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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Há dias piores

 

Ontem foi um dia agitado. Primeiro, foi a viagem para Abéché. O jacto é rápido, mas estreito e com sete passageiros fica muito cheio. 'A chegada, primeiro telefonema na linha de urgência: um dos nossos aviões sem piloto acabara de se estatelar em Goz Beida. Trata-se de um modelo militar, com cerca de um metro ou pouco mais de comprimento, umas câmaras. Mas a primeira notícia foi que "...um avião havia caído."

 

Felizmente que é bem mais pequeno e muito mais barato do que um 747...

 

Mesmo assim, custa caro e causou agitação, chamadas telefónicas da presidência da república, do governador, do chefe que é general, de jornalistas...Podia ter caído em cima de muita coisa. Pessoas, casas, vacas, cabras, mesmo ums meras galinhas. Tivémos sorte. Foi esmagar-se perto do quintal do governador local, mas sem outros estragos. Embora pequeno, faz mossa. Mas a maior mossa foi a perda deste aparelho que tanto jeito nos faz, quando se trata de tirar umas fotos dos rapazes maus...

 

Depois, um dos nossos veículos foi atacado à mão armada em Farchana, no mercado da localidade, nas barbas de toda a gente. Passavam cinco minutos das 11 horas. Como era um carro da equipa de desminagem, tinha explosivos e outras pequenas maravilhas a bordo. Dois homens de metralhadora em punho, bandidos das terras bravas, levaram-no para o Sudão. As autoridades fronteiriças sudanesas colaboraram connosco e o veículo foi recuperado, já do outro lado da raia. O Leonardo, um grande oficial da PSP que é o nosso chefe de segurança na região, organizou uma expedição. Para recuperar a máquina e os bens. Assim acontecerá, mas é preciso ter paciência.

 

Seguiu-se a reunião com as ONGs internacionais. Para falar do medo que começa a existir, face à possibilidade de raptos. Uma grande nacionalidade ocidental é particularmente visada. Corre o boato, aqui e no Darfur, que esse país paga resgates...Logo, é um bom negócio apanhar gente com esse passaporte...

 

Continuei o dia tendo um encontro com os guardas prisionais. Ou melhor, com os nossos conselheiros em matéria de prisões. As condições de detenção são abomináveis. Os presos passam o dia acorrentados, para que não se escapem. Mesmo assim, muitos acabam por fugir. Só não precisam de ser guardados os prisioneiros que sabem que se voltarem para a sociedade serão eliminados pelos familiares das suas vítimas. Prisioneiros assim sentem-se em segurança nas prisões desta terra.

 

Seguiram-se reuniões sobre os direitos humanos, a questão do recrutamento de mulheres para a polícia, os soldados nepaleses que chegaram com armas mas sem munições, os soldados que estão destinados a ser uma força de intervenção rápida e que vieram equipados como se fossem meros sentinelas, o planeamento da transferência de um campo de 28 000 refugiados da zona da fronteira para uma outra localização.

 

Finalmente, chegou a hora de voltar a N'Djaména. Mais 800 quilómetros de distância a percorrer. No que seria para muitos um fim de dia bem preenchido. Mas não. Na capital, havia outras matérias à espera. Falar com Nova Iorque, enviar o telegrama das actividades do dia, ver em que ponto está a investigação para apanhar uns tipos que gostam de dar uns tiros de metralhadora nos trabalhadores humanitários, falar para Bangui, ver se os embaixadores do Conselho de Segurança sempre podem visitar o Leste em Outubro, etc, etc.

 

Mais tarde, passar ainda, cinco minutos, por uma recepção, só para marcar presença. E provar o vinho branco.

 

Chegar finalmente a casa, responder a uns mails, telefonar para o estrangeiro, preparar o blog, ler os jornais do dia.

 

Há dias piores.

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