Agora é Singapura que começa a interessar-se a sério por África.
Em Julho organizou o primeiro Fórum de Negócios África-Singapura. A partir de Outubro, haverá várias missões comerciais e de investimento. Com destino, numa primeira fase, a Angola, Botswana e África do Sul. Depois, será a vez do Quénia, Uganda e Ruanda. Numa terceira volta, os empresários deste país da Ásia do Sudeste irão ao Egipto e à Argélia.
A escolha dos países que interessam a Singapura merece reflexão.
No Sábado, Washington assistiu a dois comícios políticos. Celebrava-se nesse dia mais um aniversário do discurso histórico de Martin Luther King intitulado "I have a dream".
Num deles, um mar de gente veio ouvir Sarah Palin, antiga governadora do estado do Alasca e candidata à vice-presidência dos EUA nas últimas eleições. Uma mulher ultra-conservadora que se está a transformar na porta-estandarte das ideias republicanas mais à direita. A quase totalidade dos presentes era branca.
Um par de milhas mais ao lado, uma outra multidão veio ouvir o líder negro Al Sharpton. O Rev. Sharpton é um homem de posições extremas, quando se trata da defesa dos direitos dos afro-americanos. É, como Sarah Palin, muito controverso. As muitas pessoas presentes eram, quase todas, negras.
Assim se extremam as posições nos EUA de 2010. Quer de um lado quer do outro, a questão da cor da pele continua a ter um peso desmesurado em matéria política.
As regiões africanas onde haverá, nas próximas décadas, uma explosão demográfica, estão perto da Europa, como ontem escrevia. Fazem parte da nossa área geo-estratégica mais imediata.
São, igualmente, constituídas por países onde a religião islâmica é predominante. Com o tempo, o peso relativo do Islão, na política internacional, vai tornar-se muito mais evidente. Ou seja, para além do desafio migratório que a Europa deverá ter que gerir, haverá também a perspectiva de um enorme confronto civilizacional.
As populações europeias sentir-se-ão ameaçadas. Se esta questão não for tratada com tempo, com antecedência, teremos à nossa frente, num futuro que muitos de nós iremos testemunhar, uma cadeia de conflitos entre a Europa e a vizinha África.
No ano 2050, a África terá 1,8 mil milhões de pessoas. Hoje tem cerca de 1,0 mil milhões. Quando cheguei ao continente, pela primeira vez, há 32 anos, os africanos eram cerca de 480 milhões.
O crescimento populacional e as migrações para os centros urbanos vão ser dois dos grandes desafios do futuro. Lado a lado com as questões ligadas à saúde, à educação, ao emprego, à habitação e às infra-estruturas sociais.
O Norte de África (Magrebe) e a África Ocidental são duas das regiões de maior crescimento populacional e de densidade mais elevada. Grande parte do crescimento populacional irá ocorrer nos países que constituem essas duas regiões. São também regiões que tradicionalmente enviam grandes números de emigrantes para a Europa mediterrânica. A gestão dos movimentos migratórios internacionais será igualmente um desafio de grandes proporções.
Ou seja, reflectir sobre África é também reflectir sobre o futuro da Europa.
Os tradutores cibernéticos não podem ser utilizados para produzir traduções literárias. Mas os programas disponíveis na net são suficientes para entender textos escritos noutras línguas.
Vem isto a propósito de um relatório que o Instituto Polaco das Relações Exteriores acaba de publicar. Passa-se o documento pela máquina e em menos de um minuto temos à nossa frente algo que faz sentido, embora não seja perfeito.
O relatório faz uma análise da situação actual do serviço comum da diplomacia europeia. Dos 115 embaixadores que representam a UE pelo mundo fora, 66 provêm de apenas cinco países: Alemanha, Bélgica, França, Itália e Holanda. Ou seja, de estados que são membros fundadores da União.
Se se juntar a esse pequeno grupo a Espanha e o Reino Unido, teremos sete países com 86 postos de chefia de missões diplomáticas. Os 30 postos restantes repartem-se pelos vinte outros estados membros.
Numa União que fala sem parar da igualdade do género, só 15 postos de chefia de missão são ocupados por mulheres.
O resto do estudo faz uma análise mais fina, país por país. Mostra, por exemplo, que em África quem dá cartas em termos de postos são as antigas potências coloniais.
É um excelente trabalho do Instituto polaco, uma arma de negociações muito importante. Mostra que em Varsóvia não se anda a dormir na forma, nem a apanhar Sol nos Algarves que são os nossos.
Em Setembro vão ser conhecidas as novas nomeações. Pelo menos, a primeira onda. Veremos até onde a Baronesa Ashton consegue chegar.
Escrevo na Visão de hoje uma crónica sobre o aproveitamento político de um facto que à partida era pouco relevante: a construção de um centro cultural islâmico a cerca de trezentos metros do Ground Zero em Nova Iorque, um projecto que inclui uma sala de orações a que se poderá chamar mesquita.
Os vistas curtas, a direita e o Partido Republicano, com relevo especial para Newt Gingrich e Sarah Palin, têm feito campanha contra o centro cultural e contra o Presidente Obama. Procuram tirar proveito eleitoral de preconceitos e medos primários.
O remate final do meu texto diz que um mau político procura sempre criar uma boa confusão para se manter em vida.
Mas a verdade é que mesmo aqui em Portugal existem intelectuais de esquerda que são contra a localização do projecto perto do Ground Zero. Quem se sentir visado que enfie a carapuça.
A incerteza, na política, na justiça, na economia, na vida, é um factor regressivo, mina a confiança, o entusiasmo e o progresso. A incerteza revela que quem nos dirige não lidera, navega apenas ao sabor do vento que lhe é de feição. A incerteza leva ao desastre. Quando um povo não sabe para onde vai, acaba por ir para parte incerta.
O Presidente francês continua a fazer das suas. É a política dos movimentos repentinos. Tudo muito de improviso, sem que se entenda o plano director, a não ser a preocupação de fazer coisas e de confundir iniciativas com estratégia.
Hoje soube-se que convocou, para 6 de Setembro e à margem das instituicoes comunitárias e dos princípios que regem as relações entre os Estados membros da UE, um encontro de alguns ministros europeus do interior sobre questões da imigração.
Não se conhece agenda ou programa para o encontro, a maioria dos países da União não foi convidada, a própria Bélgica, que assegura a presidência este semestre, só foi acrescentada depois dos outros, o Canadá foi incluído, sabe-se lá por que razão, Bruxelas não foi informada, enfim, um espectáculo sem nexo.
Pensar-se-ia que a Roménia e a Bulgária, por causa dos problemas recentes com os seus cidadãos ciganos, também deveriam estar à volta da mesa. Não. Não foram convidadas.