Jejuns
Neste primeiro dia de Ramadão, não havia controladores aéreos no aeroporto de Abéché. Pelo menos, nas primeiras horas da manhã. O pessoal já estava cansado, só de pensar no jejum. Não sei a que horas começou o controlo dos aviões, mas Abéché tem actualmente mais movimento do que certas capitais, por esse mundo que nos rodeia.
Visitei o contingente irlandês, no Sul do Chade. Gente de muito valor e muito aplicada. Nesta altura das chuvas, as patrulhas são feitas a partir das zonas onde os helicópteros podem pousar. O segundo-comandante é uma mulher, com a patente de major. Para as forças armadas irlandeses a participação em campanhas como a do Chade é um incentivo para atrair jovens para a vida militar.
Curiosamente, a Irlanda só tem quatro generais no efectivo. Por uma razão de seriedade e de poupança. Também está com todas as promoções congeladas, quer na carreira militar quer na função pública. É que a crise é para tratar a sério.
Visitei uma aldeia de gente que havia sido refugiada interna --deslocados -- e que agora se sente com tranquilidade suficiente para poder voltar. Muito perto da fronteira com o Sudão. As canções que me acolheram, obra das mulheres locais, falavam dos ataques que haviam sofrido, dos diabos a cavalo, os Jenjaweed. Cavaleiros árabes, tristemente famosos nestas partes do Continente.
Graças ao Governador da zona, o Gov. Toké, um homem que fala bem e trabalha melhor, os aldeões são agora proprietários de um vasto campo de milho. É o começo da reconstrução das suas vidas.
A estrada que leva à aldeia foi reconstruída com dinheiros da Comissão Europeia. Com as primeiras chuvas, foi levada de enxurrada. O Governador e o General que me acompanhavam disseram umas coisas feias sobre a cooperação europeia.