Privado
No bairro de Bruxelas onde me encontro não existe uma estação de correios. A que existia fechou há alguns anos. Quando preciso de mandar uma carta registada, ou de levantar uma correspondência, dirijo-me à papelaria do meu quarteirão. Para além dos jornais, revistas, jogos de sorte, e outras coisas habituais num comércio do género, o dono da loja, que é um imigrante de origem norte-africana, presta os serviços básicos de um posto de correios. É, igualmente, o olho atento que zela pela integridade do marco postal, que se situa a meio do estabelecimento.
Dizia-me, outro dia, que a prestação deste serviço significa mais uma entrada de dinheiros, sem esquecer que quem vem levantar uma encomenda sempre pode acabar por jogar na lotaria ou ser tentado por uma capa de revista.
Os utentes habituaram-se à ideia da livraria que também é caixa de correios. Aceitaram a privatização de um serviço que parecia estar destinado a ser, para sempre, do domínio público.
Há dias fui, no entanto, surpreendido com outra privatização. Ia no comboio para Londres, quando apareceu um revisor para controlar os bilhetes. Estávamos entre Lille e Calais, ainda em França. Para minha surpresa, notei que o homem não era funcionário dos caminhos-de-ferro. Era agente de segurança, vigilante, assim se diz, empregado por uma multinacional conhecida na área da segurança. Aparentemente, a tarefa de controlo das passagens tinha sido privatizada e adjudicada a uma empresa de segurança.
Fiquei a pensar que qualquer dia apenas o trem será pertença dos caminhos-de-ferro. O resto será por subcontratação.