O verdadeiro debate
A questão de fundo, nesta Lisboa de fim de ano, não é sobre o FMI, saber se é preciso ter ou não um programa de ajustamento com o Fundo. Sem ter sido preciso bater à porta do FMI, já existe um programa de cortes na despesa pública. Aprovado pela Assembleia da República, cabe ao governo proceder à sua execução. É o orçamento geral do Estado para 2011.
Será suficiente para equilibrar, num prazo não muito distante, as contas públicas? Ou serão precisas mais reduções de despesa e mais entradas de impostos? Se sim, não seremos capazes de chegar a um acordo sobre esses cortes, sobre o pacote de novas medidas, sem ter que fazer apelo ao FMI ou ao fundo de emergência da UE?
Creio que sim. Penso que há compreensão suficiente entre a classe política portuguesa para que se possa chegar a novos acordos, caso seja necessário.
Mas, e é aí que está o centro da questão, os fundos e as instituições estrangeiras, que nos emprestam dinheiro -- as fontes donde virão os 20 mil milhões que o Estado português vai pedir emprestado em 2011, mais os outros grupos financeiros internacionais, que terão que emprestar dinheiro aos bancos e à economia portuguesa -- têm confiança suficiente na nossa capacidade de gestão da nossa própria crise? Essa é, neste momento, a questão mais premente.
Há ou não confiança internacional em nós? Se a resposta for de dúvida, teremos então que perguntar, a nós próprios, que deverá ser feito para reconquistar essa confiança. Sem ela, não há saída para a crise. Esse parece-me ser o verdadeiro debate. O resto é populismo e asneira pegada.