Uma pazada na cara
Sexta-feira cheira a fim-de-semana. Mas é apenas um cheiro. Amanhã estarei novamente na estrada. Ou no ar, melhor dizendo. Vou visitar o Sector Central da minha área de operações. Ver os civis, os militares e os polícias. Passar pelos campos de refugiados. É uma vida mexida.
Domingo, será a altura de escrever o meu texto para a Visão da próxima semana. Um prazer, misturado com a angústia de produzir palavras que caibam em duas colunas e que façam sentido.
Mas, mesmo assim, é bom ter um fim-de-semana.
Entretanto, hoje, para além das muitas coisas que foi preciso fazer, tivemos um incidente grave no nosso campo de Abéché. Cerca de 25 trabalhadores manuais, recrutados ao dia, no mercado local, atacaram à paulada e com pás o funcionário que orientava o seu trabalho. Uma das pazadas rasgou-lhe a face. Não mataram porque as tropas do Nepal, que estão aquarteladas nessa base, puderam intervir rápidamente. Foram todos presos. Sem que se saiba bem que fazer com eles, que o sistema de justiça não funciona. Um problema a acrescentar à lista.
Mais a Sul, uma viatura de uma ONG nacional foi atacada na estrada e roubada. Os meus serviços enviaram um pequeno destacamento, para perseguir os ladrões. Umas boas dezenas de quilómetros mais para Leste, já perto do Sudão, os nossos polícias conseguiram alcançar a viatura. Houve um tiroteio dos antigos. Os larápios acabaram feridos. As balas das velhas kalashnikov fazem doer. Para mais, estão cheias de pó. O pó é uma constante nestas terras. Estão em tratamento no hospital de Goz Beida. No meio do muito pouco que existe.
O Ministro do Interior dissera-me, na Quarta-feira, que gente assim deve ser tratada como cães raivosos. Aqui fica a nota. Sem mais.