Gayle foi hoje sepultada no cemitério britânico de Cabul. Não a conhecia. Assassinada pelos extremistas religiosos associados aos Talibãs, no início da semana, enquanto trabalhadora de uma organização não-governamental humanitária a operar no Afeganistão, simboliza todos os que se dedicam 'as causas da paz e do desenvolvimento, de um modo voluntário, por vezes em condições extremamente difíceis e perigosas.
Nos últimos doze meses, 63 agentes de organizações humanitárias perderam as suas vidas, na Somália, no Afeganistão, no Sudão, no Chade e noutros países. A esse número haverá que acrescentar os 25 funcionários da ONU, que também foram vítimas da violência, em várias partes do mundo, durante o mesmo período.
O que nos perturba ainda mais e' que estas pessoas foram mortas não por acidente, mas sim por serem trabalhadores humanitários. Foram escolhidas propositadamente como alvos. Este e' um facto novo.
Em África, antes de uma visita presidencial a uma qualquer localidade, procede-se 'a pavimentação da estrada que leva ao lugar, 'a pintura dos edifícios que se encontram no itinerário oficial, compram-se bibes novos para as crianças das escolas, e distribui-se dinheiro sonante aos notáveis locais. Muitas destas coisas são feitas 'a última hora. Não só por não corresponderem a nenhum plano de longo prazo, mas por que se procura um efeito imediato, que se sabe ser de pouca duração, e por isso, tem que ser feito muito próximo do dia da festa.
Em Portugal, os métodos serão diferentes, mas a esperteza política e' muito parecida. Os meios passam por um orçamento de Estado cheio de prendas -- salário mínimo a crescer para além do que e' habitual, pensões e subsídios para a terceira idade, revisões salariais acima da inflação, pela primeira vez em quatro anos, escolas e serviços sociais a proliferar como cogumelos depois de um dia de chuvas, obras públicas e projectos anunciados com a fartura de quem sabe que e' para adiar, passadas as eleições, etc. A manha e' a mesma, a de procurar o máximo efeito antes do dia E.
Como dizia um dia um amigo Africano, o ideal seria convidar o Presidente a visitar-nos todas as semanas. Ou, em Portugal, organizar eleições todos os anos...