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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Enxurradas

 

Depois de passar o dia no Leste do Chade, nos castanhos, tons tão variados, a encher os olhos e a dar cor às terras duras que são a minha vida de agora, voltei a casa e encontrei o meu quarto invadido. A gatinha preta, que fora adoptada durante a minha ausência em Paris, resolveu aproveitar a minha saída, sabendo-me perdido no deserto, para passar o dia deitada na minha cama, mesmo debaixo da ventoinha. Um luxo. Uma gatinha que sabe apreciar os pequenos prazeres da vida. Pequenos, porque no meu quarto, com a ventoinha a todo o valor, a temperatura nunca desce abaixo de 39 graus. 39, sim! Centígrados, meus senhores e minhas senhoras. Andar de calções, no quarto, é expor as pernas ao ar quente e sentir a carne a cozer em lume brando. Um pequeno luxo, de facto, essa ventoinha feita por um chinês do século passado.

 

A malandreca aproveitou bem o seu dia ao fresco. Nem para fazer as necessidades mais primárias saiu do quarto. Só que os meus polícias pensam que a gatinha é um elemento das Operações Especiais e alimentam-na bem. A produção foi em grande quantidade. Uma enxurrada. Tive que pedir a ajuda da turma de prevenção. A nossa polícia é de uma valia a toda a prova.

 

Foi um incidente que me fez bem. Permitiu que me esquecesse da " outra produção", a que sai da política portuguesa, com uma evacuação diária. Uma outra enxurrada, nos jornais e nas televisões. O PGR, por exemplo, um assunto actualmente muito na moda em Portugal, faz pensar numa lagartixa mansa, ao lado da nossa gatinha. Talvez a única coisa que tenham em comum é o oportunismo ocasional, o aproveitar o ar fresco, quando ninguém está a olhar. Só que, mais tarde ou mais cedo, chega a guarda e é um fugir a quatro patas.

 

Permitiu também esquecer que o investimento feito pelas Nações Unidas, no Leste do Chade e na RCA, está em riscos de ir por água abaixo. O que é uma maneira de dizer, pois na secura destas paragens, poucas águas existem. Todavia, esta enxurrada vai deixar muita coisa por fazer. E muita gente por proteger.

 

Não estou a fazer o elogio do cócó da gatinha que partilha as penas do nosso calor.  Entendam bem, que há que ter respeito por estas matérias. Mas a verdade é, que no meio de tanta merdice, há porcarias que não fazem mal ao coração.

Fazer de parvo

 

Andar a fazer de parvo dá muito jeito. Assim acontece, na vida diplomática. Finge-se que não se entende e passa-se em frente, ao que é, de facto, importante. Com elegância, que na diplomacia, e na política, convém ter maneiras. A cortesia, a forma, o porte, a postura, são armas eficazes. Sobretudo quando o outro lado usa essas mesmas tácticas para tentar levar-nos à certa.

 

Lembro-me quando negociava com o governo japonês, haverá uns dez anos. Os meus interlocutores, quando a questão lhes parecia embaraçosa, murmuravam umas frases impossíveis de entender. Repetia eu o ponto, para tentar obter um esclarecimento. E a contraparte voltava a dizer umas coisas mal pronunciadas e sem sentido claro. Mas eram ditas com calma e educação. Eu ficava desarmado. Não podia passar a reunião a pedir que repetissem a mesma coisa. Entre fazer de parvo, por não compreender, e fazer de parvo, por parecer ter compreendido, a segunda opção sempre era mais digna.

 

O fundamental era entender bem o que os meus interlocutores queriam dizer, mas não diziam. E tirar as conclusões que se impunham.

 

Nestes dias, as andanças fazem-me pensar nestas experiências. Pratico, de novo, o jogo do parvo. Mas não convém andar a fazer de cego. Isso, sim, seria uma parvoíce das antigas.

 

 

 

Um dia santo

 

Dia Santo para os Muçulmanos: Mawlid an-Nabi, o dia do nascimento do Profeta. Uma data muito importante, para os crentes.

 

Passei o dia fechado em salas de negociações. O que não me impediu de pensar, em determinada altura, talvez num momento de desespero, quando alguém estaria a apresentar o cenário ou opção número vinte e tal, que a Europa e o mundo islâmico não conseguem estabelecer uma relação mais tolerante entre si. São duas civilizações que se desconhecem. Que não fazem um esforço de compreensão mútua. As opiniões sobre os outros são baseadas em estereotipos.

Na Europa, a questão da integração dos imigrantes de religião muçulmana e a candidatura da Turquia à UE são dois assuntos que continuam por resolver. Dois temas fracturantes. 

 

Do lado islâmico, a intolerância e a exclusão são a regra, tal como acontece na Europa, mas com um sinal contrário. Tenho assistido a uma radicalização da política internacional dos Estados islâmicos. A tendência para se fecharem em relação ao resto do mundo, nesta era da globalização, é cada vez mais acentuada.

 

É tempo de começar a pensar em encontros regulares e bem preparados entre a UE e a OCI (Organizaçõa da Conferência Islâmica).

 

 

O comboio das incertezas

 

Deu-me satisfação escrever o texto que a Visão publica hoje, na revista impressa. Foi um bom exercício de escrita, entenda-se. Por isso me deu prazer.

 

Mas custa-me ter que reconhecer que o projecto europeu está a ficar coxo. As pernas para andar fazem falta. Ou serão os líderes que andam ausentes?

 

O sítio do artigo é o seguinte:

 

http://aeiou.visao.pt/frio-em-bruxelas=f549440

 

Tenham a bondade de o ler.

 

Os palhaços contra os relojoeiros

 

Um dos meus conselheiros directos é um verdadeiro relojoeiro. As análises que faz da política regional têm a precisão e paciência que um artesão fabricante de relógios suíços põe no seu trabalho. São minuciosas, as peças encaixam bem, a complexidade dos mecanismos é perfeitamente entendida. Cada obra resulta de um trabalho cuidadoso, exacto e exaustivo. É coisa séria.

 

Comparo essa maneira de fazer, o rigor intelectual que exige, a aplicação que requer, com as declarações trapalhonas de tantos dos nossos políticos. Em Portugal, nomeadamente, faz-se política em cima do joelho, dispara-se à queima roupa, confunde-se a frase assassina com capacidade analítica e programática. O insulto toma o lugar da sabedoria, a raiva vence a razão. O pior é que os Portugueses gostam deste tipo de politicões, sentem-se bem no circo. O espectáculo toma a primazia, o golpe de rins substitui a argumentação cerebral.

 

Peço desculpa, mas creio que devemos perguntar a nós próprios se vale mais ter, lá em cima, uma quadrilha de palhaços ou uma associação de relojoeiros, que se preocupe com o funcionamento acertado das coisas?

 

Notando bem que se pode ser artesão de relógios e ser muito criativo, ao mesmo tempo.

Andar ao Sol

 

A lenda que vos contei ontem, de um rafeiro que todos imaginavam ser uma fera, despertou interesse. Muitos leitores fizeram referência à desgraçada da historieta. Comentários bem criados foram surgindo ao longo das horas. Sem ter autorização para falar em nome do rafeiro, quero, mesmo assim, dizer obrigado e que haverá mais. É que quem anda pelos desertos perde-se a contar lendas às estrelas.

 

Mas, atenção! Não caiam na tentação das dunas finas e alouradas pelo Sol, nos prospectos que vos mostram nas agências de viagens, nas fotografias de espaços a perder de vista, contra um azul profundo do céu, nos repousos quentes de fim da tarde, que estas terras encerram muitos perigos.

Entre as dunas da memória

 

Estou de regresso aos meus desertos.

 

Havia, outrora, um cão perdido no deserto. Não era da variedade local, um tipo de galgos esbeltos, castanhos e dourados, de orelhas atentas e ponteagudas -- tive um desses exemplares quando estive na RCA, levei-o para a Gâmbia, quando fui enviado para essa terra, era um animal de uma inteligência rara, Rex de seu nome, e de facto tinha a postura. Mas o bicho desta historieta não era nem nunca havia sido um galgo das areias do Sahel. Era um animal como todos os outros, rafeiro vagabundo nos calores das miragens. Um pobre diabo a viver no meio de paisagens de muitas cores e de tons fortes.

 

Sentia-se tão perdido que cada vez que via passar uma caravana de homens tentava aproximar-se, passar a fazer parte da trupe. Mas os homens, quando o enxergavam ao longe, viam uma fera das dunas, não o miserável cachorro que o bicho era. Disparavam sua direcção, afugentando assim o infeliz solitário.

 

Acabou por perecer num dia em que a tempestade de areia foi ainda mais severa. Mas, na memória dos caravaneiros e dos que andam em fila indiana, ficou a imagem de uma besta feroz, caçador implacável e arguto, que só podia viver no meio das pedras secas.

 

Voltar à arena

 

Ultimo dia de convalescença. Amanhã, volto às minhas peregrinações. Vou participar na reunião do Conselho de Administração de uma Fundação internacional. Vamos discutir o financiamento de projectos na confluência das áreas do desenvolvimento, da democracia e da segurança.

 

Na Ásia Central, em países que foram da União Soviética -- um mundo que parece distante, esquecido na história, mas que continua a deixar muitos resquícios naquela parte do mundo. São países em que a competição por recursos naturais, água e energia, em particular, torna a vizinhança um bocado complicada. Alguns deles fazem fronteira com o Afeganistão, o que os torna ainda mais estratégicos.

 

Vamos reflectir sobre o papel da comunidade internacional na resolução da crise de Mindanao, nas Filipinas. Neste caso, é um voltar a um velho problema, a que estive ligado dez anos atrás. Nessa altura, o movimento rebelde era o Moro National Liberation Front, agora é o Moro Islamic Liberation Front. Moro vem da palavra espanhola, os nossos Mouros de outrora.

 

Daremos uma volta pelos problemas do Quénia e da região do Delta, na Nigéria. E mais uma ou outra questão, ligada ao papel político que as ONG desempenham em caso de conflitos à volta de eleições. 

 

Haverá ainda tempo para discutir um projecto de mobilização de grandes capitães da indústria e da economia, hoje reformados, mas disponíveis para iniciativas informais de paz. Um projecto interessante, pelos nomes que agrega. É que quem muito recebeu muito deve dar.

Madeira precisa de uma onda de fundo

 

Tem que haver uma onda de fundo, de solidariedade nacional, para ajudar a Madeira. Os Portugueses têm que se mobilizar e mostrar que, nos momentos de grandes desafios, somos todos um só povo, uma nação unida pela dor e pela esperança.

 

Que a Madeira seja o estandarte do que há de melhor no coração do nosso País.

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