O senhor ministro que manda nas polícias afirmou ontem que " o combate 'a criminalidade violenta e grave continuarà a ser a prioridade da estratégia de segurança para 2009 ".
Aprecio a afirmação " continuará ".
Talvez seja melhor " continuar " com mais força do que em 2008.
Com uma estratégia mais clara.
Como o senhor ministro também prometeu que " oportunamente será apresentada ... a estratégia e medidas para 2009", ficamos à espera desse momento oportuno, para que se possa fazer uma ideia.
Mas a verdade é que o combate eficaz à criminalidade violenta tem que ser uma prioridade em 2009.
Na minha crónica desta semana na VISÃO lanço um olhar sobre o horizonte 2009.
Mas, pensar as grandes questões globais dentro de um tecto de 3 500 caracteres, que e' o que o editor me autoriza, e' um quebra-cabeças de tal ordem, que me deixa sempre angustiado e com a impressão de que muita coisa importante ficou por escrever.
Pareceu-me que devia ter dito, por exemplo, que os problemas globais exigem mecanismos de resolução intergovernamentais. Que não se pode cair na tentação do proteccionismo e das respostas meramente nacionais. E acrescentar, de imediato, que este e' o grande risco em 2009: que cada um tente tratar dos seus próprios problemas, esquecendo-se que só a cooperação internacional poderá, de facto, fornecer uma resposta adequada aos desafios.
Felizmente que os blogs não têm editores por detrás de cada paragrafo, a contar caracteres...
Esta fotografia reflecte o estado das relações entre as instituições de soberania portuguesas, após o grave episódio do estatuto dos Açores. Da' seguimento 'a declaração, responsável e acima da média, que o Presidente fez esta noite ao País. Esconde, algures, e sempre em parte incerta, a irresponsabilidade dos nossos dirigentes partidários.
Ilustra também o estado da política em Portugal. São só ramos secos, a apontar para direcções perdidas.
Mais um dia dramático, na Faixa de Gaza. Apesar do apelo do Conselho de Segurança das Nações Unidas. E das muitas vozes que se elevaram um pouco por toda a parte, a lembrar que não há uma solução militar para a Questão Palestiniana.
A situação actual, com o uso desproporcionado de força por parte de Israel, vai certamente levar a uma radicalização do lado palestiniano. A reacção israelita tem muito que ver com as próximas eleições gerais no país. É preciso mostrar aos eleitores que não se hesita. Que se tem a coragem de se ir para o fogo, desde que os mortes sejam na porta ao lado.
Mahmoud Abbas e a ala palestiniana moderada vão sair ainda mais fracos desta crise. As acções extremas de Israel vão dar mais militantes ao Hamas, novos suicidas, e a todo o tipo de terrorismos que proliferam na região do Médio Oriente e noutras áreas islâmicas que já estão hoje fora de controlo.
A Europa poderia desempenhar um papel fundamental de mediação na crise, mas não tem a coragem política que seria necessária, nem quer desagradar aos americanos. Javier Solana limitou-se a emitir um comunicado de algumas linhas, sem qualquer efeito prático. A Presidência da UE já entrou, entretanto, de férias, à espera da chegada dos Checos...
Estava na altura no Luxemburgo, para uma reunião sobre questões financeiras, e posso assegurar-vos que os banqueiros sentiram alguns calafrios nesse dia. A morte violenta da Senhora Bhutto foi considerada como uma mau presságio, em termos dos valores bolsistas e da estabilidade internacional. Foi-me então dito que notícias como estas tornavam os mercados, em finais de 2007, muito instáveis e davam uma grande volatilidade aos valores cotados em bolsa. Era como se fosse um sinal de que se estava a entrar numa fase de nervosismo de um novo tipo.
Exactamente um ano depois, temos um reacender da crise no Médio Oriente, com o bombardeamento da faixa de Gaza pelas tropas de Israel. Mais de 225 pessoas pereceram nestes ataques, das quais uma meia dúzia seriam quadros de alguma importância nas estruturas do Hamas. As outras vítimas incluem civis, crianças e funcionários públicos.
Para além do facto de que nenhum estado tem o direito à retaliação, e que isto seja dito de uma maneira bem clara, sem equívocos, nem a acções de guerra preventiva, e sem esquecer as dimensões humanas, os acontecimentos de hoje mostram que se está a entrar numa fase nova de instabilidade no Médio Oriente. O impacto desta tragédia sobre a frágil situação internacional actual será certamente enorme.
Ou seja, temos, um ano depois da morte de Benazir Bhutto, um novo agravamento da crise global, e uma vez mais, um total desrespeito pelos princípios fundamentais do direito internacional. Volta a valer a lei da selva, em que o mais forte tem sempre razão.
Estas crianças não têm pistolas de plástico e gostariam imenso de poder ir à escola. Com todo o respeito pelos professores. Com vontade de aprender, de ser alguém para além da miséria que as viu nascer.
Mas as escolas são poucas e as raparigas estão em grande desvantagem social. Fazem falta em casa, para ir buscar água, apanhar lenha, ajudar a tratar dos irmãos mais pequenos. E irão casar muito cedo, logo que os pais as possam fazer passar para a responsabilidade de outrem.
Sem educação não há futuro. Sem civismo não há progresso social. Sem respeito, somos apenas uns bichos falantes, uns monstros.
O incidente que ocorreu recentemente na Escola Secundária do Cerco do Porto, e cujo vídeo circulou na internet, imagens que falam por si, com os alunos a apontarem uma pistola de plástico à professora e um deles à mover-se à sua volta, com a pose de um boxista pronto a soquear, não é de modo algum " uma brincadeira de mau gosto ", como foi dito pela Directora Regional de Educação do Norte. Nem os alunos, na casa dos 17 e 18 anos, podem ser considerados, como quem desculpa, " uns miúdos ". Mais, não é por serem de origem social modesta que não devem ser responsabilizados.
É um caso de indisciplina grave e de intimidação e assalto moral e físico. A sociedade portuguesa não pode deixar passar estes casos em branco. Nem o sistema educativo pode tolerar este nível de agressão, um comportamento que hoje começa nas escolas e amanhã estará a ser praticado na vida corrente.
É mais uma vez oportuno levantar a questão muito séria da disciplina e do respeito pela integridade física e moral dos participantes no sistema educativo, quer sejam professores, empregados ou os outros alunos. Queremos um Portugal onde haja respeito por todos.
Quando se tem a idade que estes alunos têm já não se é uma criança, nem se pode brincar com coisas sérias. A impunidade leva ao caos, à insegurança, à falta de um mínimo de civismo. Quem, como eu, andou por esse mundo fora, percebe que fechar os olhos apenas conduz ao desastre social, à acumulação de problemas, que a partir de determinada altura se tornam parte da estrutura da sociedade e, por isso, muito mais difíceis de resolver.
As sanções adequadas, que podem passar por condenação a trabalhos em benefício da comunidade e por um registo provisório na certidão cadastral, têm que ser impostas. É um caso de justiça e também de legalidade democrática.
Quem leva estas coisas com ligeireza, como a directora o fez, é um brincalhão muito perigoso. Que a senhora continue a ser directora regional é outra " brincadeira " que o Ministério deverácorrigir sem tardar.