Sem acentos, mas com chuvas
Copyright V. Ângelo
Como o falcão desta fotografia, que tirei na Região de Vakaka, na fronteira com o Sul do Sudão, passei a tarde a voar para Leste. Para as terras da beira do deserto.
Só que o tempo estava de tempestade, não como o céu azul desta imagem.
O pássaro mecânico passou o tempo a fugir às nuvens. Mas havia alegria no ar, quando cheguei ao solo, que as chuvas este ano têm sido escassas, numa região onde só chove em Julho e Agosto. Sem chuvas, os poços vão secar mais cedo, bem antes do fim da estação árida. As pastagens não durarão o tempo suficiente para fazer a ponte com a nova época das chuvas, a de 2010. A pobreza das pessoas do Sahel ficará ainda mais precária.
Alguns, mais ousados, mais encabrestados, irão, por isso, escolher a violência armada como modo de sobrevivência.
Com o avanço do deserto, avança o desespero e a insegurança. Bem como o fundamentalismo, filho das raivas impotentes.
PS: Aqui no canto do fim da esperança onde passo a noite, não há maneira de acentuar as palavras. Mas as palavras devem ser ditas, que são importantes. Amanhã, teremos os acentos... Nestas terras, a vida vive-se aos bocadinhos...
PS número dois: Já de volta a casa, voltamos à riqueza das palavras que se querem acentuadas.