Disputas de sucateiros e botas velhas
Passei algum tempo, esta tarde, a falar ao telefone com o A. Guterres. A determinada altura disse-lhe que, se ele vier em Março à África Central, como está a planear, será muito provável que eu já não esteja nas paragens. Reformado. Sim, sentado num banco de jardim, no Restelo. Sem estar a olhar para Belém, não hajam equívocos.
Não queria acreditar. Como seria possível deixar um emprego como o meu? Depois percebeu que as minhas décadas com a ONU não foram passadas a resolver a crise da Islândia ou o separatismo no Québec. Nem a partição de Chipre, acrescentei eu. Foram vividos no meio de conflitos mais ferozes, vidas mais ásperas, ambientes de grande tensão. Ou seja, talvez já seja tempo de procurar climas mais amenos e passar o tempo com disputas mais caseiras, do género dos sucateiros da nossa terra.
Entretanto o meu amigo Staffan de Mistura, um homem mais velho do que eu, foi nomeado como representante especial para o Afeganistão. Tenho amigos que não conseguem parar, sair desta vida de homens dos sítios impossíveis. Cada um sabe de si. É verdade que o Afeganistão é um desafio muito tentador. Mas há outros, bem mais perto de casa. Basta pensar nos "afeganistães" que são certos bairros da periferia de Lisboa.