Voltei com muito pó
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Fiz centenas de quilómetros na poeira do deserto, visitei vários campos de refugiados, encontrei-me com dezenas de trabalhadores humanitários, vi gente a sofrer nos hospitais de campanha, crianças sem escolas, sem alimentação, mulheres que são violadas quando vão à procura de lenha, polícias corajosos, como o Coronel Ahmat, só ossos, mas uma grande experiência de combate e uma inteligência fina e sensível. Um homem sem medo.
Viajei estes dias com um um enorme lenço à volta do pescoço e do nariz, à la palestiniana, tentei proteger-me do pó fino, mas acabei o dia a sangrar do nariz, a tossir e castanho como uma maçã reineta meia podre. A minha figura era tão pouco usual, com o pano aos quadradinhos cor de areia à volta da cara, o nariz a apontar na direcção da estrada, que acabei por dizer aos meus guarda-costas que, se houvesse uma emboscada, os bandidos fugiriam de horror, ao ver-me nessa figura estranha. Um horror, sentado no banco da frente.
Mas voltei a encontrar gente de muito valor. Que nos ensinam a ser modestos e atentos aos outros.