Promessas de má-fé
O primeiro-ministro falou hoje, com um optimismo que só ele consegue assumir, sobre 2009 . Trata-se, de facto, de um ser à parte.
Prometer às famílias um melhor rendimento em 2009 é um bocado estar a gozar com os portugueses, sobretudo com os que levam para casa, no final de cada mês, entre 500 e 700 euros limpos -- a maioria dos empregados está nessa fatia de rendimentos. Ou com os que estão pura e simplesmente sem trabalho ou com empregos precários. A juventude, muito especialmente.
O ano de 2009 vai ser um ano de grandes dificuldades económicas na zona euro. Portugal não será uma excepção. Até porque a nossa economia e os rendimentos das famílias estão muito dependentes da situação económica dos nossos parceiros europeus. Ou por causa das exportações, ou do turismo, ou mesmo porque muitos dos nossos jovens trabalhadores estão a emigrar para a Espanha, a Suíça e outros países da Europa. Com a crise vão ter menos oportunidades nesses países.
É verdade que os juros dos empréstimos à habitação vão baixar. Que os preços dos combustíveis poderão manter-se ao nível actual em 2009. Mas o grau de endividamento dos agregados domésticos portugueses é muito elevado e os salários continuam demasiado baixos em comparação com o custo de vida. Por outro lado, a tendência é para o abrandamento significativo do consumo privado. Por isso haverá uma quebra da inflação. Este processo arrasta consigo uma diminuição do emprego disponível. Vendendo-se menos, precisa-se de menos operários, na parte da produção, e de menos trabalhadores da distribuição e do comércio.
Não é correcto falar em perspectivas melhores quando se sabe perfeitamente que recessão vai continuar em 2009.
A não ser que se pense utilizar uns dinheirinhos públicos para agradar a uma ou outra camada de eleitores, como os funcionários do estado, na esperança de que eles se mostrem reconhecidos e obrigados no dia do voto. Seria mais um erro de governação. Porque mesmo com aumentos para os funcionários públicos, existe um nível tal de descontentamento que não serão uns modestos euros que irão mudar a feição das coisas. Há um mal-estar generalizado em muitos grupos sociais.
Penso que só uma política de verdade e de diálogo nos poderão trazer a paz social e a mobilização que tão necessárias são para o nosso crescimento económico e cívico.