Nos últimos dias passei algum tempo a seguir a situação política no Brasil. A primeira volta das eleições presidenciais vai ter lugar no dia 3 de Outubro. Os insultos e a propaganda vil são os traços comuns das duas candidaturas principais. O boato, os golpes baixos, como por exemplo, publicar as declarações de rendimentos de familiares próximos de certas personalidades políticas da oposição, o enredo, a desconfiança e o ódio são os principais ingredientes das campanhas eleitorais.
O voto vai ser por meios electrónicos. Certos grupos de agitadores concentram, por isso, os seus ataques no sistema electrónico, para o descredibilizar. É uma bagunça.
Tentei perceber qual era a substância de cada um dos programas. Não encontrei substância nem programas. É uma tristeza. Não me falem da política brasileira, por favor.
Informam os meios de comunicação social que os sindicatos da função pública portuguesa querem um aumento salarial de 2,9% em 2011.
Penso que esta informação não pode, de modo algum, ser verdadeira. Quem vai acreditar que associações sindicais responsáveis, como certamente serão as que representam os nossos funcionários, possam pensar em aumentos dessa ordem, quando a situação das finanças públicas do país está a ficar cada vez mais insustentável?
Os dirigentes sindicais, como aliás todos nós, sabem que sem um corte das despesas públicas a sério, em 2011 -- e no que resta de 2010 -- o financiamento externo da economia portuguesa ficará totalmente comprometido. Sem acesso aos capitais exteriores, serão vários os sectores económicos a entrar em derrapagem total.
A Espanha está a ganhar a confiança dos mercados. Adoptou medidas económicas claras em Maio, num pacote único. Que incluiu uma redução imediata da despesa pública, com cortes nos salários na ordem dos 5% para todos os funcionários, limites nas pensões de reforma mais elevadas, e na ajuda externa. Não optou pela política das mijinhas, tão praticada deste lado da fronteira, do género, hoje corto aqui, amanhã corto ali, no dia seguinte subo mais um imposto, anulo mais uma vantagem fiscal, enfim, um rodopio de pés de dança que é próprio dos fracos e dos incompetentes, de quem não conhece a música, dos maus dançarinos.
Os operadores económicos querem certezas, não querem um rosário de indecisões e de medidas avulsas.
Convém lembrar que se trata de um governo socialista. As questões de natureza ideológica são importantes. Definem as grandes opções. Mas, quando se está perante uma crise profunda, a ideologia é notoriamente insuficiente. É preciso mostrar competência.
Que grande confusão em Bruxelas. Para além da confusão em que a governação do país se encontra, a tempestade de hoje foi por culpa dos ciganos.
O Presidente francês não achou piada às declarações feitas há um par de dias pela Comissária da Justiça, a qual, por sua vez, não achara graça alguma às expulsões decididas e efectuadas a pedido do chefe de Estado da França. A Comissária foi forçada a pedir desculpa, à porta fechada, o que irritou o primeiro-ministro do seu país, o Luxemburgo. E colocou o Presidente Barroso numa situação delicada. Ainda por cima depois de se ter tornado claro, nos últimos meses, que Sarkozy e Barroso andam às cabeçadas. Para complicar, o chefe do governo búlgaro veio cá para fora e contou o enredo aos jornalistas. Dir-se-ia que andou na mesma escola de certos políticos portugueses, que não conseguem ficar calados, desde que haja um microfone à frente da cara.
Tudo isto quando havia matérias muito sérias para discutir. A política externa era uma delas. Mas não só. Havia a questão da governação económica e dos mecanismos de coordenação.
Entretanto, sairam as primeiras nomeações no quadro do serviço diplomático comum. Portugal não conseguiu o Brasil, o que é uma desilusão importante. Por que será que falhámos? E também parece destinado a perder a chefia da direcção África, em Bruxelas. O candidato português, um excelente profissional, não terá currículo suficiente em matérias africanas, diz a Senhora Ashton. Ora, para nós e para África seria importante que Portugal conseguisse obter o lugar.
Depois de uma tarde de viagens, estou de novo no Norte da Europa, para voltar a notar que estas economias europeias mais desenvolvidas têm, como um dos seus pilares, a imigração. Gente muito nova, de muitos cantos do mundo, faz todo um tipo de trabalhos pouco atraentes. A sua presença permite a vários sectores de actividade económica continuar com as portas abertas e ser viáveis. A energia e vontade de trabalhar destes jovens são bem visíveis. São um exemplo.
A contribuição da mão-de-obra estrangeira é fundamental para a sustentação da Europa. O que não que dizer que não haja hoje mais xenofobia que há quatro ou cinco anos atrás. A verdade é que a imigração vai continuar. Um dia talvez se chegue a uma situação, nalguns destes países, em que a maioria dos jovens serão de origem estrangeira e a maioria dos nacionais, dos autóctones, estará próxima ou já na terceira idade.
O relatório que a Amnistia Internacional acaba de publicar sobre as violações dos direitos humanos e das liberdades fundamentais no Iraque de hoje está a acusar embaraços em Bruxelas e nalgumas capitais ocidentais. Intitulado "New Order, Same Abuses. Unlawful Detentions and Torture in Iraq", vem confirmar que, após sete anos de investimento da comunidade internacional, os resultados continuam muito aquém das expectativas. O governo utiliza sistematicamente a violência, como arma de manutenção da ordem pública e da autoridade do Estado, os cidadãos vivem na insegurança total e sem ter a certeza de ser ou não protegidos por quem detém o poder.
Há que repensar o papel dos principais parceiros do país, no seu apoio à governação no Iraque. Mas, abandonar o Iraque neste momento, concluo eu, seria um erro de consequências imprevisíveis. Mesmo se a responsabilidade primeira da situação actual cabe aos dirigentes nacionais.
O Governo espanhol terá pago 8 milhões de euros ao grupo terrorista que afirma ser uma filial magrebina da Al-Qaida. Assim conseguiu obter a libertação de dois cidadãos espanhóis que se encontravam reféns, nas mãos dos criminosos. Já em Maio deste ano, a Itália havia pago ao mesmo grupo 3,6 milhões, também para obter o resgate de dois italianos. E a Áustria teria, em Abril de 2009, desembolsado 2,5 milhões, por motivos similares.
A França e o Reino Unido, apanhados em situações idênticas, resolveram não pactuar. Em ambos os casos, os raptados foram executados pelos terroristas.
A regra é que não se pague. Não se deve recompensar os actos terroristas. Nem deixar que o rapto se converta numa actividade rentável.
O Tridente saiu hoje para o mar. Em missão. Somos um país marítimo do Século XXI. Com uma plataforma e uma zona económica de grande interesse estratégico. Precisamos deste tipo de equipamento. E de valorizar, ao mesmo tempo, o mar que temos. Sem espaço para demagogias.
Quem quiser poupar, que corte nos subsídios à RTP, à TAP, e a outras coisas do género. Poupando, assim, centenas de milhões por ano. Mas, por favor, não confundam as pessoas, não comparem os nossos interesses marítimos com as palhaçadas da TV, que é um buraco sem fundo. Nem com a companhia que voa mal e que já deveria ter sido privatizada há muito.
A reflexão estratégica sobre o futuro de África deverá ter em conta os seguintes desafios e processos de transformação, que irão ocorrer nas próximas três décadas:
a) O crescimento da população. Em 1980, havia 480 milhões de Africanos. Em 2010, mil milhões. Em 2050, os Africanos serão 1,8 mil milhões.
b) A urbanização acelerada. As migrações internas.
c) A emigração para outros países africanos, para a Europa e para outros continentes.
d) O emprego dos jovens. 500 milhões em idade de trabalhar em 2010. Serão 1,1 mil milhões em 2040.
e) O desenvolvimento desigual. Dualidade. Modelos de desenvolvimento vão ser postos em causa. Ao mesmo tempo, aparecimento de classes médias, crescimento do poder de compra.
f) Desertificação, desflorestação, pressão sobre os recursos naturais.
g) Redes criminosas internacionais, tráfico de drogas, de armas e terrorismo. Pirataria na Costa Ocidental de África.
h) Governação, instabilidade, desagregação social. O caso do Sul Sudão. Conflitos internos, etnicidade, confrontos religiosos. Conflitos bélicos entre estados.
j) Mais riqueza, maior peso na economia global, mais FDI em África e de África noutras partes do mundo, a começar pela Europa.
k) Maior afirmação política nas instituições internacionais, novas parcerias com a China, Índia, etc. A questão da participação como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
A reflexão também deve ser feita na Europa, visto que muitas destas mudanças que irão ocorrer em África terão um impacto significativo no continente europeu.
Ver a política e a vida numa perspectiva de longo prazo. O que está em contra-corrente com o imediatismo dos que vivem no frenesim do título que poderá aparecer nos media de amanhã.