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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

63 000 km2 de florestas

 

Vim hoje à noite da região do Salamat, nos confins do Sudeste do Chade, a fazer fronteira com a República Centro-africana. São centenas quilómetros de planície. Árvores, árvores, a perder de vista, pântanos e rios, cheios, nesta altura de chuvas, 63 000 km quadrados de solidão e de natureza, 180 000 habitantes. Dos quais, 16 300 são refugiados que vieram da vizinha RCA. Chegaram este ano, a partir de Janeiro. Alguns dos campos, que visitei, estão situados junto à fronteira. As mulheres e as crianças constituem a maioria dos refugiados. Os homens ficaram, do outro lado da raia, nas florestas que rodeiam as suas aldeias, prontos para combater as FACA (Forças Armadas Centro-africanas, que não têm nem armas nem força).

 

Tive sorte com o tempo. Com toda uma série de percursos de helicóptero, se tivesse chovido, os riscos aumentariam. Esteve um Sol radiante. Só ao fim do dia começaram a aparecer as grandes nuvens negras dos trópicos. Acabou por chover a sério onde havíamos pousado o avião. Mas quando voltámos ao local, as chuvas haviam cessado. Sem lençóis de água e sem cabras, vacas e pessoas a atravessar a pista, levantámos voo.

 

No longo percurso de regresso a casa, um de nós acusou, de modo agudo, a má qualidade das águas, a falta de frescura das comidas, as diarreias dos sensíveis. Mas o nosso avião de hoje não tinha casa de banho. Foi um pânico a 22 000 pés.

 

 

Os pântanos

 

N'Djaména está transformada, nos bairros pobres, num pântano. Tem chovido e as águas ficam paradas, em milhares poças gigantescas. Parecem pequenas imitações do Lago Chade. É verdade que o lago já chegou, há muitos anos, a cobrir estas terras onde hoje se afoga a cidade.

 

Na política portuguesa, continua a pré-campanha. Chovem acusações de todo o tipo. A sociedade está alagada. Há muitos pântanos. Onde as ideias não conseguem germinar.

 

O interesse pela Europa

 

O meu texto na revista VISÃO desta semana tem atraído comentários variados, bem pensados e extensos. É uma surpresa. Afinal, o interesse por questões que transcendem as fronteiras da nossa freguesia existe. As pessoas estão ávidas por vistas largas.

 

O artigo encontra-se on-line, para além do papel.

 

http://aeiou.visao.pt/reentradas-amargas=f527010

Um homem digno

 

Ontem decorei com a medalha de honra das Nações Unidas um agente da polícia do Chade. Havia sido alvo de uma emboscada, com quatro outros agentes, quando protegiam uma coluna humanitária, que se deslocava na região de Guereda, no Leste do País, perto da fronteira com o Darfur Norte.

 

Guereda é uma das áreas mais perigosas. Tem bandidos armados, milícias étnicas e rebeldes. Bem como muitos homens da secreta e outros, com uniformes. Trata-se de um cocktail explosivo.

 

Uma bala de calibre 7.62, na perna direita. Apesar de todos os esforcos, a nossa equipa médica norueguesa teve que amputar.

 

Ontem, na minha frente, estava um homem novo, com cerca de 30 anos. Alto, bem feito, com a vida cheia de promessas. Mas as promessas foram modificadas para sempre. Num país pobre, em que é preciso lutar por cada milímetro que se queira obter, um handicap deste tipo torna tudo extraordinariamente mais difícil. Em casa, 15 pessoas dependem do seu ganha pão. Assim acontece um pouco por toda a parte, em Africa.

 

Um homem digno.

 

Fiquei impressionado.

 

Que vale uma medalha?

Transacções e concessões

 

A revista VISÃO, na sua edição de hoje, publica o meu texto sobre o toma lá, dá cá que se vai passar em Bruxelas, durante Setembro.  As transacções terão como ponto fulcral a eleição de Barroso para um segundo mandato à frente da Comissão Europeia.

 

O artigo também está disponível on-line, como de costume:

 

http://aeiou.visao.pt/reentradas-amargas=f527010

 

Devo acrescentar, com satisfacção, que os meus textos têm atraído muita atenção.

 

Numa altura em que todos estão focalizados nas eleições de 27 de Setembro e na luta entre o Zé e a Manela, o meu texto ousa lembrar que há outros combates igualmente em liça.

Não tenhamos ilusões

 

A vida é dura, nestes cantos do mundo. Para quem aqui nasceu. Também para aqueles que por aqui andam. A violência faz parte do quotidiano.

 

Dizia-me alguém, hoje, a partir de Lisboa, que sente a falta de África. Mas bem vistas as coisas, a falta sentida era a das grandes paisagens, dos espaços e das cores. É esta a memória que resta, quando, depois de muitos anos, se deixou o Continente para trás. A sensação de que o mundo nos pertence.

 

Vinha isto a propósito da experiência, ontem, em Zanzibar, de uma pessoa próxima. Dez minutos para tomar o pequeno almoço, antes de apanhar o barco para Dar-es-Salaam. O tempo suficiente para que um rato de hotel limpasse o dinheiro deixado no quarto, os cartões, o telemóvel.

 

Depois, é o pânico em terra alheia.

 

Apenas um exemplo.

 

Nestas terras, olho vivo não é suficiente. É preciso estar sempre com os faróis ligados, sempre em pé-de-guerra...

 

Mas, de facto, as paisagens...

 

E Zanzibar...Onde organizei, estávamos em 1995, as primeiras eleições multipartidárias, que em seguida foram roubadas pelo meu amigo...o Presidente...

 

 

Passarões

 

Copyright V. Ângelo

 

Águia de grande porte, apanhada pela minha máquina 10 quilómetros ao Sul de Birao.

 

Para quem gosta de ver aves de todos os tamanhos e cores, o caminho passa por aqui.

 

Recentemente, o jet que me transporta cruzou-se com uma outra águia, a cerca de 3 500 metros de altitude. Foram dois ou três segundos de grande emoção. Como pode uma ave planar a uma altitude tão elevada?

 

Os nossos passarões de Portugal voam bem mais baixo e sem graça. Quanto a visão, digamos que pouco mais enxergam do que a distância que vai até à sua conta bancária. Não vale a pena perder tempo com eles.

Desertos políticos

 

Durante a tarde e o serão, a capital está deserta. O período do Ramadão vive-se devagar. Trabalha-se pela manhã. Depois, o cansaço começa a fazer das suas. Um dirigente político dizia-me que não é a privação de comida e de bebida, durante as horas de Sol, que mais custa. É o não poder fumar. Raio do vício, que é mais forte do que as necessidades básicas.

 

Falei com Nova Iorque. As Nações Unidas também estão desertas. As duas últimas semanas de Agosto são o grande período de férias na Costa Leste dos Estados Unidos. Até o Presidente está ausente. Mas os Noruegueses, ao criticar o Secretário-geral, trouxeram uma vaga de frio que tem estado a provocar arrepios em Nova Iorque.

 

À noite, foi a conversa com Lisboa. Também está parada.

 

Só os políticos andam mexidos, que isto de ter eleições em Setembro dá cabo das férias.

 

Um deles anda inaugurar primeiras pedras. É a política das pedras soltas.

 

Outro, voltou às feiras. Tem um olhar esgazeado, que mete medo às criancinhas. Ainda bem que não tem hipóteses de se tornar chefe do infantário.

 

A dama está a escrever, sem pressas, um programa de governo, numa folha A4, que irá apresentar aos portugueses quando Deus quiser. Tem razão. O poder vai cair-lhe nas mãos, basta esperar.

 

O chefe-mor diz que recebeu um jipe cheio de leis para assinar. Uma frase assassina. Com um veto, hoje, nas uniões de facto, que é como quem vai passando umas rasteiras à equipa adversária e espera que o árbrito não dê pela marosca.

 

Além das arribas que se vão abaixo, temos os nossos políticos. Esmagam tudo o que está à sua beira.

 

 

Jejuns

 

Neste primeiro dia de Ramadão, não havia controladores aéreos no aeroporto de Abéché.  Pelo menos, nas primeiras horas da manhã. O pessoal já estava cansado, só de pensar no jejum. Não sei a que horas começou o controlo dos aviões, mas Abéché tem actualmente mais movimento do que certas capitais, por esse mundo que nos rodeia.

 

Visitei o contingente irlandês, no Sul do Chade. Gente de muito valor e muito aplicada. Nesta altura das chuvas, as patrulhas são feitas a partir das zonas onde os helicópteros podem pousar. O segundo-comandante é uma mulher, com a patente de major. Para as forças armadas irlandeses a participação em campanhas como a do Chade é um incentivo para atrair jovens para a vida militar.

 

Curiosamente, a Irlanda só tem quatro generais no efectivo. Por uma razão de seriedade e de poupança. Também está com todas as promoções congeladas, quer na carreira militar quer na função pública. É que a crise é para tratar a sério.

 

Visitei uma aldeia de gente que havia sido refugiada interna --deslocados -- e que agora se sente com tranquilidade suficiente para poder voltar. Muito perto da fronteira com o Sudão. As canções que me acolheram, obra das mulheres locais, falavam dos ataques que haviam sofrido, dos diabos a cavalo, os Jenjaweed. Cavaleiros árabes, tristemente famosos nestas partes do Continente.

 

Graças ao Governador da zona, o Gov. Toké, um homem que fala bem e trabalha melhor, os aldeões são agora proprietários de um vasto campo de milho. É o começo da reconstrução das suas vidas.

 

A estrada que leva à aldeia foi reconstruída com dinheiros da Comissão Europeia. Com as primeiras chuvas, foi levada de enxurrada. O Governador e o General que me acompanhavam disseram umas coisas feias sobre a cooperação europeia.

 

 

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