Problemas
No seguimento do grave incidente com o nosso helicóptero, que transportava 12 capacetes azuis, viajei para Abéché, com uma delegação do governo. Tivemos uma guerra de mapas. De um lado, o Chefe do Estado-Maior do Exército, a dizer que estávamos na zona errada. E a perguntar quais eram as nossas intenções. Do outro, o meu comandante militar, com as cartas desenhadas com base nos pontos marcados pelo GPS do helicóptero, a mostrar que a máquina se pousara 20 quilómetros a Oeste do sítio indicado pelo CEME.
A luta entre o conhecimento do terreno e a tecnologia informática. A palavra contra a técnica.
Como ninguém conseguia convencer o outro, optámos por uma solução temporária: tréguas. E por reafirmar a boa vontade de cada uma das partes. Uma maneira de diminuir a tensão. Dar tempo para encontrar uma solução, amanhã, que salve a honra de ambos.
Estamos, aliás, num período de grandes discussões sobre o futuro. Uma operação de manutenção de paz resulta numa estrutura pesada, com centenas de veículos, milhares de pessoas, dezenas de aviões e helicópteros, geradores de todo o tipo, bases militares que parecem cidades, perdidas no meio do nada, pistas de aeroportos, hospitais militares, um mundo de coisas caras num país de gente pobre. A operação tem um impacto significativo sobre a sociedade e o ambiente. O futuro depende de uma decisão do Conselho de Segurança, mas também do país que acolhe a operação. No nosso caso, o Chade tem muitas dúvidas enquanto que a República Centro-Africana não tem nenhuma.
Tudo isto dava para escrever um tratado. Mas fiquem apenas estas notas soltas, para que se entenda um pouco mais a complexidade destas coisas. Como dizia um dos meus coronéis, quando se está em operações, não há tempo para pensar. Passa-se o tempo a resolver problemas. Ou a tentar.