Sonhar com a beira-mar
Estou numa fase em que o tempo é pouco para fazer o que há que fazer.
Ainda hoje, lá fui novamente a Bangui. Tinha lá estado na Sexta. Fui falar com o Presidente e o Ministro da Defesa. No seguimento das confrontações bem violentas de ontem, em Birao. Que se seguiram a outras que haviam ocorrido a 6 de Junho. Os grupos armados estão cada vez mais equipados, metralhadoras ligeiras e morteiros. Gente rural pobre, mas armada até aos dentes. E que não dá tréguas ao inimigo. Inimigo apanhado, gente com quem viveram lado a lado durante décadas, é inimigo executado. No local. Sem perder tempo. Alguns são decapitados.
O leitor talvez até nem saiba onde fica Birao. Esse é outro dos problemas. É um conflito que não aparece nos ecrãs. Por isso, ignorado. Morre-se em silêncio, em Birao.
Quando voltei de Bangui, tinha uma pasta de rumores, boatos, em cima da mesa, dizendo que os rebeldes chadianos estavam a dois passos de lançar uma nova ofensiva. Tudo sem fundamento. Mas o suficiente para alarmar o pessoal. O pânico é uma moeda barata, que circula muito rapidamente. Tudo muito vago. Mas suficiente, também, para exigir que se mobilizem meios para apurar a veracidade da "informação". Amanhã lá vão todos os meus agentes de informação para o terreno, que é bem vasto, para tentar perceber o que se passa.
Tudo isto não dá muito tempo para pensar na praia, no Sol, nos simples prazeres da vida.
Há por aí alguém que queira trocar de funções comigo, nem que seja só pelo tempo suficiente que me permita ir esticar as pernas à beira-mar?