`A medida que a crise económica e a pobreza se agravam em Portugal, a resposta parece estar, para muitos portugueses, na possibilidade de um voto de protesto e de indignação nas próximas eleições legislativas.
Tendo em conta a nossa história política, e os padrões usuais de voto, o protesto far-se-á felizmente 'a esquerda. Não creio que um partido dirigido por uma personalidade como a do Dr.. Portas consiga captar essa tendência para o protesto.
Desde modo, não e' de estranhar que certos zunzuns de acordo entre os que provavelmente irão beneficiar desse protesto eleitoral se comecem a ouvir. Há como que um cheiro a namoro politico no ar. Embora ambos os namorados se façam caros, isso aumenta a parada...
Creio que vamos ter uma panorama político, nos próximos 12 meses, em grande mutação.
O Presidente da França, ao convocar hoje uma cimeira sobre a crise financeira, e apenas convidar quatro países europeus, deu uma estocada muita profunda na unidade da União Europeia.
Numa altura em que era preciso evitar tentativas de solução unilaterais, país por país, o encontro de Paris começou por excluir a maior parte dos estados da União e acabou sem nenhum acordo significativo entre o pequeno número de presentes.
Já a Irlanda, uns dias antes, havia tomado uma decisão nacional contrária ao espírito que deve presidir 'a construção da Europa. Decidira proteger os bancos irlandeses em oposição aos outros bancos europeus que operam no seu território.
Agora, o homem de Paris deu aquilo que poderá ser uma machadada final na política financeira comum da União. O Presidente da Comissão estava presente. Ficou mais uma vez a saber quem manda na Europa.
Tem Saramago razão, ao afirmar ontem que a Esquerda não pensa.
Criticar não e' suficiente. Criar alternativas viáveis, isso sim.
A Esquerda não pode ser apenas a área política dos descontentes. Nem pouco mais ou menos. Tem que ser um espaço intelectual e político de criação de ideias, que se traduzam na sistematização de uma sistema alternativo.
Essa Esquerda não existe actualmente.
Veja-se, por exemplo, quão pobre se tornou o debate intelectual no PS Francês, ou no Monde Diplomatique, ambos pontos de referência no passado. Ou como se ausentou para parte incerta o debate político no seio dos Trabalhistas. Para já não falar dos nossos amigos da Esquerda Portuguesa, que dos fracos pouca reza a história...