Um discurso de partir narizes
Procedi ontem à condecoração dos 400 militares irlandeses que servem na missão que dirijo. Foi na sede do sector Sul, em Goz Beida. Uma localidade amena, longe do deserto. Com temperaturas mais fáceis de suportar.
Embora esta seja a estação das chuvas, por isso, menos quente, foi decidido fazer a parada às 08:30, antes da hora de maior calor. Em trinta e cinco minutos, que foi quanto durou a cerimónia, 51 militares tiveram que ser evacuados, por se sentirem mal ou mesmo, por haverem perdido os sentidos. Quando discursava às tropas, o capitão que comandava a primeira companhia, e que estava mesmo à minha frente, desmaiou e caiu para a frente, como se fosse uma tábua. Tinha estado a chover umas horas antes e a terra estava fofa. Não impediu, no entanto, a fractura do nariz. Levaram-no para a enfermaria, inconsciente e enlameado.
A temperatura era apenas de 36 graus, em virtude da hora matinal. Mas para um irlandês, que sonha com as chuvas frias da sua terra, são muitos graus.
Fez-me impressão estar a discursar e a ver os homens a cair. Não era o poder da palavra. Depois de quatro meses no Chade, os soldados da Irlanda ainda não sabem resistir aos raios solares. Mas são uns militares excelentes, muito apreciados por todos os humanitários e pelos refugiados que beneficiam da sua protecção.
Falámos rapidamente do referendo sobre o Tratado de Lisboa. A grande maioria destes militares aprova o texto e acredita que o Sim tem hipóteses.