O referendo que decidirá sobre o futuro do Sul do Sudão terá lugar a 9 de Janeiro. Faltam menos de dois meses.
Entretanto existem, na região de Cartum, a capital do país, cerca de um milhão de deslocados vindos do Sul. Concentrados em três grandes campos humanitários, são pessoas que fugiram à guerra e ao conflito que devastaram o Sul, durante cerca de vinte anos. Contrariamente às gentes que rodeiam os campos, que são populações fortemente arabizadas, os povos vindos do Sul têm todas as características dos bantos. O aspecto físico é totalmente distinto.
Esses deslocados estão extremamente preocupados com o seu futuro. Não sabem qual vai ser a reacção das autoridades do Norte, de Cartum, caso o referendo seja a favor da independência. A verdade é que as hipóteses de um referendo separatista, que dê origem a uma divisão do Sudão e ao aparecimento de um outro Estado, com capital em Juba, são muito fortes. A partir daí os deslocados que vivem na área de Cartum passarão a ser olhados com enorme hostilidade pelas autoridades e a população árabe do Norte e considerados estrangeiros. É difícil prever o que lhes possa vir a acontecer. Mas que há motivo para profundas preocupações, isso sim, há.
Continuo sem poder focalizar a atenção da comunidade internacional no referendo que vai ter lugar no Sul do Sudão, dentro de dois meses, e que será uma momento de viragem na história contemporânea daquela parte do Continente Africano. Muitas outras coisas com que me ocupar estão a fazer com que não consiga dedicar suficiente atenção a este assunto. É, portanto, a chave de futuros conflitos.
Com os juros ao preço a que estão, os bancos à briga com uma agência internacional de rating, com o sistema de saúde dos funcionários públicos a evaporar-se, o emprego no desemprego, e a Igreja a dizer que o orçamento de Estado para 2011 é uma calamidade para as famílias, em que rua nos encontramos?
Quanto mais se aprofunda o conhecimento da presente situação económica portuguesa, mais se percebe que uma parte importante do tecido empresarial está numa fase de pré-falência. O que parecem ser empresas sólidas, são na realidade burros mancos que se habituaram a comer à manjedoura do Estado e a sobreviver com base nos compadrios com as instituições públicas e os seus dirigentes. Agora, com o Estado em crise, deixa de haver palha suficiente. Sem mencionar nomes, sectores inteiros precisam do cliente Estado para poderem funcionar. Ou seja, trata-se de uma economia pretensamente privada mas que só prosperou enquanto beneficiou das encomendas e dos subsídios públicos. Era a economia das caixas de robalo, das cunhas e das benesses.
Estamos, assim, numa situação de grande fragilidade económica. Atrair investimento estrangeiro de vulto é uma tarefa quase impossível, nestas circunstâncias. Mesmo apesar das visitas chinesas e outras.
Do outro lado da barricada, há um universo de microempresas, muitas delas meramente familiares, que vão mantendo a porta aberta porque vendem a pronto, grão a grão, e prestam serviços básicos. A única porta que não mantém aberta é a do fisco, pois a maior parte das suas operações passam ao lado da barra.
No final dos anos noventa e no começo da década de 2000 tive a oportunidade de apresentar a edição anual, em português, dos relatórios sobre o Desenvolvimento Humano. Nesses anos, Portugal andava pela posição 26 ou 27, na lista de países de maior desenvolvimento.
Hoje, estamos na posição 41ª. Ou seja, já não estamos na primeira linha da fotografia.
É verdade que a metodologia de cálculo do índice mudou um pouco. Mas, não é isso que explica o declínio. A verdade é que o nosso país se foi deixando ultrapassar por outros. Perdemos qualidade relativa, ficámos relativamente mais afastados dos melhores. Nomeadamente, por causa da diminuição do poder de compra e da ineficácia do combate à pobreza, ao nível das famílias. Esta é a grande verdade.
Há quem não queira ver a realidade dos factos. Quem pense e diga que revelar estes dados é uma atitude anti-patriótica. No meu entender, a verdadeira falta de patriotismo, de interesse pelo bem-estar dos portugueses, deve ser atribuída aos incompetentes e manhosos que nos têm governado ao longo dos anos.
A minha pergunta de ontem, sobre os grandes receios que as pessoas sem poder sentem, numa conjuntura de profundas incertezas e de instabilidade, é a questão que os políticos "mainstream", responsáveis, se esquecem, por norma, de equacionar.
Quem vive num contexto de fragilidade, de insegurança humana como agora se diz, sente-se ameaçado pelos que não pertencem à sua categoria social. Vêem nos imigrantes uma parte das ameaças. Nos especuladores, uma entidade sem face, colocam outra parte do problema. Nos mercados. Nos estrangeiros, em geral. E assim sucessivamente.
E os políticos populistas aproveitam-se destes receios populares para puxar a brasa à sua sardinha. Ou então, se há alguma maturidade politica, como é o caso em Portugal, o que acontece é que as pessoas deixam pura e simplesmente de acreditar na política. O alheamento e o salve-se quem puder passam a ser as respostas às incertezas.
O meu texto na Visão de hoje tem que ver com a próxima cimeira da NATO. Uma cimeira que vai discutir o novo conceito estratégico da organização. Que objectivos e prioridades, para os próximos dez anos? Uma discussão bem intricada, se tivermos em conta a grande complexidade que caracteriza o xadrez das relações internacionais.
Não é fácil pensar no futuro quando a situação imediata é extremamente volátil. Mas, é preciso fazê-lo.
Uma injecção de 600 mil milhões de dólares, esse é o montante que a Reserva Federal dos EUA vai pôr em circulação nos próximos seis meses, como estímulo económico. É valor astronómico que dá uma ideia da dimensão da crise. Os analistas económicos estão divididos, quando se trata de emitir uma opinião sobre esta medida. No meu entender, a decisão é defensável e terá algum impacto, no curto prazo.
Numa perspectiva mais estratégica e de longo prazo, a questão fundamental continua a ser a do modelo económico dos países mais industrializados. Está, como é cada vez mais óbvio, desajustado face à globalização da economia, ao surgimento de novos centros de produção e à competição pelo acesso às matérias-primas fundamentais.
Entretanto, Portugal continua sem conseguir atrair os grandes investidores internacionais privados, fora da área financeira de curto prazo. Os que estão dispostos a investir na economia real. Tenho tentado atrair um grupo de investidores asiáticos a dedicar alguma atenção aos nosso sectores económicos e à potencialidade de certos investimentos, mas sem sucesso. Não há interesse. Pensam, além disso, que muitas das nossas grandes empresas estão com grandes dificuldades de sobrevivência.
Eu sou como o outro, não digo mal do nosso país. Mas, infelizmente, nem é preciso. A nossa imagem exterior diz tudo.
A diversidade religiosa e étnica na Europa, eis o tema que me vai ocupar os próximos dias. Uma matéria complexa, com dimensões políticas a juntarem-se aos direitos humanos, aos valores que cada sociedade deve partilhar, e com aspectos económicos e sociais. Sem contar com a definição de valores absolutos, como a igualdade entre os homens e as mulheres, e a maneira como esses valores são encarados por diferentes culturas.
Não são meras questões filosóficas. É a estabilidade da Europa que está em jogo.