O texto analisa a questão do desemprego no contexto europeu. Trata-se, na minha opinião, da questão mais importante na pasta dos líderes europeus. Só que esses líderes resolveram não participar na cimeira, que hoje tem lugar em Praga, sobre o desemprego. A ausência é analisada no artigo.
Fico a aguardar os vossos comentários na página da revista.
Este camarada não apoia os rebeldes, não anda aos tiros pelo mato da vida, não pensa fazer contestação interna no partido frouxo-democrático, não se vai apresentar contra o Tio de Bruxelas, nem tem vocação para camaleão. Nem é mais um desempregado candidato infeliz a um posto de trabalho bem modesto, mas que não existe.
Lá fui a Goz Beida, para tranquilizar a comunidade humanitária. Os rebeldes estão na zona, um ou outro campo de refugiados já foi visitado pelos homens armados. O governo organizou esta tarde uma ofensiva aérea, o que atrasou a minha partida de Goz Beida -- não convém voar quando está a chover metal, metralha grossa, a cair de forma bem cerrada.
A aterragem ainda esteve para ser a pique, para minimizar os riscos. Levantámos voo virando logo para Oeste, que a Leste está a fronteira, a Norte, a base aérea do governo e a Sul, a zona onde estavam a cair prendas do céu.
Mais um dia com uma certa agitação. Sobretudo, porque andar de avioneta onde os caças andam à procura de presa faz um bocadinho de comichão atrás das orelhas.
Este bicho, apanhado ao acaso dos meus andares, passa a vida à janela, como qualquer senhora dos prazeres, no distrito vermelho de Amesterdão. Mas tem um modo de vida mais ingénuo. Mais ainda. Não é candidato às eleições europeias, embora pense que a abertura das fronteiras tornou a vida de cão que muitos de nós vivemos um pouco mais fácil. Quando se está farto de sofrer em Portugal, na miséria da nossa ignorância que se ignora, tenta-se recomeçar a vida noutros Luxemburgos, à trela dos interesses locais. É tudo uma questão de andar à procura do osso, que o bife está pelas horas da morte.
Conta-se nas terras secas que as formigas estavam cansadas de ver o seu formigueiro espezinhado, com regular frequência, por manadas de elefantes. É verdade que o formigueiro ficava muito à beira do trilho habitual dos elefantes.
Um dia, uma formiga mais ousada e expedita, certamente um bicho com cabeça, mas agindo à revelia das suas colegas, resolveu aproveitar a passagem da manada para subir por uma das pernas do elefante alfa. Tinha que chegar à orelha do líder do grupo e explicar-lhe, bem no ouvido, que certos líderes têm dificuldades em ouvir, que o caminho que esses grandalhões estavam a seguir era contra o interesse das formigas. Tudo seria uma questão de o aconselhar a desviar de rumo.
A vida é como é. Mesmo para uma formiga sem medo, caminhar ao longo de um elefante é um percurso longo e com riscos. Nesta lenda, conta-se que a dada altura o paquiderme resolveu, como acontece muito frequentemente, roçar-se contra uma árvore. É uma maneira de limpar a pele, matando os parasitas que todos os animais de porte atraem, e escovando a lama que entretanto, seca, se colara ao corpo. A lama faz parte da vida do bicho grande.
Segundo parece, a formiga foi apanhada entre o tronco da árvore, um pau duro como é usual encontrar nestas terras sem dó, e o lado esquerdo do elefante alfa. Quando este tipo de acidente tem como protagonista uma formiga, os pormenores do acontecimento não fazem parte da história.
O recado nunca chegou à orelha do líder. E as formigas continuam a reconstruir o seu formigueiro de tempos a tempos.
Estas mulheres, fugidas do Darfur, tiveram a coragem, ontem, de contar o que aconteceu nas sua terras, quando os cavaleiros árabes pró-governamentais atacaram. Foi numa reunião com Thabo Mbeki, com a participação do Presidente Abubakkar da Nigéria e Pierre Buyoya, antigo Presidente do Burundi, num campo de refugiados, perto da fronteira com o Sudão.
Levei estes ex-presidentes num avião que aterrou, após uma viagem de duas horas, numa pista do mato. Vi a amargura que vai nestas almas, nomeadamente no que respeita ao facto de ser a primeira vez, em quatro anos, que a União Africana enviou uma delegação ao terreno, para se encontrar com os refugiados.
Mulheres do Darfur e o trabalho de ir buscar água à fonte, para a família. A cerca protege o local, ao evitar a entrada dos animais domésticos. As árvores, plantadas pelas ONGs, servem para demonstrar que é possível transformar a natureza, nestas terras áridas. E para lembrar que a verdura e as cores fazem parte da beleza da vida, mesmo quando se vive num campo de exilados que tiveram que fugir ao conflito que persiste nas terras Darfur.