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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Rajoy, Soares e a senhora que comprou metros de seda

Ao fim da tarde, visita da unidade integrada de produção de seda de Siem Reap. O projecto cultiva as amoreiras que irão dar as folhas para a alimentação das lagartas, produz e cria os bichinhos, transforma os casulos, e acaba com a tecelagem e venda de produtos de alta qualidade, bem desenhado, para um mercado exigente e com poder de compra.

 

Na loja da empresa encontrei um grupo de espanhóis. Uma das mulheres comprou oito metros de tecido de seda, a 22 dólares o metro. Percebeu que era uma boa compra. Com toda a razão, aliás.

 

Hesitei e acabei por não lhe dizer que a achava mais inteligente que o seu primeiro-ministro, Mariano Rajoy e todos os que pensam, incluindo Mário Soares, que o governo espanhol tomou uma boa decisão, ao tentar impor um nível de dívida pública, para este ano, superior ao que tinha sido combinado com os parceiros europeus. Acredito que Rajoy tivesse chegado à conclusão que o nível anteriormente aceite não era factível. Mas tentar impor um nível mais alto sem negociações prévias, o que Soares chamou no seu texto de ontem no DN "um acto patriótico" e que eu considero uma "tonteria", foi um erro muito grave. Hoje a Espanha está numa situação financeira mais precária do que a Itália, pela primeira vez. Mais perto da bancarrota.

 

Tudo isto fez-me pensar que Mariano Rajoy, Mário Soares e outros em Portugal não têm ideia nenhuma de como funcionam os mercados internacionais e do que significa viver numa economia global. O que se passa hoje em Portugal, por exemplo, tem as suas raízes na incapacidade dos nossos vários primeiros-ministros dos últimos vinte e tal anos, pelo menos. Sócrates foi apenas mais um patego numa cadeia que vinha de trás.

 

A senhora espanhola que comprou aquela seda toda talvez também o não entenda, mas sabe ver um bom negócio, quando tal lhe aparece pela frente.

Que calor!

Andar em Siem Reap hoje era como deambular dentro de um forno bem quente. Um assadeiro com turistas, japoneses, coreanos, chineses, vietnamitas, e vários tipos de ocidentais por toda a parte, a percorrer os templos aos magotes e a deitar os bofes pela boca. Mas vale a pena sofrer, que os templos são magníficos. Além disso, ensinam-nos uma série de lições, nomeadamente, que em matéria de religiões, a tolerância é o segredo da paz. No mesmo edifício, há lugar para as religiões importadas da Índia e para o budismo, lado a lado. Os crentes, pelo sim pelo não, respeitam todas. No fundo, não sabem bem para que santo se devem virar, sendo a preocupação mais evidente a de salvar a própria pele. Ao deixar os outros em paz, esperamos que eles não se lembrem de nós. A vida é dura, uma luta quotidiana. Com um Sol abrasador, nesta altura do ano.

O autocarro fluvial

Sete horas e picos de barco, para chegar a Siem Reap. Foi um navegar pelos meandros da zona pantanosa do Norte, num barco de doze passageiros, há sempre lugar para mais um e uma carrada de sacos, distribuindo passageiros aqui e acolá, que o barco é como a mala-posta, é o meio de locomoção destas gentes de beira-rio, o autocarro dos rios, apanhando outros mais à frente, incluindo uma mulher muito velha, cabeça rapada, que é o hábito budista que mostra que a mulher de idade já se preparou para a morte, velha, sim, mas cheia de genica e com excesso de bagagem, enfim, depois de muito navegar, de muito cheiro típico do rio, que o rio é a casa para milhares de famílias, que vivem em aldeias flutuantes, conseguimos chegar a Siem Reap, a terra dos templos e dos milhões de turistas, a grande atracção deste país.

 

 

O comboio que não apita três vezes

Fim do dia no norte do Camboja, a terminar com uma viagem pelos arrozais, num "trem de bambu". É assim que lhe chamam. Caso único, invenção da juventude local. Uma pequena plataforma, não mais do que o espaço para quatro ou cinco passageiros, incluindo o "maquinista", feita de canas e assente em dois eixos que em tempos de outrora devem ter servido para fazer circular uma vagoneta. Todos sentados no estrado, agarrados ao vazio, que a coisa anda depressa e os carris já há anos que não eram utilizados e estão, por isso, ligeiramente desalinhados, no seu enfiamento. E um motor atarraxado à plataforma, uma coisa de fabrico chinês, feito para empurrar tudo o que tenha rodas. Cada vez que as rodas de ferro batem no desalinhamento dos carris, os passageiros ouvem um barulho grave, saltam no estrado, imaginam-se a aterrar nos campos de arroz e ficam surpreendidos por a coisa andar e bem.

 

O problema é quando uma dessas plataformas vem, no mesmo carril, em sentido inverso. O protocolo local, regras são regras, manda descer os que estão no "trem" com menos passageiros. Depois, os dois maquinistas tiram essa plataforma da linha, mais os eixos, deixam passar o outro "trem", voltam a montar o que saíra dos carris e a aventura continua.

 

Dizem que este modo de vida está ameaçado. A linha vai ser refeita, modernizada, e os verdadeiros trens de longo curso voltarão a ocupar o espaço que deixaram vazio há mais de trinta anos. Só espero que os jovens inventores de hoje possam ser os maquinistas a sério dos comboios de amanhã.

Os espíritos do bem

Segundo dia em Phnom Penh. Visita dos mercados. Apinhados, gente a vender por todos os cantos, são oceanos de objectos falsificados, incluindo a água engarrafada, e milhares de outras bugigangas. A carne e o peixe estão por ali, tudo com um aspecto capaz de tirar o apetite a um leão esfomeado. Felizmente que, com o calor que faz e a comida fresca à temperatura natural, que não existem frigoríficos nos mercados, ainda é possível apertar mais um furo no cinto que comprei no Verão passado em Toledo. Mas será o último, antes de uma nova ida ao sapateiro, para que me abra uma nova perspectiva.

 

À tarde, visita do Palácio Real, 12 milhões de dólares de bilhetes de entrada por ano, tudo muito cuidado, jardins lindos. Ao lado, na mesma propriedade, a grande pagoda budista, que depois de se honrar uma tradição brâmane, tem que se ter em conta o budismo. E cerca da pagoda, há duas cavernas com os génios animistas, que isto de respeitar dois sem três não lembra a ninguém. Um visita espiritual, por isso.

 

O fim do dia foi a navegar no Mekong, na confluência desse com o rio Tonle Sap, junção que define a localização de Phnom Penh.

 

Jantar à beira-rio, tranquilo.

 

E circular à noite, de volta ao hotel, é novamente um encanto, ao ver passar a juventude de mota, as raparigas tão ousadas quanto os rapazes mais ousados, as famílias, com as crianças empoleiradas em cima do motor ou agarradas ao porta-bagagens, todos a passarem rentes ao meu veículo, mas sem bater. Deve ser um milagre, provavelmente por intercessão dos génios ou dos antepassados de todos nós, cuja missão fundamental, lá onde estão agora, é velar pela boa circulação das motorizadas desta cidade.

O rodopiar das motas

Cheguei esta manhã às margens do Mekong. O voo Bruxelas- Bangkok estava pelas costuras. O avião, um enorme 777, transportava imensos turistas belgas, que vinham passar uma semana ou pouco mais longe dos céus cinzentos da Bélgica. Impressionante, sobretudo numa altura de crise económica. O taxista que levara para o aeroporto de Bruxelas resumiu bem o clima actual: 12 horas de trabalho diário, nas ruas da capital da Europa, para levar 1600-1700 euros para casa, ao fim do mês. Um valor baixo, numa cidade cara como Bruxelas.

 

Fiquei novamente com a impressão que vivemos, na Europa, em cada país, em círculos diferentes. Os que estão fora da crise e os que estão dentro.

 

De Bangkok para Phnom Penh, um avião mais pequeno, um 737, mas tão cheio como o primeiro. Turistas, muitos deles australianos, e outros passageiros, sobretudo comerciantes. O Camboja tornou-se, nos últimos anos, uma atracção turística: uma parte da actividade económica tem que ver com os serviços  prestados aos turistas. É, igualmente, um grande mercado para os artigos chineses, coreanos e japoneses.

 

As primeiras impressões são de que se trata de um país cheio de dinamismo, mas muito ingrato para com os mais fracos. O estado diz claramente que não tem meios e que por isso cada um tem que se desenrascar. Os salários são baixos, mas isso não impede que as ruas estejam cheias de motas de todo o tipo, o meio de transporte por excelência. Os motociclistas aparecem aos magotes. Atravessar a rua é uma aventura.

 

 

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