Ao baixar a taxa de referência dos juros para um valor que é apenas marginalmente positivo, o Fed reconhece a extrema gravidade da situação económica nos EUA e joga a carta dos juros a fundo. Juros mais baixos, combinados com os preços dos combustíveis em descida, irão colocar nas mãos dos consumidores algum dinheiro extra, para continuar a alimentar o consumo de bens e serviços.
É uma aposta que não é linear, nem está ganha à partida. Mas pouco mais resta ao Fed.
A partir de agora, terá que se concentrar no seguimento da liquidez do sistema financeiro, o que não é uma tarefa fácil. Ainda hoje, o Banco Goldman Sachs anunciou um prejuízo de mais de 2 mil milhões de dólares no terceiro trimestre do ano. Esta era, até agora, uma das casas financeiras mais sólidas no país.
Entramos em 2009 numa situação em que tudo pode acontecer.
Na Costa Ocidental de África há cada vez menos peixe nas águas a que os pequenos pescadores conseguem chegar.
Nalguns sítios, traineiras vindas da Ásia pescam a escassas centenas das linhas costeiras, ilegalmente, mas sem que haja capacidade e vontade política para o impedir. Conheço casos em que as tripulações dessas traineiras destroem pura e simplesmente as redes dos artesãos locais que encontram no mar, ou os ameaçam com armas de fogo, para que saiam das melhores áreas de pesca.
Noutros, barcos vindos da Europa do Sul deitam âncora a uma certa distância da costa e limitam-se a esperar que os pescadores tradicionais lhes venham vender, em pleno mar, os melhores resultados das suas pescarias. Em trocam, levam algum dinheiro, cigarros e outros bens para contrabandear em terra. Nalguns casos, há comércio de drogas, a coberto da actividade piscatória.
Assiste-se, assim, a uma destruição muito rápida dos recursos e ao aparecimento de outros modos de vida, nem sempre legais
Amanhã volto a África. A sina de passar as Festas no Sahel. Entrar no Ano Novo numa zona de conflito.
Entretanto, dois dos meus colegas, embaixadores do Canadá actualmente em missão de curta duração pelas Nações Unidas no Níger, foram ontem raptados por um movimento Tuaregue, cerca de 50 km ao Norte de Niamey.
Há toda uma zona do Sahel, que inclui regiões da Mauritânia, do Mali, do Níger, do Sul da Argélia, do Sudoeste da Líbia e do Noroeste do Chade, onde grupos rebeldes de inspiração fundamentalista se cruzam com bandidos armados, especializados no tráfico de armas, no trânsito de drogas, na passagem de emigrantes clandestinos em direcção à Europa, e em razias de todo o tipo.
Esta zona está fora de controlo e exige uma atenção especial das autoridades da região e o apoio da comunidade internacional. Caso contrário, o problema continuará a crescer e a atingir outros países e acabará por pôr em causa a própria estabilidade do Sul da Europa.
Esta foi a razão que levou ao cancelamento, no início deste ano, do Lisboa-Dakar. Uma prova de que já não se fala e que não tem hipóteses de voltar a existir enquanto a estabilidade não for restabelecida.