Um dia longo no mato da vida
É difícil ter um dia sereno.
Este Sábado começou com um ataque rebelde contra o campo militar das FACA (Forças Armadas da República Centro-Africana) na pequena cidade de Birao. Birao está situada no triângulo de todas as rebeliões, onde o Sudão, o Chade e a RCA partilham fronteiras comuns. É um triângulo com pouca lei e muito perigo.
Eram 05:37 quando os primeiros tiros foram disparados. Os últimos deixaram de se ouvir cerca das 08:00 horas. Os soldados das Nações Unidas, Togoleses, tiveram que intervir, para proteger as ONGs e as populações civis.
Neste momento, a situação está calma. Os capacetes azuis controlam a cidade e o aeroporto, cerca de dez quilómetros a Sul. Temos perto de trezentas pessoas acampadas junto ao nosso arame farpado, mais um certo número de trabalhadores humanitários no interior do quartel da ONU. Só o Comité Internacional da Cruz Vermelha, por razões de princípio, está fora da nossa protecção.
Entretanto despachei o General Comandante das nossas Forças de Abéché para Birao, bem como um avião cargueiro com rações, água e material de combate.
Tem sido, desde muito cedo, um tocar sem fim dos telefones, com Abéché, Birao, Bangui e N´Djaména do outro lado da linha.
Hoje à tarde estarei em Bangui. A escala já estava prevista. Faz parte da minha viagem para Entebbe. Verei o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Quando chegar a Entebbe, esta noite, espero poder descansar um pouco, que bem preciso, nas margens do Lago Vitória. Uma zona bonita, com bom tempo e uma temperatura amena. A última vez que visitei foi em 1997. Vitória é um nome de guerreira, mas, esta noite, o que precisarei, será de paz.