Falsificar a morte
Durante a noite, foi preciso evacuar, para Nairobi, um Major do contingente russo. Tinha ingerido, na véspera, uns copos bem cheios de um líquido, falsificado na Nigéria, mas com um rótulo de gin ou outra coisa parecida. Entrou em estado de choque, em coma profundo, com hemorragias internas, paralisações orgânicas, às portas do outro lado da vida.
Os nossos dois jactos estavam muito longe, um em Entebbe, o outro em Djibouti. Foi preciso mobilizar um dos nossos velhos Antonov 24, um avião que mais parece uma mula de montanha. Levou oito horas a chegar a Nairobi. Via Bangui, onde pousou às quatro da manhã, sem que houvesse abastecimento de combustível disponível no aeroporto. Depois, Entebbe, do outro lado das árvores, muito para além das florestas sem fim. Finalmente, o Quénia, que, primeiro, não deu autorização de aterragem, depois, aceitou o nosso SOS, mas deteve os pilotos. Não tinham visto.
O Major ainda estava vivo, depois de tantas voltas. A equipa médica norueguesa conseguiu mais um milagre. Mas, em que estado ficará este jovem oficial, depois de tudo isto?
Se a falsificação, muito frequente na Nigéria, tiver sido à base de metanol, as consequências são gravíssimas. Uma pequena dose de metanol provoca cegueira, uma dose maior leva a problemas irremediáveis. A vida nestas terras vale pouco, meus amigos.
Hoje, ao fim do dia, recebo a notícia do general que comanda as minhas tropas que há mais dois militares russos, da mesma equipa, em situação semelhante. Que drama! Quantas garrafas terão comprado, nos mercados sem lei destas terras sem rei, estes homens da terra do vodka e inocentes nas terras em que é preciso andar de olho vivo?
Mandei proibir todo o consumo de bebidas alcoólicas no campo russo.
E amanhã, bem cedo, um avião mais estará a fazer o percurso da selva para Nairobi.
Saúde!