A capacidade de gestão de crises, bem como a capacidade de resposta rápida às crises humanitárias, são duas áreas em que a fraqueza das instituições europeias é bem clara. Tratam-se, no entanto, de matérias comunitárias, em que uma actuação conjunta faz sentido.
Por que será que este pássaro me faz pensar na burocracia da União Europeia? Ou será que me faz pensar na competência dos líderes da máquina de Bruxelas?
O Conselho dos Direitos Humanos da ONU reuniu-se, em Genebra, para debater a situação na Líbia.
A resolução aprovada pelo Conselho, no final dos trabalhos, é adequada. Faz as referências exactas, incluindo as relativas aos crimes cometidos pelas autoridades. Também é importante que o Conselho tenha decidido enviar imediatamente para a Líbia uma comissão internacional de inquérito. Esta é uma das medidas que estão na caixa de ferramentas da diplomacia internacional e é, normalmente, eficaz.
Só que no caso de governantes loucos o impacto é mais demorado...
Por outro lado, a esta hora está reunido o Conselho de Segurança, em Nova Iorque. Existe uma proposta de resolução forte. Vamos ver se passa e com que termos e linguagem.
Este é momento, sem mais demoras, para fazer ver a Seif e aos irmãos que as opções actuais do pai deles não auguram nada de bom. E quando se é jovem, como eles o são, é bom pensar nessas coisas que têm que ver com o futuro de quem ainda tem futuro.
Defendo, no meu texto de hoje, na Visão, que os acontecimentos no Médio Oriente e Norte de África (MONA) nos vieram lembrar que uma política diplomática sem valores nem princípios leva ao descrédito de quem a pratica. A prazo, joga contra os interesses de quem a promove.
O oportunismo político não tem futuro, na era da internet e das redes sociais. As pessoas têm acesso à informação, sentem que os valores da igualdade e da liberdade são fundamentais, aprenderam a identificar ambiguidades, vacilações e interesses injustificados e não aceitam que a política seja feita desse modo.
O mundo tem mudado muito, nestas primeiras semanas do ano novo.
Muita gente importante, por essa Europa fora, está de tal modo preocupada com o petróleo e o gás da Líbia, que fica sem coragem para uma tomada de posição clara. Impera o silêncio, que o Cão Raivoso de Trípoli interpreta como uma licença para matar.
É verdade que os popós da malta não funcionam com base em declarações de princípio. Mas, sem princípios, a Europa deixa de ter autoridade moral. Não pode ser pela democracia no Zimbabwe, onde não tem interesses estratégicos, e pela estabilidade da ditadura na Líbia, onde uns barris de petróleo falam mais alto.
A Baronesa Ashton, em nome dos Estados membros, ao pronunciar-se sobre "os Líbios", apelou, solenemente, à moderação. Como quem diria, o que é preciso é calma e pé ligeiro.
Esta foi a única manifestação de vida de uma União que não sabe o que são princípios universais e convenções internacionais.
Com uma Europa assim, nem os esquimós, que estão lá bem para o Norte, se escapam.
O que se está a passar na Líbia é inaceitável. É um conjunto de actos criminosos, por parte dos dirigentes, contra a população civil. São acções que caem, sem dúvida, na área de jurisdição do Tribunal Penal Internacional. Gaddafi, e o seu filho Seif, são os principais responsáveis.
Seif é um jovem sedento de poder e de dinheiro. Tem sido, nos últimos anos, o verdadeiro chefe, por detrás do trono. Das várias vezes que tive que lidar directamente com o governo líbio, quando havia uma decisão importante, a pergunta que me faziam ou o conselho que me davam eram sempre os mesmos: é melhor falar primeiro com Seif.
Hoje, em Bruxelas, onde estava a decorrer uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros, um dos ratos da diplomacia mostrava um ar preocupadíssimo e dizia que a situação no mundo árabe é muito complexa, que é preciso tratar dela com muito cuidado, que não se trata apenas de uma questão de democracia e de direitos humanos. Não entendi bem onde queria chegar. Mas sei que para quem está, hoje, a ser baleado pelas hostes armadas de Gaddafi, pai e filho, um certo respeito pelos seus direitos e pela democracia dava um grande alívio.
Dia de escrita. O rascunho inicial tinha 4850 caracteres. O meu editor só aceita 3500. Isto significa horas a retocar o estilo, a burilar as palavras, a procurar palavras mais curtas, a construir frases mais directas, a eliminar o que primeiro pareceu importante e, depois de várias leituras, se afigura como acessório e dispensável. Enfim, uma labuta.
Escrever é uma tarefa dura.
Pensei, então, no mérito dos tweets. Aí só cabem 140 caracteres. São, quando bem feitos, o cúmulo da frase concentrada. Só músculo, nada de gorduras. Estão a tornar-se, cada vez mais, um meio privilegiado de informação e de comunicação. Cobrem muito terreno. Muita uva e pouca parra, diriam os antigos.
O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, William Hague, disse, com clareza, ao fim da tarde, que o uso de violência, pelo governo da Líbia, contra manifestantes pacíficos, é inaceitável. Tem que cessar e que haver quem pague por isso.
É de acreditar que outras vozes se juntem à sua. Sem mais demoras, que a gravidade dos acontecimentos assim o exige.
Mal andaria o mundo ocidental se assim não fosse... Se os valores deixassem de orientar o labirinto internacional. Se os crimes contra as pessoas fossem, apenas, avaliados pela bitola dos interesses dos Estados.
Mas será que haverá por aí gente dirigente com coragem para o fazer?
Djibuti foi hoje atingido pela onda de choque que está a percorrer as ditaduras árabes. O país tem eleições presidenciais marcadas para Abril. O Presidente cessante, Ismael Omar Guelleh, conseguiu a habilidade de alterar a constituição, para se poder candidatar a um terceiro mandato. A rua disse-lhe, esta tarde, que já chega.
O caso de Djibuti vem confirmar a teoria do contágio democrático.
Entretanto, a situação está a agravar-se na Líbia. Há um numero de vítimas elevado. As indicações que vão surgindo, poucas, tendo em conta a censura e as restrições à entrada de jornalistas estrangeiros, mostram um crescendo da violência. Há motivos para sérias preocupações.
O Ocidente ainda não disse nada de monta sobre a crise na Líbia. E tem revelado uma timidez de voz, no que respeita ao Bahrein.
Em Bruxelas, por exemplo, existe um silêncio que faz pensar. Ainda haverá alguém com autoridade em matéria de política externa?
A grande questão, de imediato, é a seguinte: qual deve ser a política da União Europeia e dos Estados Unidos em relação à vaga de fundo que varre o mundo árabe?