Na secção executiva, surge uma outra diferença. O pessoal da TAP tem uma atitude mais subserviente do que os seus colegas de outras companhias. Não convém confundir subserviência com atenção ao passageiro e qualidade. É a vénia perante os que parecem ter algum poder, uma vénia bem portuguesa.
O anúncio hoje de 10 dias de greve em Junho e Julho vem lembrar-nos uma outra característica da TAP: a irresponsabilidade dos seus dirigentes sindicais. Uma greve dessa amplitude, decidida por se ter retirado um membro do pessoal de cabine por voo, é um atentado contra a sobrevivência da companhia e um golpe muito sério na credibilidade internacional de Portugal, numa altura de crise profunda.