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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

A meio de Agosto

Estamos em meados de Agosto. Este é o fim de semana que mais sabe a férias, a praia ou campo. Escrever sobre coisas sérias – ou fazer greve – nesta altura do ano, é tempo perdido. As preocupações são outras. Mesmo para quem não tem a possibilidade de ir para fora, a cidade fala-nos de férias, das dos outros, das ruas mais calmas, dos inúmeros grupos de turistas, dos dias quentes.

Não é que o mundo pare. Mas, a nossa atenção anda por outras paragens.

Com os miolos em roda livre

Ninguém fala nas implicações estratégicas de um greve que tem que ver com a disponibilidade de combustíveis. Fico com a impressão que já não está na moda falar em termos de interesse nacional. É tudo reduzido a interesses específicos e a oportunidades para fazer política partidária, para atacar à esquerda e à direita. E para pôr em causa a autoridade legítima do Estado. Não andaremos um pouco confusos dos miolos?

Conversa política com o gato

Não sei se já tentou explicar ao seu gato que, num Estado democrático e com um governo constitucionalmente legitimo, é essencial reconhecer a autoridade do governo. Claro que não é fácil convencer o bicho, mas há que insistir, repetir e não perder a paciência. Se o seu gato lhe falar do 25 de Abril e da liberdade, diga que sim. São aspectos determinantes da nossa vida. Mas repita que sem um Estado forte, a agir dentro da lei, não há sociedade que se entenda nem respeito pelos interesses de todos, que são mais importantes que os interesses específicos do seu gato e dos seus companheiros de goteira.

Caso não tenha gato, experimente falar com um pássaro, um pardal, por exemplo. Há muitos, por aí.

 

Governar de modo moderno

Depois de uma muito prolongada greve e de um acordo estranho, conseguido na sexta-feira e tratado de modo superficial e ingénuo pela nossa comunicação social, que não dá para entender bem este enredo mal contado, caberia agora ao governo ordenar a efectivação de um estudo independente sobre o funcionamento dos principais portos comerciais da parte continental de Portugal.

Esse tipo de análises é prática corrente noutros países desenvolvidos. São normalmente encomendadas a centros de estudos universitários ou a grupos de personalidades de reconhecido prestígio e independência, gente sénior e sem ambições de carreira ou enfeudamentos partidários. Permitem fazer um diagnóstico do sector e propor um conjunto de melhorias que serão, depois, submetidas à decisão política.

Os portos constituem uma componente estratégica da economia nacional. Sobretudo no nosso caso, em que uma das apostas do futuro deveria passar pelo bom funcionamento das infra-estruturas portuárias.

A França nas ruas

Dizem-me que a comunicação social portuguesa destinada ao cidadão comum não tem prestado grande atenção à enorme e caótica agitação social que se vive actualmente em França. Assim, poucos terão uma ideia, mesmo aproximada que seja, das razões que estão na base das muitas greves, bloqueios, manifestações de rua, e alguma violência, que têm ocorrido nos dias que passam.

A título de exemplo, refira-se que mais de 20% das estações de serviço estão secas, sem combustível, e as que o têm só permitem um abastecimento reduzido. Por outro lado, o fornecimento do carburante destinado aos aviões vai começar a ser racionado este fim-de-semana e as centrais eléctricas só trabalham parcialmente. Nos próximos dias deverá ter lugar uma paralisação dos transportes aéreos, de 3 a 5 de Junho, e assim por diante. Tudo isto acontece nas antevésperas do Euro de futebol, que começa dentro de duas semanas.

A causa imediata destas vagas de manifestações tem que ver com uma nova lei do trabalho, que ainda está na fase de aprovação, mas que deverá ser imposta com base num artigo da Constituição que permite a aprovação de leis, em condições excepcionais, por decisão expressa do governo. Se fosse votada na Assembleia Nacional em condições normais, a lei não passaria. A nova legislação introduz, ao nível das empresas, uma grande flexibilidade negocial, que colocará muitos contractos de trabalho fora das regras colectivas que possam ter sido negociadas pelos sindicatos ao nível do sector de actividade económica. Em grande medida, o conselho de trabalhadores de empresa passará a ter poderes que acabarão por enfraquecer as organizações sindicais.

Existem, no entanto, causas mais profundas. De ordem política, de natureza sindical, com a Confederação Geral dos Trabalhadores a perder influência à medida que o tempo passa, bem como causas económicas e sociais. A reflexão sobre essas causas que vão além do imediato parece-me fundamental. Tem que ser feita. Para mais, ajudar-nos-á a entender melhor o que nos espera, também a nós, numa Europa cada vez mais integrada na competição global.

 

 

 

A TAP precisa de voltar ao bom senso

A decisão que os pilotos da TAP acabaram de tomar – dez dias de greve – é um erro de grandes proporções. Prejudica o futuro da companhia, que já está profundamente endividada, afasta potenciais investidores que ainda poderiam estar interessados na privatização da empresa, e tem um enorme impacto sobre o sector do turismo e do comércio a ele associado.

Espero que entretanto haja um regresso ao bom senso e que o anúncio de greve seja anulado.

De Bruxelas e de Lisboa

O centro de Bruxelas, várias ruas e galerias comerciais, não apenas a Grand´Place, estava apinhado de gente hoje ao fim da tarde. O último passeio de domingo, nas vésperas da passagem do ano. Havia gente de todo o tipo e origens, muitos com as marcas que definem os turistas.

 

Até o tempo estava ameno.

 

Havia descontração. Cada um, cada família, cada par de namorados, cada grupo de jovens, aproveitava as luzes da cidade e as decorações de fim de ano como muito bem entendia.

 

Pensei que a tranquilidade é um ingrediente fundamental do bem-estar.

 

Depois, voltei para casa. E vi as imagens de Lisboa. Do lixo por recolher. E outras, que a cidade está triste, insegura e agitada. Comparar não é boa ideia. Mas há coisas que são mais fortes que o querer. Que dão para pensar.

 

Lisboa está a tornar-se numa cidade em que os pombos voam baixinho e os corvos se sentem bem.

Avaliações

A prova de avaliação que o governo quer impor aos professores que ainda não pertencem ao quadro das escolas estão marcadas para 18 de novembro. A classe professoral está contra essa medida e resolveu decretar uma greve geral e mais outras manifestações de desagrado.

 

Não me cabe fazer aqui um comentário sobre o assunto. Quero, no entanto, contar o que me aconteceu há uns anos e que tem, no fundo, algo de semelhante.

 

Em 2002, estava colocado no Zimbabué como representante da ONU. Tinha uma pasta bastante complexa, que misturava desenvolvimento, coordenação humanitária e responsabilidades políticas. Era, nessa altura, um dos representantes com mais experiência e senioridade, com competência demonstrada em vários sítios enquanto chefe de missão. Tinha, como poucos, um vínculo permanente com a organização. Isso não impediu Nova Iorque de me aplicar uma regra que havia sido iniciada uns anos antes – eu havia sido um dos promotores desse princípio, mas que na altura só se aplicava aos novos representantes. A regra era simples. Tinha que passar por um exame de avaliação, como todos os outros o já haviam feito.

 

Protestei, fiz valer os meus galões de D2 (director sénior). Em vão. Lembraram-me que eu era dos raros que ainda não haviam passado por esse teste e que tinha que o fazer, sem mais discussão.

 

E lá foi marcada a coisa. Só que o teste era um teste a sério, feito por uma empresa do Canadá. Passava-se em Londres e decorria de um domingo à tarde até quinta-feira ao fim do dia. Era um exercício complicado, que misturava jogos de liderança com análises de casos concretos, simulações de entrevistas na televisão com um profissional da matéria, e duas ou três apresentações públicas.

 

Perguntei o que me aconteceria se não tivesse sucesso no teste, no entender da empresa que me avaliava. A resposta foi clara: a sua carreira de representante da ONU termina aí!

 

Assim mesmo!

E mais. Havia dois ou três escalões de classificação positiva e, em virtude do meu nível, teria que ficar no primeiro. Essa era a única expectativa possível.

 

Devo confessar que o teste foi extremamente difícil. Cheguei a Londres no domingo de madrugada, depois de uma noite a voar de Harare para o destino. Como o primeiro briefing do teste só tinha lugar às 17:00 horas, resolvi aproveitar a manhã e o começo da tarde para ir visitar a minha filha mais nova, que estudava então na Universidade de Bath. Quando voltei, tinha à minha espera a primeira etapa: ler cerca de 200 páginas de documentos confusos e intragáveis, para poder responder, ao começo da manhã seguinte, por escrito, a três ou quatro questões de fundo.

 

Passei o serão e uma boa parte da noite de volta dos papéis.

 

No final, depois de bem avaliado pelo júri, disseram-me que afinal eu entrava no primeiro escalão dos competentes. Que alívio! E que surpresa, acrescentei eu, pois há cerca de uma década e meia que eu, na prática, já estava entre os mais conceituados.

 

Atenção: dos quatro colegas do meu grupo, dois não passaram.

 

É que isto das avaliações tem que se lhe diga.

Fora de jogo

Um leitor amigo diz-me que é preciso manter o optimismo. Creio que tem razão. É preciso acreditar que o futuro será melhor que o presente.

 

Mas não é fácil. O presente está um caos.

 

Ainda hoje lia na imprensa diária que os prédios da Avenida de Roma e da João XXI estão a ser sistematicamente assaltados, para roubar os metais das entradas e os candeeiros e lâmpadas dos corredores. E alguém me dizia que na Barra Cheia, na zona rural da Moita, as casas sem gente durante o dia são alvos sistemáticos dos gatunos. Segundo parece, até os umbrais das janelas levam.  E agora, um conhecido telefona-me para dizer que ontem parou no centro do Porto Covo, uns quinze minutos, o tempo que demorou a tomar um café. Ao voltar ao carro, tinha o vidro partido e a viatura arrombada.

 

Isto para mencionar coisas que tocam de muito perto ao cidadão comum.

 

Também é verdade que muitos dos cidadãos comuns estão sem emprego. Isto talvez explique uma parte importante da coisa. Mas será explicação suficiente?

 

Quem me ler vai pensar que esta divagação pelas questões da segurança quotidiana está fora da agenda, num dia em que a notícia foi a greve dos professores. Porém, sobre esse assunto já se escreveu muito. Incluindo sobre o medo de perder o emprego, um receio cada vez mais frequente, e que certamente esteve na mente dos muitos que hoje “faltaram à escola”.

 

Um exercício de cidadania

Vejo o encontro que Mário Soares organizou ontem em Lisboa como um exercício do direito à indignação, perante a situação política actual. Teve o mérito de reunir personalidades de vários matizes políticos, que partilham um ponto de vista: a oposição às medidas orçamentais que estão a ser aplicadas pelo governo, com o apoio dos principais credores externos do nosso país. Foi igualmente um momento de reconhecimento em relação a Mário Soares, quer em relação ao conjunto da sua vida política quer ainda ao facto de que, com a idade que tem, continua a batalhar pelas causas que lhe parecem justas.

 

Dizem-me que as intervenções foram vagas, mais retórica do que substância, mais emoção do que propostas concretas. E que os partidos políticos viram a coisa como uma espécie de grande missa, a que seria mal visto faltar, mas sem qualquer tipo de consequências práticas.

 

Talvez. Mas, para mim, foi um acto de cidadania. Certamente muito preferível, diga-se claramente, às greves políticas que põem à prova o que resta da economia. 

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