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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Deixar passar a enxurrada grega

Acabo de ver a entrevista que o ministro das finanças grego deu à BBC ontem ao fim do dia, depois dos mal-entendidos durante a conferência de imprensa com o presidente do Eurogrupo. O ministro diz que, afinal, está disposto para discutir com a troika, mas não quer a continuação do programa actual. Declara, igualmente, que é a favor das privatizações, incluindo a do porto de Pireus. Mas terão que ser feitas de outro modo. E assim sucessivamente. A entrevista é como pôr água na fervura, uma tentativa de acalmar os ânimos.

Acho bem. Tem havido muito ruído à volta da Grécia. É altura de serenar e de pensar a sério nos problemas – imensos – que o novo governo terá que enfrentar. Sem tempo para grandes folgas, que a situação é urgente.

E do outro lado, no resto da Europa, convirá igualmente deixar correr a enxurrada. Nunca é bom intervir quando a torrente está no seu máximo. Só complica. Até porque este lado tem o tempo a seu favor. O que é, nestes dias que correm, um luxo.

Mugabe à cabeça da União Africana

Robert Mugabe foi hoje eleito presidente da União Africana (UA). Trata-se da rotação habitual, à cabeça da UA, um mandato por um ano.

Só que Mugabe não é um caso rotineiro. Para além da imagem que tem, fora e dentro de África, a velha raposa que ele é vai aproveitar ao máximo as oportunidades que a chefia honorífica da UA proporciona, para fazer das suas. Como sempre, irá dar que falar. Infelizmente, ao fazê-lo, não estará a contribuir para o prestígio da União Africana. Contribuirá, isso sim, como de costume, para aumentar a distância entre os líderes africanos e a opinião pública ocidental.

A periferia

Transcrevo abaixo o texto que hoje publico na revista Visão.

 

Segregação, vidros partidos e cheiro a droga

            Victor Ângelo

 

 

 

            A edição mais recente do semanário Le Journal du Dimanche identifica 64 bairros franceses como sendo altamente problemáticos. Repartidos por 38 cidades, desenham uma mancha que mistura exclusão e violência. São bairros em que a média dos rendimentos declarados é baixa; a taxa de desemprego é elevada – 23%, quando a média nacional se situa nos 9,7%; e o desemprego dos jovens de menos de 25 anos ronda os 45%. Mais ainda: uma boa parte dos seus residentes é de origem estrangeira e uma proporção significativa das famílias é monoparental, desestruturada. Os dados mostram igualmente que a periferia de Paris forma uma constelação de aglomerados de alto risco, uma espécie de garrote pronto para asfixiar a capital.

            O estudo surgiu no seguimento de uma declaração pública de Manuel Valls, o primeiro-ministro, sobre o “apartheid territorial, social, étnico e religioso” que existiria em França. E serviu, em grande medida, para dar um conteúdo às palavras de Valls. Também não difere muito da análise feita pelos serviços nacionais de polícia, que trabalham na base do conceito de Zonas de Segurança Prioritárias. No entender da polícia, a França tem 80 áreas residenciais que devem ser objeto de uma atenção especial.

            Perante tudo isto é preciso, no entanto, uma certa prudência, em França e noutros países similares. Seria um erro amalgamar, sem melhor ponderação, imigração, etnicidade, pobreza, dificuldades de integração social, discriminação, por um lado, com focos de criminalidade ou de terrorismo, por outro. O desejo natural de cada pessoa é que tenha uma vida normal. As falhas na integração das populações estrangeiras, as dificuldades da vida e as desigualdades sociais, mesmo a marginalização racial e cultural, não são, nem só por si nem necessariamente, autoestradas para a violência. São questões políticas que exigem respostas políticas, quer ao nível local quer nacional. Respostas que deveriam começar por ser dadas nas escolas, no combate ao insucesso escolar – um problema muito sério para as crianças oriundas de famílias imigrantes –, na reforma do ensino público de modo a torná-lo mais adequado às exigências de um mundo em mutação contínua, passando igualmente pelo restabelecimento da autoridade dos professores e da disciplina nas escolas. Respostas que deveriam ser completadas pela promoção dos valores da tolerância, da aceitação da diversidade e do respeito pela dignidade e a liberdade de cada cidadão. E pela tomada de consciência dos desafios que resultam da presença nas nossas sociedades essencialmente agnósticas ou pouco praticantes de comunidades estrangeiras com uma cultura e um modo de vida muito marcados pela religião. Este é, aliás, uma contradição central de que mal se fala.

            A complexidade política não pode, no entanto, ser uma escusa. O clima de insegurança nesses bairros é inaceitável e precisa de ser resolvido com firmeza. As polícias têm que estar preparadas para o efeito e começar pelo princípio, ou seja, no viveiro e sustentáculo financeiro do resto, que é o tráfico de drogas. Tem que haver também uma maior presença nas ruas, uma ligação mais forte com os dirigentes comunitários, bem como uma admissão de agentes com raízes nos grupos sociais minoritários, sem esquecer um trabalho mais sistemático de recolha e análise da informação, incluindo a que aparece nas redes sociais. Passa igualmente por uma reestruturação das polícias, integrando serviços e unificando as cadeias de comando. Tudo isto deve ser feito com rapidez, discrição e afoiteza. Em política, oportunidade, bom senso e coragem são ingredientes indispensáveis para obter resultados.

           

           

           

Os jovens e a política

A taxa de desemprego da população belga francófona no grupo etário dos 18 aos 30 anos ronda os 18%. É, assim, mais elevado que a média nacional de 8,3%, que é a taxa geral do desemprego no país. Reflecte um problema que é comum a vários países europeus: uma economia com uma dinâmica insuficiente e que por isso tem dificuldades em proporcionar emprego aos mais jovens. Sem esquecer muito do emprego existente é de natureza precária.

Um inquérito agora divulgado diz-nos que um em cada dois desses jovens considera que o actual sistema de ensino é inadequado e não corresponde nem às necessidades do mercado do trabalho nem dá a agilidade mental que um mundo em mutação constante requer. Assim, não é de estranhar que mais de 60% dos inquiridos tenha uma visão pessimista sobre o futuro da sociedade a que pertencem. Na mesma lógica, 1/3 dos jovens sente-se depressivo ou manifesta algum grau de ansiedade psíquica.

Os dados do inquérito são um verdadeiro desafio político. O problema é que a política tradicional, tal como tem estado a ser praticada, não tem conseguido responder as estas inquietações. Há aqui espaço, por isso, para novas maneiras de fazer política. Como também há campo para as manobras dos populistas e dos irrealistas.

Desafios estratégicos

Um governo de extrema-esquerda na Europa sai dos padrões políticos habituais. Levanta, por isso, desafios significativos, em áreas consideradas de grande sensibilidade estratégica, que vão muito além da economia e das finanças públicas. Dou alguns exemplos muito concretos: a defesa comum, o fluxo de informações de segurança, o posicionamento em relação à Rússia e à crise na Ucrânia.

Tudo isto será certamente tido em conta nos próximos tempos. E irá pesar na equação relativa à negociação da dívida e no relacionamento político com esse governo.

Ninguém com responsabilidades de liderança irá tratar destas questões com uma cabeça ligeira.

A Grécia abriu um período interessante

Os resultados das eleições gregas não tiveram impacto nos mercados bolsistas europeus. Em termos da economia europeia, a Grécia tem agora um peso marginal. Já não estamos em 2011. Nessa altura, muitos dos grandes bancos privados da Europa tinham níveis de exposição elevados à dívida pública grega. As coisas mudaram.

Ao nível do impacto político, o discurso oficial foi hoje muito prudente, nas principais capitais da UE. Ninguém quer ser acusado de extremismo, perante um resultado eleitoral claro. Mas, mais, ninguém quer abrir o jogo e revelar as cartas, para já. Assim, as palavras que vão surgindo, em Bruxelas e noutras cidades, deixam a porta aberta à iniciativa do novo governo em Atenas. Ou seja, esperam que este mostre até onde quer ir. As velhas raposas europeias sabem que esconder o jogo é meio caminho andado.

Entretanto, irão surgir certas vozes inabituais ou menos conhecidas que terão como tarefa dar uma indicação do sentido que as coisas podem tomar. A Eslováquia, por exemplo, que já disse que não pode aceitar um incremento do salário mínimo na Grécia para os 700 euros, a ser pago com o dinheiro dos outros, quando os eslovacos ganham muito menos que isso.

Vai ser um período interessante. Nada está ganho à partida.

Portugal e um euro mais barato

Neste momento, os meios financeiros e de negócios com influência no centro da Europa acreditam que o euro irá continuar a perder valor em relação ao dólar americano. Um número significativo – estimado em mais de 60% dos líderes económicos europeus – acredita que o euro vai chegar a uma situação de paridade com o dólar.

Um euro mais barato traz novas oportunidades económicas para os países da moeda única. Abre, além disso, novas possibilidades de criação de emprego.

Como vai Portugal aproveitar esta nova conjuntura?

Fica aberto o debate.

Draghi é um bom exemplo

Confesso que expressei sérias dúvidas, em discussões recentes, nos primeiros dias desta semana. Não acreditava que Mario Draghi tivesse a coragem suficiente para se opor às profundas objeções das elites políticas e económicas alemãs e, por isso, acabaria por anunciar um Quantitative Easing que ficaria muito aquém das expectativas. A oposição alemã tornara-se, com o começo da contagem final antes de 22 de janeiro, muito clara e militante.

Ontem, pela manhã, ao analisar os dados então disponíveis, mudei de opinião. Pareceu-me que Draghi iria, em grande medida, ter a ousadia de lançar um programa verdadeiramente significativo. Ao fim do dia, chegaram-me umas notas que mostravam que a posição dentro do Banco Central Europeu ia no sentido de um programa de peso.

Hoje, o anúncio das modalidades e dos montantes do programa mostraram que Mario Draghi e o BCE estão à altura das suas responsabilidades. Foi uma decisão corajosa. Quem estava comigo no Luxemburgo, a assistir em directo à declaração do presidente do BCE, pensou o mesmo.

Não resolverá tudo, mas é uma contribuição fundamental para a saída da crise financeira e económica europeia. É a contribuição que cabe ao BCE, dentro do seu mandato. Agora, cabe aos outros, em Bruxelas e nas capitais, nas suas áreas de responsabilidade política e económica, mostrar que têm o mesmo calibre que Draghi revelou.

Falar sobre o emprego

No dia em que começa o encontro anual de Davos – que continua a atrair, de modo surpreendente, um bom número de poderosos actores políticos e económicos – e na véspera de uma decisão marcante que o Banco Central Europeu deverá anunciar amanhã à hora do almoço, parece-me essencial voltar a lembrar a importância das políticas que promovam o emprego e a capacidade de empreendimento dos cidadãos. Não cabe aos Estados nem aos banqueiros empregar as pessoas. Mas têm a responsabilidade de criar um quadro económico, legal e securitário que seja favorável à criação de emprego e de oportunidades.

Também me parece necessário escrever sobre o emprego numa altura em que a maioria das atenções anda concentrada em questões de segurança pública. Claro que a segurança e a ordem interna são matérias de grande relevância. Não podem, porém, ocupar todo o espaço de debate e de preocupação. As pessoas precisam de se sentir seguras, é verdade, mas também de terem acesso às oportunidades económicas que lhes permitam viver uma vida digna.

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