Rajoy, Soares e a senhora que comprou metros de seda
Ao fim da tarde, visita da unidade integrada de produção de seda de Siem Reap. O projecto cultiva as amoreiras que irão dar as folhas para a alimentação das lagartas, produz e cria os bichinhos, transforma os casulos, e acaba com a tecelagem e venda de produtos de alta qualidade, bem desenhado, para um mercado exigente e com poder de compra.
Na loja da empresa encontrei um grupo de espanhóis. Uma das mulheres comprou oito metros de tecido de seda, a 22 dólares o metro. Percebeu que era uma boa compra. Com toda a razão, aliás.
Hesitei e acabei por não lhe dizer que a achava mais inteligente que o seu primeiro-ministro, Mariano Rajoy e todos os que pensam, incluindo Mário Soares, que o governo espanhol tomou uma boa decisão, ao tentar impor um nível de dívida pública, para este ano, superior ao que tinha sido combinado com os parceiros europeus. Acredito que Rajoy tivesse chegado à conclusão que o nível anteriormente aceite não era factível. Mas tentar impor um nível mais alto sem negociações prévias, o que Soares chamou no seu texto de ontem no DN "um acto patriótico" e que eu considero uma "tonteria", foi um erro muito grave. Hoje a Espanha está numa situação financeira mais precária do que a Itália, pela primeira vez. Mais perto da bancarrota.
Tudo isto fez-me pensar que Mariano Rajoy, Mário Soares e outros em Portugal não têm ideia nenhuma de como funcionam os mercados internacionais e do que significa viver numa economia global. O que se passa hoje em Portugal, por exemplo, tem as suas raízes na incapacidade dos nossos vários primeiros-ministros dos últimos vinte e tal anos, pelo menos. Sócrates foi apenas mais um patego numa cadeia que vinha de trás.
A senhora espanhola que comprou aquela seda toda talvez também o não entenda, mas sabe ver um bom negócio, quando tal lhe aparece pela frente.