Um helicóptero à deriva
O dia começou devagar. Mas às 09:20 já estava acelerado. Havíamos perdido o contacto com um dos nossos helicópteros, com uma dúzia de tropas do Gana a bordo. Pânico. Desaparecera numa área perto da fronteira sudanesa, uma zona conhecida como particularmente violenta e hostil.
O contacto só foi restabelecido às 14:15. A máquina voava em direcção a Abéché, coisa estranha, pois não era nem a sua base operacional nem o seu destino. O comandante de bordo, um Russo com um inglês muito simples de não perceber, disse à torre de controlo que iam para Abéché porque um homem armado, a bordo, assim o exigia.
Preparámos tudo para receber o helicóptero. Um dispositivo especial, em virtude da crise. Homens em pé de guerra por toda a parte. Saíram os passageiros, saiu o homem armado. Eu estava em contacto permanente com o general que comanda as nossas forças, bem como com o governo.
O desfecho foi patético. Mas, estavam todos vivos. E o homem armado era afinal um oficial do exército nacional. Estava em missão. Tinha sido incumbido pelos seus superiores de fazer vir, pela força, o helicóptero para Abéché, para que se procedesse a uma investigação dos seus ocupantes. É que a nossa equipa estava num lugar de guerra sem ter feito a ligação prévia com as autoridades militares nacionais. Fora detida ao pousar. Podia ter levado um tirito na fuselagem.
Amanhã lá vou ter que ir para o local, mais os chefes nacionais de segurança, para tentar acalmar o jogo. Uma viagem que faz anular uma outra, que era bem mais importante e bem mais agradável. Pelo deserto.
Voltaremos ao assunto.
O resto da história será contado amanhã. Se a minha cabeça não tiver estoirado antes.