O Pinho dos Chifres, segundo diz o Joe Berardo e outros intelectuais e líderes portugueses do mesmo calibre e nível cívico , é um génio.
A verdade é que os seus feitos, à altura da dignidade que a Assembleia da República inspira, foram objecto de narrativa e comentário um pouco por toda a parte. Mesmo no muito circunspecto e sisudo Financial Times. Este diário teve, no entanto, que explicar aos leitores anglo-saxónicos o significado do gesto altamente político-popular do nosso Pinho bravo. Para o fazer, recorreu às peças de William Shakespeare. O tema dos cornos era muito popular nessa época, quatrocentos anos atrás.
Agora que os chifres já entraram para a história do parlamento português, queria contar-vos uma estória de chavelhos. Dos verdadeiros. Aqui não se desce ao nível do figurado.
Em Janeiro um bovino vivo, de carne e osso, valia, no mercado de N' Djaména, quase 200 Euros. Havia erva, a estação das chuvas tinha terminado três ou quatro meses antes. Os animais apresentavam um ar farto e saudável.
Hoje, com o início das chuvas muito atrasado, os animais não têm que comer. Estão esqueléticos e sem forças. A minha base é no caminho para o matadouro, na entrada Norte da cidade. É frequente ver os animais a comer lixo, papel e plástico. As estrumeiras são agora as terras de pasto. Muitos dos animais não tem a energia suficiente para chegar à zona do abate. Morrem pelo caminho. Quem quiser pagar 15 Euros, compra uma vaca. De pele e ossos.
É um tempo de fome e de miséria para os animais e para os donos. São populações nómadas, tão magras como as suas vacas. E tão pobres que nem se atrevem a abrir a boca, para contar as suas mágoas. Morre-se em silêncio, que assim é a vida de quem anda nas terras das areias sem fim.
Hoje, cedo, senti uma brisa fresca. Está um lindo dia de Sol. Mas também se consegue apanhar um pouco de frescura, à sombra das árvores que estão na plena força do Verão. Tudo isto é altamente apreciado, quando se vem de vários meses no Sahara e no Sahel.
O verde e a brisa dizem-me que é tempo de desaceleração. Por duas semanas.
Quem anda aos ventos secos compreende melhor a bênção que sai do verde das árvores frondosas.
A Visão que saiu ontem tem um texto meu sobre o discurso do Presidente da França ao parlamento reunido em congresso. Nicolas Sarkozy procurou um palco histórico para fazer aquilo que ele pensava ser um discurso para a História. Com uma remodelação do governo francês no dia seguinte ao do congresso, o Presidente acabou por desviar as atenções para o banal, para as personalidades que entraram e saíram. Os jornais acharam mais graça à chegada de Mitterrand ao Conselho de Ministros do que a umas ideias sobre o futuro da França.
Como uma desgraça nunca vem só, surgiu, logo de seguida, a morte de Michael Jackson. O discurso acabou por desaparecer de vez das linhas de mira dos media. Jackson era um verdadeiro Rei. Sarkozy tem apenas pretensões. E o povo quer circo, que o espectáculo da política é coisa menor.
Foi hoje inaugurado o hospital militar Norueguês, na nossa base militar de Abéché. Em menos de três meses, nasceu das areias do deserto de Abéché uma maravilha tecnológica.
Os militares da Noruega trabalharam de noite, para que os trabalhos de construção fossem feitos durante as horas mais frescas. Durante o dia, a temperatura ronda os 50 graus. De noite, desce para os 28. Com uma disciplina, um sentido de serviço, e uma capacidade de fazer coisas que até os Austríacos deixou pasmados.
Um povo com um forte sentido de responsabilidade faz surgir milagres das terras mais inóspitas que se possam imaginar.