A ratazana do meio da noite
A dentada fez-me acordar. Eram 03:35. Mesmo nestas terras do cedo amanhecer, não era hora para despertar. Mas a atrevida deu-me uma dentada no cotovelo esquerdo -- seria certamente uma ratazana de direita. Saltei da cama, a sangrar, mais de surpresa que de raiva, e lá estava ela, escondida na casa de banho.
Acabou por fugir. O polícia de serviço, como de costume, não tinha autorização de dar tiros nas ratazanas que nos mordem.
Em quase trinta anos de África, foi o primeiro encontro do género. Se isso me tivesse acontecido na Serra Leoa, hoje estava internado na zona de isolamento máximo do hospital. Por causa da febre de Lassa, que matou alguns dos capacetes azuis naquele país. Como é uma febre facilmente transmissível, e quase sempre angustiantemente mortal, todos os que caíram vítimas acabaram por não poder ver o seu corpo trasladado para os seus países de origem.
A minha visita desta madrugada é duma espécie mais amigável. Só morde. Muito bem. Sempre posso ir hoje à tarde para a zona da fronteira. Como se estivesse a fugir das ratas do mundo.