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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Uma vila alentejana

Estive hoje numa loja de roupa, um pronto-a-vestir para ambos os sexos, na rua de Ferreira do Alentejo que mais comércios tem. A proprietária disse-me que está há 49 anos atrás do balcão, uma vida a vender modas e a elegância possível. E continua, passadas tantas décadas, com o mesmo entusiasmo e a mesma simpatia, embora as pernas já não aguentem o que costumavam aguentar em anos e anos passados.

Estas terras do interior são feitas de gentes assim. Pessoas que não desistem e apenas pedem à vida saúde e forças para continuar. E que as burocracias as deixem em paz.

Mas a idade avança e as novas gerações já não se contentam com um futuro assim. Por isso, com o tempo, as vilas têm cada vez menos estabelecimentos comerciais. E um ou outro que se safa do envelhecimento acaba por ser aberto por uma nova categoria de pessoas, os imigrantes recentes. Assim acontece umas portas mais à frente, com um comércio agora gerido por gente mais jovem vinda do Brasil, ou do outro lado da rua, onde o barbeiro abriu uma loja que fala as línguas da Índia distante.

Assim se transforma uma parte da paisagem humana no interior do Alentejo.

  

O tempo das cerejas

O tempo das cerejas está a chegar ao Alentejo. E as caixas das ditas são todas de origem espanhola. Vendidas à beira das estradas, por particulares que enchem carrinhas com a mercadoria, não deu para perguntar qual é o circuito de comercialização que é seguido. Tudo parece seguir rotas informais. Só sei que 10 euros permitem levar dois quilos para casa. 

Uma aposta muito séria

Haverá ou não acordo um comercial de longo alcance entre a União Europeia e o Reino Unido, que regule as relações entre as partes a partir de 1 de janeiro de 2021?

 Neste momento, a um mês do término do acordo Brexit de transição, é impossível responder a esta questão. Mas tendo em conta o que está em jogo, em termos de interesses económicos e de relações de boa vizinhança, a minha aposta é que se chegará, em cima da meta, a um acordo.

 Veremos se tenho razão. A ausência de preparativos de emergência, por parte de Bruxelas, de acções que permitissem uma resposta a uma ruptura das relações, convencem-me que estou a fazer uma boa aposta. Haverá acordo.  

As ruas da Ajuda

O velho bairro da Ajuda, junto ao mercado do mesmo nome, nesta parte ocidental de Lisboa, é como uma aldeia dentro da cidade grande. Há de tudo, incluindo gente com poucos meios, a viver em alojamentos minúsculos e que tem a rua como sala de estar. Muitas destas pessoas têm já uma idade avançada, mas continuam a mexer-se, que a vida de quem é pobre não dá para grandes descansos. Existe toda uma série de comércios à antiga, desde o vendedor de passarinhos que cantam a alegria da vida, apesar das gaiolas em que vivem, ao comerciante de trapos e trapinhos. Também há a loja dos telemóveis, com um sikh indiano ao balcão, um estranho que se refugiou neste canto de transição para um futuro melhor.

Hoje visitei a senhora da ourivesaria, por causa de uma questão de relógios. Não sei que idade tem, mas dou-lhe, sem favor algum, que ela não precisa da minha bondade, mais de 85 anos. Disse-me que o artesão relojoeiro a quem ela dá as tarefas mais complicadas tem setenta e tal anos. E quando ele parar, para o negócio. Não há uma nova geração de artesãos a vir por aí acima. Ainda me disse que na Casa Pia há uma formação desse tipo, mas é só canudo. Quem de lá sai, nada tem como experiência do assunto e acaba fazendo outras coisas.

Para mim, isto foi apenas uma ilustração do que será o futuro próximo do bairro. Ofícios que desaparecem, com o andar dos tempos. Até a arte de vender frutas e legumes no mercado ao lado tem cada vez menos praticantes. Uma boa parte das bancadas estão abandonadas.

O que fecha, já não abre. O pouco que ainda vai abrindo são cabeleireiros de senhoras e uma ou outra loja chinesa ou de telemóveis. Compra-se hoje, barato, para deitar fora dentro de dias, quando deixar de funcionar. Mas anda-se com o cabelo arranjado, pois aqui a elegância consegue-se por um preço em conta.

 

Lutar contra os sentimentos racistas

Não podemos cair no racismo primário que alguns querem fomentar contra os chineses. A comunidade chinesa desempenha, no nosso país, como em muitos outros, um papel económico muito útil. Para aqueles de nós que não têm um grande poder de compra, as lojas que os imigrantes chineses abriram um pouco por toda a parte vendem artigos a preços acessíveis. Nalguns casos, são verdadeiros supermercados de todo o tipo de utilidades. Os seus donos são pessoas que não levantam ondas, que procuram um mínimo de integração nas localidades onde estão estabelecidos. Vi isso em várias vilas alentejanas, para não falar apenas das grandes cidades. Assim, não há razão para os ataques que vão aparecendo nas redes sociais nem para a disseminação de apelos grosseiros de boicote a essa comunidade. Espero que os meus amigos contribuam para evitar esse vírus que é a xenofobia.

 

Trabalhar desde já na retoma económica

Uma preocupação maior é a de salvaguardar o sistema económico nacional. Não podemos permitir que o confinamento, a suspensão de certas actividades, o trabalho ao ralenti, a crise epidémica, provoquem a destruição de tecido produtivo. Este tem que manter a capacidade necessária para arrancar de novo, uma vez passado o período crítico. Para que assim aconteça, será necessário continuar a injectar recursos nas empresas afectadas, de modo a que estas possam manter a ligação com os seus trabalhadores e um mínimo de actividade a partir da qual se fará a retoma.

Tendo presente o que outros estão a fazer, como por exemplo a Dinamarca, e as estimativas de custo conhecidas, estaríamos a falar, no caso português, de uma injecção financeira da ordem dos 20 mil milhões de euros, a repartir pelos próximos quatro meses. Esse montante permitiria pagar uma boa parte dos salários dos trabalhadores das empresas agora fechadas, manter as infra-estruturas operacionais e evitar o colapso em dominó do tecido económico. O Banco Central Europeu deveria ser a principal fonte desse financiamento.

O problema mais difícil de resolver é o da enorme dependência da nossa economia em relação ao turismo. A recuperação das viagens de lazer vai demorar algum tempo. O verão de 2020 parece estar agora muito comprometido. Não será fácil atrair grandes números de turistas enquanto durar a crise de saúde pública e na fase de recuperação económica nos nossos mercados de turismo. Mas isso não quer dizer que se baixem os braços. Tem que se fazer tudo o que for possível para que o sector reviva tão rapidamente quanto é desejável.

Quem manda deveria apresentar nos próximos dias um plano de recuperação da economia. Não se pode esperar por Junho ou Julho para lançar as bases do restabelecimento da vida produtiva.

O Menino Jesus envelheceu

Por esse mundo fora, o Pai Natal roubou o protagonismo ao Menino Jesus. É Pai Natal para aqui, Pai Natal para acolá, do Oriente ao Ocidente, do Norte ao Sul. O centro comercial substituiu a cabana da vaquinha e do burrito, o centro comercial é o novo Presépio. São os tempos modernos, a era do marketing, do consumo e da ostentação, os novos símbolos da vida de agora.

O Menino Jesus transformou-se, com o tempo, num velho de barbas brancas, estranhamente vestido de vermelho, com um grande saco de mercadorias feitas na China às costas.

Haja festa, pois então. E um feliz Natal.

 

O Mercado da Ajuda

Fui hoje ao mercado da Ajuda, aqui em Lisboa, a dois ou três passos do sítio onde moro.


Vou lá de vez em quando. Hoje notei que várias das bancas estão livres, abandonadas, por já não haver quem esteja interessado no seu aluguer. Estimo que cerca de metade do mercado esteja nesse estado, como se fosse um projecto em vias de desaparecimento. Há menos vendedores e a clientela é relativamente idosa e com pouco poder de compra.


E também há, nas redondezas, uma proliferação de pequenos supermercados, que ajudam a dar uns tiros na sobrevivência do mercado tradicional.

Sobre a Europa e os EUA

A negociação de um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos está emperrada. Para começar, as filosofias económicas dos dois blocos são muito distintas. Do lado europeu, o peso do Estado e do sector público é elevado. As empresas estão muito dependentes da intervenção do Estado nos mercados, como agente económico e cliente, como regulador e fiscal permanente. Os cidadãos, por seu turno, preferem a certeza do emprego, a estabilidade e a previsibilidade, às eventuais recompensas que a concorrência e os ajustamentos frequentes lhes possam trazer.  Temos a chamada economia social à ultraliberal que se pratica nos EUA. Mais terra a terra, existe um mundo de diferença entre a indústria agroalimentar que se pratica do outro lado do Atlântico, muito à base das mudanças genéticas dos produtos, e a que prevalece na Europa. E há grandes diferenças em muitos outros sectores, como por exemplo o automóvel ou o sector da energia. Existe, além disso, um bom nível de nacionalismo económico, de ambos os lados do oceano. A saga da multa que os EUA têm a intenção de impor ao banco francês BNP Paribas – fala-se numa multa à volta de 10 mil milhões de dólares – veio mostrar, para quem precisava de ter exemplos concretos, o estado de espírito que reina nos EUA em relação às grandes empresas europeias. Mas por cá, acontece o mesmo, embora de modo mais moderado. Ainda recentemente se falava em Paris e em Bruxelas no que seriam as áreas estratégicas, que deveriam ser salvaguardadas do controlo por investidores estrangeiros. A lista era, acima de tudo, um acto de fé patriótica. Tinha pouco e estava longe de ser um registo do que deveria ser verdadeiramente essencial para a sobrevivência e a continuidade de cada país europeu e do espaço comum. Era, aliás, mais nacional, Estado a Estado, que europeia.

 

Tudo isto mostra que estamos muito longe não só de uma Europa mais integrada como também de um relacionamento económico com os EUA que seja vantajoso para ambos os lados. Deve-se, por isso, abandonar a negociação com os americanos e tentar, primeiro, pôr a casa europeia em ordem? Não creio. Há que continuar ambos os projectos. E ter muita paciência. Ter paciência não quer dizer, no entanto, que não se continue a fazer pressão.

 

 

 

Vinho quente

Passei a manhã em Malines, a cerca de 25 quilómetros de Bruxelas. Sair da capital em direcção ao país flamengo é como ir ao estrangeiro. Tudo é muito diferente. Há mais infra-estruturas, mais cuidado com o que é público, mais atenção à beleza das coisas, mais orgulho nas tradições.

 

Em Malines, uma boa parte da população estava na praça principal, para ouvir música e partilhar uns copos de vinho aquecido, quente, mesmo. Esta bebida, amigos, é uma coisa intragável, que o pessoal daqui gosta de saborear. Cai bem na altura do frio. 

 

Pensei, talvez fosse um bom negócio promover o vinho português quando se trata deste tipo de acontecimentos. Temos vinho de boa qualidade. Só não temos é quem o promova. Receio que os delegados comerciais da AICEP não conheçam a Bélgica para além do bairro diplomático e do cento de Bruxelas. 

 

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