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Darfur é o "barril de pólvora" africano
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Chefe da missão da ONU preocupado com a possibilidade de as autoridades chadianas assumirem o controlo da segurança no país |
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A região do Darfur é "explosiva" e há um "grande risco" para refugiados e pessoal internacional se as Nações Unidas não renovarem o seu mandato no Chade no próximo mês, alerta o chefe da missão da ONU no país, o português Vítor Ângelo.
Vítor Ângelo, que termina o seu mandato e também a sua longa carreira nas Nações Unidas a 15 de Março, está preocupado com a possibilidade de as autoridades chadianas assumirem o controlo da segurança no país, agravando o que considera ser o futuro "grande problema de África". Para o chefe da missão das Nações Unidas no Chade (MINURCAT) e representante do secretário geral da ONU no país, "esta região é muito explosiva, está em crise, que se vai agravar com a evolução da situação no Sudão e sobretudo com a possibilidade de o Sudão se cindir em dois países", disse, o diplomata português à Lusa, numa entrevista concedida antes de ser conhecido o pedido do Governo do Chade para serem retiradas as forças da ONU.
A zona de fronteira do Sudão e o Chade e a República Centro Africana "são os barris de pólvora de amanhã", alerta Vítor Ângelo.
A situação vai ficar muito complexa" com eleições previstas no Sudão em abril e o referendo sobre o futuro do sul do país, no próximo ano, sendo "fundamental" que o Chade garanta a segurança na fronteira ao longo do Darfur e dentro do seu próprio país.
Segundo Vítor Ângelo, a MINURCAT está "a ser vítima do seu próprio sucesso" e os ganhos dos últimos meses em matéria de segurança "não são sustentáveis" se transitarem para o Governo de Djamena.
"As autoridades do Chade mobilizaram um grande número de soldados, entre 25 mil e 30 mil, para a fronteira entre o Chade e o Sudão", disse Vítor Ângelo, alertando para a situação no interior do país, onde "só as Nações Unidas" podem garantir a protecção das populações, do pessoal da organização e ONG.
O país "precisa de muito apoio da comunidade internacional, muitos recursos, de uma grande presença militar e de polícia, e só as Nações Unidas podem oferecer estas condições", disse o chefe da MINURCAT.
Se as Nações Unidas partirem a 15 de Março, "há um risco muito grande de voltarmos a ter ataques contra os humanitários, funcionários da ONU e sérias violações nos campos de refugiados".
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Lusa
O meu comentário a este despacho da LUSA:
O barril é o Sudão, no seu conjunto. Por causa das eleições que se aproximam, do referendo sobre a independência do Sul, das dissenções internas, no círculo dirigente, em Cartum. Dos conflitos entre etnias e dos jogos de interesses associados a essas querelas. Um barril que poderá fazer explodir outros, na região africana onde o Sudão se insere.
A política da UE em relação ao Sudão e à região não tem fôlego, nem direcção. Trata-se, aliás, de mais um exemplo de como a política externa da Europa é uma mera construção ilusória. Não existe, não se manifesta, não conta, e os principais Estados europeus não querem investir numa posição comum. Querem, isso sim, manter o seu peso individual.
O papel da Senhora Ashton é o de apanhar papéis.
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