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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Os restos de uma cidade debaixo de fogo

 

 

Copyright V. Ângelo

 

Estas imagens de Birao mostram a violência dos dois ataques sofridos em Junho.

 

Amanhã, o governo, com o nosso apoio, envia uma missão, a partir de Bangui, de 12 personalidades. Vão tentar negociar com os líderes dos dois grupos rebeldes mais importantes. E com os chefes tradicionais. É um exercício de mediação que temos que apoiar.

 

Na Quinta-feira, despachamos um pequeno grupo de diplomatas para que passem o dia em Birao. Lado a lado com um repórter da BBC e outro de Al-Jazeera. Procuramos aumentar a visibilidade do conflito, que é meio caminho andado para a sua resolução. Antes que se torne um verdadeiro problema político. Para já, é apenas uma confrontação armada entre etnias.

 

A impaciência

 

Quem desempenha o papel de mediador na resolução de um conflito precisa de ser muito paciente. Fazer pressão sobre as partes para que a solução chegue num curto espaço de tempo acaba por virar uma ou ambas as partes contra quem tem como missão facilitar a paz.

 

Paciência e resultados não são questões incompatíveis. Uma jornada faz-se num dia. Muitos dias de jornada acabam por nos levar ao destino.

 

No caso do Darfur, por exemplo, o erro, neste momento, está na pressa em chegar a um cessar-fogo. O fim das campanhas militares é importante. Mas só acontecerá quando houver um mínimo de confiança no processo político.

 

Não nos podemos associar a um contra-relógio que quer forçar o fim das hostilidades através de pressões diplomáticas de tipo imperial. É preciso deixar que cada lado veja as vantagens duma paragem das hostilidades.

 

Em matéria de política e de conflito é preciso ter uma pele espessa, de crocodilo. E como qualquer velho crocodilo que se preze, convém estar imóvel, por algum tempo, mas com os olhos bem abertos. É que a oportunidade pode aparecer a qualquer momento.

 

 

 

 

Não há guerras de religião

 

 

Copyright V. Ângelo

 

O Imã e o Pastor. As duas autoridades religiosas de Birao. Lado a lado, a discutir como resolver a crise político-militar. A questão não é religiosa. A sabedoria destes dois homens impressionou-me. Não tomaram partido. Não fugiram para o mato. Estão nos seus postos, prontos para agir. Gente de coragem.

 

 

 

Birao, terra mártir e perdida

 

Copyright V. Ângelo

 

Estas duas crianças foram das poucas que ficaram em Birao, cidade capital da Província de Vakaga, no Nordeste na República Centro-Africana. Vivem actualmente numa tenda, em situação de grande vulnerabilidade. Uma lona instalada nos terrenos da casa do único Deputado local.

 

O Deputado transformou o seu quintal num campo de deslocados. É um homem de grande mérito e de uma coragem exemplar. Num canto da propriedade, que está a duas centenas de metros do campo da MINURCAT, a força militar das Nações Unidas que chefio e que tem um destacamento de 300 homens, Togoleses, na zona. A proximidade com o nosso campo tornou a casa do parlamentar um sítio de refúgio.

 

Vivem cerca de 400 deslocados no interior da sua cerca. Num canto, várias famílias da tribo Rounga. Separados por cinco metros de no man´s land, estão as tendas das famílias Kara. Mais à frente, de novo separados por meia dúzia de metros que fazem a diferença, vivem as famílias da tribo Goula. No extremo do quinta, é a zona dos Haoussas. Cada tribo no seu canto.

 

O Comité Internacional da Cruz Vermelha forneceu ao Deputado umas centenas de sacos de farinha de milho. Assim se vão mantendo as famílias. Nós fazemos as patrulhas de segurança. No exterior. Pela cidade perdida.

 

Birao, um centro normalmente cheio de actividade comercial, a cerca de 60 quilómetros da cidade sudanesa de Am Dafok, está moribunda. Mais de 60% das habitações foram pilhadas, queimadas, de seguida. A grande maioria das pessoas fugiu para o mato. O primeiro ataque rebelde foi a 6 de Junho. O segundo, no Domingo, 21.

 

Estive de visita no dia 25.

 

Uma desolação. Não há autoridade na cidade. O Governador, o Presidente da Câmara, os funcionários, estão todos em fuga. Cerca de 90 militares do governo mantêm uma certa paz. Mas andam de mão dada com um grupo rebelde, que controla a cidade. Ou seja, tomaram partido, pois esse grupo rebelde é inimigo jurado do que atacou a localidade. São dois grupos, que representam duas tribos vizinhas, que  andam numa guerra sem tréguas. Gente pobre armada até aos dentes.

 

Os rebeldes aliados do governo passeiam-se em Birao como quem anda a apanhar ar fresco à beira Tejo.

 

Ninguém fala de Birao, por esse mundo fora. Bangui, a capital, fica a cinco dias de viagem por pistas quebra-espinhas. Nem da Vakaga, metade de Portugal em superfície, 38 000 habitantes, muitas árvores, pássaros exóticos e animais selvagens. Um paraíso onde se sofre todos os dias.

 

O nosso segundo campo, no aeroporto da cidade, a 12 quilómetros do burgo, fica na zona de passagem para o ponto de água de uma manada sem fim de búfalos. Nesta altura do ano, em que a água é muito escassa, os animais transitam todos os fins de tarde pela zona do campo. Convém estar atento, que os búfalos não são animais para brincadeiras. Estes não são como os pacíficos primos que se passeiam por Timor Leste. São bichos bravos a sério.

 

Como os homens.

 

Quem sabe onde fica Birao, no mapa, na vida, na morte? 

Sem anseios

 

Alguém escreveu para me dizer que considerava o meu texto na Visão da semana passada, sobre as Derivas Socialistas, uma prova que eu estava à procura de um cargo de ministro ou coisa assim. Que me estava a colocar.

 

Disse ao SOL, em entrevista de Janeiro de 2007, que quando voltar a Portugal, depois de 31 ou 32 anos na ONU, não é para me sentar ao lado do telefone, ansioso, à espera que me telefonem, a convidar para qualquer coisa mais ou menos pública. Não ando nem andarei à pesca de lugares.

 

Disse isso, na altura, e repito-o, agora. Não jogo no campeonato dos lambe-botas, nem preciso de dizer que sim, quando quero dizer que não. Quero voltar a afirmá-lo, para que os senhores das corridas aos tachos e tachinhos possam dormir a sesta descansados.

 

A política portuguesa é feita de gente desassossegada e desconfiada. Anda tudo a correr atrás do interesse pessoal. Será, talvez, por as oportunidades de bons empregos serem poucas e esparsas.

Bruxarias políticas

 

 

O meu texto desta semana na Visão pode ser lido no seguinte sítio:

 

http://aeiou.visao.pt/milho-bruxedos-e-democracia=f514237

 

 

É um texto diferente, com impressões pessoais, as estórias de quem tem arrastado os ossos por muitos horizontes.

 

A propósito. A bruxaria em política não é feita apenas com recursos a manipansos. Há outras estatuetas. De barro bem frágil.

 

Boa leitura. Não se esqueçam de comentar o meu artigo na página on-line da Visão. Os comentários fazem bem à alma do autor.

 

 

 

Sem limites e viva a falta de bom senso.

 

A estupidez humana não tem limites. As provas desta verdade são visíveis todos os dias. 

 

A falta de previsão e de capacidade de antecipação também não conhecem linhas de demarcação. Tudo é possível. 

 

Hoje, por exemplo, o avião que tínhamos de prevenção em Abéché, estava com o depósito vazio. Em plena zona operacional, muito longe da capital. Como era urgente, perderam-se duas horas, até que estivesse pronto para voar. Quando o estava, já não era preciso.  A oportunidade tinha sido perdida.

 

Ontem, uma das nossas colunas, no deserto do Norte, bem junto à fronteira com o Sudão, viajava do campo de refugiados de Oure Cassoni para Bahai. Vejam no Google. Várias viaturas de agências humanitárias. A viatura da frente fazia a protecção armada. Como já haviam feito o trajecto umas quinze vezes sem que houvesse qualquer ataque, iam descontraídos. Não havia viatura de protecção armada no final da coluna.

 

Ora, o local é uma zona de movimentação das guerrilhas sudanesas. Ontem, a décima sexta vez, os rebeldes atacaram. Concentraram-se, evidentemente, na última viatura da coluna. Um 4X4 do Comité Internacional da Cruz Vermelha.  Adeus, carro meu.

 

A escolta, na primeira viatura, ainda tentou uma perseguição. Inútil. Os rebeldes entraram imediatamente em território sudanês. No passado, a escolta teria ido no seu encalço, independentemente da linha de fronteira. Mas comigo, não. Imaginem que eram interceptados pelos guardas fronteiriços do Sudão...

 

Afinal a guerra do Raul Solnado existe.

 

 

 

Morrer às portas da paz

 

As informações parecem revelar que os senhores armados se preparam para uma ofensiva diferente. Não aqui. Do outro lado da linha de fronteira, na região mais a Norte do Darfur, em aliança com as tropas de Khartoum. Contra os homens do Justice and Equality Movement (JEM). 

 

Lutar pelo controlo das areias. É uma maneira de marcar pontos, tendo em vista as negociações de paz que decorrem em Doha. De um lado, o governo do Sudão. Do outro, o JEM.

 

É normal lançar ofensivas guerreiras quando se está a negociar a paz. Faz aumentar a parada. Um período de maior perigo é exactamente quando a paz começa a ser possível. Às armas, cidadãos!

 

Assim se faz diplomacia. Embora me pareça triste morrer quando se está à beira de acordo de paz.

 

Sonhar com a beira-mar

 

Estou numa fase em que o tempo é pouco para fazer o que há que fazer.

 

Ainda hoje, lá fui novamente a Bangui. Tinha lá estado na Sexta. Fui falar com o Presidente e o Ministro da Defesa. No seguimento das confrontações bem violentas de ontem, em Birao. Que se seguiram a outras que haviam ocorrido a 6 de Junho. Os grupos armados estão cada vez mais equipados, metralhadoras ligeiras e morteiros. Gente rural pobre, mas armada até aos dentes. E que não dá tréguas ao inimigo. Inimigo apanhado, gente com quem viveram lado a lado durante décadas, é inimigo executado. No local. Sem perder tempo. Alguns são decapitados.

 

O leitor talvez até nem saiba onde fica Birao. Esse é outro dos problemas. É um conflito que não aparece nos ecrãs. Por isso, ignorado. Morre-se em silêncio, em Birao. 

 

Quando voltei de Bangui, tinha uma pasta de rumores, boatos, em cima da mesa, dizendo que os rebeldes chadianos estavam a dois passos de lançar uma nova ofensiva. Tudo sem fundamento. Mas o suficiente para alarmar o pessoal. O pânico é uma moeda barata, que circula muito rapidamente. Tudo muito vago. Mas suficiente, também, para exigir que se mobilizem meios para apurar a veracidade da "informação".  Amanhã lá vão todos os meus agentes de informação para o terreno, que é bem vasto, para tentar perceber o que se passa.

 

Tudo isto não dá muito tempo para pensar na praia, no Sol, nos simples prazeres da vida.

 

Há por aí alguém que queira trocar de funções comigo, nem que seja só pelo tempo suficiente que me permita ir esticar as pernas à beira-mar?

 

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