Os palhaços contra os relojoeiros
Um dos meus conselheiros directos é um verdadeiro relojoeiro. As análises que faz da política regional têm a precisão e paciência que um artesão fabricante de relógios suíços põe no seu trabalho. São minuciosas, as peças encaixam bem, a complexidade dos mecanismos é perfeitamente entendida. Cada obra resulta de um trabalho cuidadoso, exacto e exaustivo. É coisa séria.
Comparo essa maneira de fazer, o rigor intelectual que exige, a aplicação que requer, com as declarações trapalhonas de tantos dos nossos políticos. Em Portugal, nomeadamente, faz-se política em cima do joelho, dispara-se à queima roupa, confunde-se a frase assassina com capacidade analítica e programática. O insulto toma o lugar da sabedoria, a raiva vence a razão. O pior é que os Portugueses gostam deste tipo de politicões, sentem-se bem no circo. O espectáculo toma a primazia, o golpe de rins substitui a argumentação cerebral.
Peço desculpa, mas creio que devemos perguntar a nós próprios se vale mais ter, lá em cima, uma quadrilha de palhaços ou uma associação de relojoeiros, que se preocupe com o funcionamento acertado das coisas?
Notando bem que se pode ser artesão de relógios e ser muito criativo, ao mesmo tempo.