O novo governo grego é uma lufada de ar fresco. Verdade, as ideias diferentes têm mérito. Mas, no fundo, quem está em risco de se constipar são os gregos. Para que isso não venha a acontecer, Tsipras e a sua equipa terão que apresentar um plano de reformas estruturais que seja credível. Não pode ser uma simples criação de engenharia financeira, com uns instrumentos obrigacionistas a mudarem apenas de nome e pouco mais. É importante que o primeiro-ministro e o seu ministro das finanças o entendam. E que também compreendam que existem outros países na União europeia que têm imensos problemas de pobreza, com salários mínimos bem inferiores aos que Atenas quer voltar a impor, com muito desemprego jovem e fatias significativas da população sénior a tentar sobreviver com pensões extremamente baixas. Basta ver o que se passa na Letónia ou na Lituânia, ambos países do euro, para já não falar na Roménia ou na Bulgária, que estão na UE mas não pertencem ao eurogrupo. Esses países não piam muito. Tentam sair do subdesenvolvimento em que se encontram e, ao mesmo tempo, jogam forte e feio no seio das instituições europeias, para que as políticas que sejam adoptadas favoreçam uma boa parte dos seus interesses. Tudo isso sem grande alarido.
Existe ainda algum capital de boa vontade em relação ao governo grego. Mas se não houver nada de concreto que venha de Atenas, em termos de modernização administrativa e de apoio ao arranque económico, esse capital arrisca-se a desaparecer num ápice. Mais depressa ainda, se a retórica não for moderada.
Convém lembrar que há várias maneiras de servir os interesses do nosso país. Ser candidato, embora nesta fase, silencioso, ao lugar de Secretário-Geral da ONU é uma delas. Por isso, acho que se deve apoiar o candidato português. Que ainda por cima tem sérias hipóteses de conquistar o lugar, acrescento eu. Embora também reconheça que vai haver uma campanha muito forte, ao nível internacional, para que o próximo chefe da organização seja uma mulher.
Neste dia em que foi divulgado o vídeo dos terroristas do chamado Estado Islâmico, que na sua barbaridade sem limites resolveram queimar vivo o piloto jordano que haviam capturado nas vésperas do Natal, as palavras não chegam para expressar o horror. E para dizer, uma vez mais, que é preciso rever a estratégia de luta contra estes energúmenos. O sofrimento das populações árabes vítimas destes extremistas enraivecidos e os riscos de contágio exigem que uma resposta eficaz e enérgica. Uma resposta que terá que passar pela resolução da crise na Síria. O impasse sírio, que dura há quase três anos, demonstra, uma vez mais, que quando se deixa arrastar um conflito nacional este acaba por destruir tudo à sua volta e dar lugar a níveis de dor que ultrapassam o entendimento de quem vê a vida com os olhos de hoje e não com as ilusões e os fantasmas da Idade Média.
Na zona euro, as decisões que contam precisam do assentimento de todos os Estados membros. Esquecer isso é um erro primário. Como também me parece um erro táctico de palmatória hostilizar publicamente um dos governos membros. Sobretudo numa altura de crise e num momento em que já existe muito espaço para incompreensões.
Em diplomacia e nas relações entre os Estados, os ataques gratuitos acabam por sair caros. E saem ainda mais custosos para quem precisa do acordo dos outros como de pão para a boca.
Podemos é um movimento popular bem mais genuíno que o Syriza. Nasceu das manifestações espontâneas dos últimos dois anos.
Não é, como a contraparte grega, uma salada russa de pequenos partidos e grupos anarquistas, das mais variadas obediências.
E nisso, o Syriza parece-se mais, na sua génese, com o que está a acontecer em Portugal, em que uma salganhada de personalidades mais ou menos inexperientes e pouco convincentes anda a reunir-se e à procura de uma dinâmica política que teima em continuar nas mãos ineptas dos partidos tradicionais.
Uma vez mais, a Espanha aqui ao lado parece ser uma terra bem distante.