Em determinada altura, as grandes ideias e os políticos de muitas cores chegam ao fim da estação. Umas pétalas aguentam mais uns dias, no pavimento dos nossos passos quotidianos. Depois, secam e a vida continua.
O meu texto desta semana na VISÃO, escrito entre dois mundos, a viajar num velho Antonov, barulhento e vagaroso, em direcção à África Central, fala do desemprego em Espanha, dos refugiados do Darfur e da confusão que reina nas relações internacionais.
A leitura feita por alguns jornalistas das palavras da senhora da oposição sem jeito é claramente abusiva e inspirada pela fidelidade de certos homens dos jornais aos cavalheiros do poder. A senhora não fala de nenhum Bloco Central. Aliás, na resposta à questão levantada pelo entrevistador, a rainha dos desajeitados diz umas coisas que, lidas e relidas, não se entendem. Mas isso não seria notícia. É habitual. O que certos jornalistas inventaram, de seguida, é que se tornou notícia.
E que se trame a honestidade intelectual em Portugal.
Este quadro de Malangatana, da minha colecção pessoal, é para recordar que passei o dia a percorrer as ruas de Bangui, os gabinetes do poder, as contradições dos mercados, à procura de respostas para a recente fuga de 17 000 cidadãos da R. Centro-africana para o lado chadiano da fronteira. De que fugiam essas pessoas? Por que razão 86% desses refugiados são mulheres e crianças? Onde estão os homens?
Os comentários fazem parte do blog e são muito apreciados.
Como comentar os meus textos na Visão também é altamente desejado. Escrever para a praça pública é uma maneira de comunicar e comentar faz viver a comunicação, o diálogo.
Tenho tido apenas comentários muito serenos, o que muito me satisfaz.
A comunidade portuguesa no Chade festejou o 25 de Abril ontem à noite. Apenas um dos oficiais da PSP e os dois padres missionários que se encontram muito a Sul não puderam estar com o resto da turma. Foi bonito. Sobretudo que muitos dos portugueses que estão no Chade eram crianças apenas, em 1974. Alguns até ainda não tinham visto a luz do dia.
As noticias que nos chegaram de Portugal foram, no entanto, tristes. Crise, desemprego, ataques verbais entre homens públicos, cerimónias muito formais, com discursos marcadamente institucionais, tudo muito longe das pessoas, muito distante da verdadeira festa popular que o 25 de Abril deveria ser.
Os nossos dirigentes políticos estão encarcerados nos seus fatos e gravatas, na importância que julgam ter e na formalidade que é o apanágio dos líderes sem fogo, nem alma, nem visão.
No Dia da Liberdade, é importante dar asas à imaginação e montar o cavalo que nos faz sonhar. Portugal precisa de gente que tenha a coragem de pensar em novas conquistas. Gente sem medo, capaz de cavalgar para além de Alcochete e dos escândalos que nos consomem e nos distraem
25 de Abril de 1974. Chego ao meu gabinete no Instituto de Sociologia da Universidade Livre de Bruxelas, para começar mais um dia de trabalho à volta do inquérito socio-demográfico que tinha em mãos. Uma das minhas colegas, belga, está à minha espera. Diz-me, com uma certa excitação, que há noticias de um rebelião militar em Lisboa. Tanques nas ruas. Pouco mais sabia, mas acrescentou que as primeiras informações mostravam que se tratava de um golpe militar.
Nesta véspera do Dia da Liberdade, constato com tristeza que o Portugal político continua a ser muito intolerante. O outro não é aceite, não por questões de diferenças de ideias ou de programas, apenas e tão só, por não ser um dos nossos.
Os protagonistas políticos não conseguem colocar o interesse nacional acima da visão redutora que vê tudo a partir do pertencer ou não ao nosso grupinho de amigos.
A discussão sobre o homem de Bruxelas tem sido o exemplo mais recente desta mentalidade que se sente feliz quando exclui.