Viva
Copyright V. Ângelo
Esta jovem tem razão para ter um ar desconfiado. A violência contra as mulheres, nesta parte do mundo, como em muitas outras, e' frequente e brutal.
Ainda ontem, pouco passava das cinco da tarde, morreu 'a frente da entrada do nosso comando central uma jovem que teria a idade desta rapariga. Ia num camião militar, do Exército Nacional Chadiano. Um camião que se dirigia para fora da cidade. Transportada contra a sua vontade, muito provavelmente, e para ter um tratamento, logo que começasse o deserto, de uma grande violência.
Quando o pesado se aproximou do nosso campo, um quartel 'a saída de N'Djamena, onde se encontra o meu escritório principal, bem como uma parte do comando militar das forças internacionais, a jovem pensou ver uma oportunidade de escapar ao que a esperava um pouco mais longe. Saltou do camião em andamento.
Só os gatos, diz o ditado, caiem sobre as suas patas. A jovem estatelou-se no alcatrão. Teve morte imediata. O camião dos soldados do Chade ainda abrandou um pouco. Depois, acelerou e desapareceu. Os meus sentinelas, soldados também eles, mas da Albânia, acorreram imediatamente ao local. Foram 50 metros de corrida para a morte, com o coração na boca. Apenas para constatar que o coração desta jovem já não tinha mais nada para dizer.
Mais tarde, a mãe veio identificar o corpo. Foi uma cena indescritível. Os gritos de dor entravam-vos pelo campo e arrefeciam-nos o cérebro, deixavam-nos paralisados. Era o cântico antigo da tragédia de todos o sem-poder, o horror sonoro do desespero de quem e' humilhado todos os dias. Um grito que se repete, todos os dias, nos mais diversos buracos do mundo.