O meu escrito de ontem despertou muita atenção e vários comentários. Neste blog, não há censura e cada um pode comentar como entender. É, no entanto, fundamental que cada opinião seja expressa para discutir ideias e não para chamar nomes aos outros ou insultar seja quem for. Os insultos só mostram falta de nível e de argumentos. Quem quiser utilizar essa técnica pode comentar o que Donald Trump escreve, pois o antigo Presidente sempre foi um especialista na utilização de expressões grosseiras e ofensivas. Cada um deve procurar a companhia que melhor se coaduna com a sua personalidade.
Noto uma inflação de vendedores ambulantes de óculos de sol, à volta da Torre de Belém. Esse aumento é semelhante ao que está a acontecer com a organização de conferências – há cada vez mais. Como quase todas se fazem por vídeo, ou seja, sem custos de sala, deslocações, recepções, despesas com os palestrantes e outros, é um ver se te havias. Chamam-lhe webinar ou coisa parecida, põem o vídeo no Facebook e no YouTube, e passam à seguinte. São tantas que já tenho uma longa lista de vídeos que gostaria de espreitar, pelo menos, mas não consigo arranjar tempo. Já nem o clique faço, para não alimentar a ilusão das audiências fictícias.
Este é o novo mundo, digital, avassalador em termos de informação e um verdadeiro convite à dispersão das atenções e ao saltitar de tema em tema.
Como sabem, sou um estudioso do pensamento de Confúcio. Peço, por isso, licença para hoje parafrasear o grande mestre. A mensagem é que quando a boa governação prevalece, o sábio mantém-se direito, como uma flecha. Se for necessário intervir, será para apoiar.
Quando dominam os medíocres, a postura do sábio não se altera. Mantém a verticalidade. Mas retira-se e deixa de falar dos assuntos do Estado. Se falasse, os medíocres não entenderiam e ficariam profundamente ofendidos. Ora, um medíocre ressentido, mas com poder, é um perigo. Joga à marrada.
Gostaria de ver os políticos chegar ao fim deste ano com três certezas. Primeiro, que o importante, em matéria política, é a protecção dos cidadãos, a começar pela sua saúde e segurança económica. Segundo, que a gravidade dos desafios que temos pela frente exige cooperação e alianças alargadas. Os líderes devem propor plataformas que unam. O momento não permite que se gastem energias em pequenas querelas e em sectarismos. Terceiro, que os cidadãos anseiam por uma prática política limpa e ética. Políticos auto-centrados, interesseiros e oportunistas não cabem na visão que as pessoas querem ter da política. Políticos medrosos também não podem entrar no quadro do futuro.
Esta é a altura para falar de um outro tipo de política e de líderes. Para um debate exigente sobre o futuro. Para ir além dos grupinhos de amigos, das cliques de interesses, da falta de objectividade que está por detrás da defesa sem princípios dos que estão do nosso lado e do ataque sistemático aos que andam no lado oposto.
O sector da cultura não pode ser o grande esquecido, quando se põem em marcha os planos de recuperação da economia. A cultura é um sector importante da actividade económica e, em simultâneo, uma factor indispensável no nosso processo de enriquecimento emocional. Tem que estar activa. Não pode ser posta no fim da lista, como se fosse apenas um apêndice dispensável ou um luxo, para as horas vagas.
Uma parte dos subsídios que o governo está a conceder às televisões deveria ter como condição o compromisso de difundirem – e pagarem – espectáculos culturais, peças de teatro, representações artísticas, e não apenas as maluqueiras dos que passam horas a encher emissões de entretenimento sem substância.
Um fim-de-semana prolongado, no meio de um período de confinamento, é um aborrecimento. Sem que se possa sair de casa, excepto por motivos justificados, a pergunta que fica é que fazer com estes três dias de folga? Como os tornar diferentes dos outros dias de confinamento?
Entretanto, li o discurso da camarada que manda na CGTP. Aquilo que disse ontem, na Alameda, em Lisboa, por motivo do 1º de Maio. Fiquei com a impressão que a senhora ainda não foi informada do extremo impacto negativo que a Covid-19 tem na economia nacional e nas economias que estão intimamente ligadas à nossa. É verdade que fez umas referências, de raspão, à epidemia. Mas se eu tivesse arriscado a pele, como cerca de um milhar de pessoas o fez ontem, ao deslocarem-se à celebração da CGTP, teria querido, em compensação, ouvir mais do que os habituais lugares-comuns. De uma central que representa uma parte dos trabalhadores portugueses esperam-se ideias novas, neste mundo diferente em que estamos agora.
Num momento muito grave, que combina uma pandemia com o colapso de grandes sectores das economias da maior parte das nações, que andam os meus amigos a discutir? Estamos no meio de um tsunami, que tem consequências humanas e económicas de uma profundidade e extensão que ainda não sabemos medir, mas que nos parecem gigantescas, e os meus amigos focalizam-se em quê? Qual é o assunto que os preocupa tanto e que agita as águas em que gostam de navegar?
Intolerância e confusão mental, acudam-me, os nossos intelectuais estão infectados. Basta ver o que escrevem no Facebook. Não sabem o que é debater. Só conhecem o verbo bater.No meio da confusão, esquecem-se que a política é feita de mensagens e símbolos. Exige coerência entre o que se faz e a maneira como isso é entendido pelos cidadãos.
As notícias dos últimos dias, sobre corrupção em larga escala e todas as suas ramificações, têm levado alguns dos meus amigos e conhecidos a dizer que os políticos são todos uma boa porcaria. Uns mãos sujas, de tanto as meterem no saco dos dinheiros públicos.
Perante isso, e aceitando que haja muito motivo para muita indignação, queria aqui pedir que não se generalizasse. Ainda há gente que anda na política por acreditar em ideais e por dedicação às causas públicas. Ainda há quem lute pelo bem comum.
O que é fundamental é que haja separação de poderes na vida política, instituições fortes e eficazes, e muita transparência. A corrupção começa a aparecer quando essas coisas falham e quando o poder é apropriado por caciques, por sociedades secretas e por oportunistas, os fulanos e as fulanas que vivem à sombra dos chefes eternos