Alguém me perguntava hoje para que serve a CPLP. É uma pergunta difícil. Mas a verdadeira pergunta será, talvez, o que pode cada Estado membro fazer, sobretudo Portugal, Brasil e Angola, para que a organização tenha mais dinamismo e uma estratégia clara de cooperação e de promoção da língua portuguesa e da cultura dos povos que a integram.
A CPLP, no caso português, tem que ser uma aposta de política externa mais central, de maior prioridade. É um importante multiplicador da nossa influência em certas partes do mundo.
Para perceber melhor o que é possível e para evitar cair nos erros que outros já cometeram, seria bom que se estudasse a sério o que faz e o que não consegue fazer a Commonwealth Britânica. Mas, a verdade é que a Commonwealth entrou numa fase de letargia profunda. Pouco mais é, agora, que um símbolo. Quanto ao resto, é irrelevante. Convém entender que razões a fizeram chegar essa situação, para evitar que o mesmo não venha a acontecerà CPLP.
O Reino Unido provou, uma vez mais, que é uma ilha à parte, mas com uma projecção global.
A riqueza de um país é, também, uma mistura de orgulho nacional e de grande abertura de espírito, de tradição e de modernidade, de respeito pelas instituições e, ao mesmo tempo, de criação, inovação e irreverência sadia.
Passei o dia à volta de Trafalgar Square. A praça, que em tempos normais, já é bastante agitada, parecia hoje uma colmeia de abelhas. Transbordava de actividade. O casamento real era o motivo. Na escadaria principal, que conduz à National Gallery, encontrei o jovem que tem feito de sósia do Príncipe William. Lá estava, pacientemente sentado, provavelmente à espera de uma nova oportunidade do tipo You tube. A vida ainda está para príncipes, agora para imitadores, é feita de altos e baixos.
O mesmo se passa com os nossos políticos. Vão tentando imitar outros líderes, fingem que são duros e puros, mas acabam sentados nas escadinhas do poder, reduzidos à simples condição de figurantes.
Aqui, pela nossa terra, apareceram agora uns lobos vestidos de cordeiro. Falas mansas, que é com mel que se apanham as moscas. O único que saiu para fora do penico foi o que disse que não queria dizer "foleiro". O que lhe vale é que políticos do seu calibre estão muito habituados a meter os pés pelas mãos. São uns artistas.
Entretanto, o pessoal do FMI continua a fazer-nos a cama, sem que nós nos importemos por aí além. Estamos convencidos que a nossa habilidade de chico-espertos vai, uma vez mais, dar a volta ao pessoal de olhos azuis.
Lá fora, a Europa continua meio adormecida. A questão de Schengen parece ser um problema de Paris e Roma, tão somente. A situação na Síria, dramática que é, deixa os europeus sem fala ou voz que se oiça. Do lado da Líbia, ainda hoje se disse, e mal, que o tempo joga contra o Coronel. Não é verdade. O tempo, o impasse, a falta de uma estratégia clara do lado Ocidental, tudo isso tem um custo elevado para a rebelião. O Conselho Nacional de Transição continua sem apoios e sem capacidade de liderança.
O que nos vale é a semana ser curta e haver uma outra ponte dentro de dias. Dá para esquecer.
Discursos fora, a presença, lado a lado, de quatro Presidentes da República Portuguesa nas comemorações do Dia da Liberdade, foi uma mensagem forte. Espero que tenha sido recebida com clareza pelos dirigentes dos partidos políticos.
O ditador da Síria, Bashar al-Assad, o Assad júnior, como gosto de lhe chamar, não quer entender o mundo de hoje. Continua a viver na ficção que o seu pai criou durante décadas, à custa da repressão, da intriga e do suborno de certas elites e dos líderes tribais.
Agora, o júnior está a marcar o seu encontro com a história. Infelizmente, é cada vez mais claro que esse encontro passa por um tribunal internacional, que o julgue pelos crimes que está a cometer contra o povo sírio.
A par do drama que a Síria está a viver, e com os acontecimentos no Iémen e na Líbia a mostrar a força das ideias democráticas, em partes importantes do universo árabe, a Europa Ocidental fechou para férias. Que seja em Lisboa, Paris, Bruxelas ou em Berlim, em Oslo ou em Helsínquia, os europeus resolveram ir para a praia ou para longe. Até parece que não há crise. Mais. Fica-se com a impressão que de dois em dois meses partem todos de férias.
Não haverá aqui alguma dose de exagero?
É o que pensam, pelo menos, os chineses, outros indianos e os americanos, que tomam doses de férias com mais moderação.
O Presidente francês tem doze meses difíceis à sua frente. Dentro de exactamente um ano, haverá eleições presidenciais. Pelo andar da carruagem, é quase certo que Nicolas Sarkozy não venha a ser reeleito. Essa perspectiva não lhe agrada de modo algum. Pensa que é um eleito dos deuses, tem destino marcado com a história, que mais ninguém tem o direito de liderar a França, enquanto ele o puder fazer.
Está convencido que, se levar a cabo um certo número de golpes espectaculares, ousados e de matiz populista, isso lhe permitirá recuperar o futuro. Vai tentar tudo por tudo. Procurar captar as atenções e mostrar que é mais vivo do que qualquer um dos outros possíveis adversários. Por isso, temos que estar preparados para todo o tipo de surpresas.
Para já, diz-se que está a planear uma visita à cidade rebelde de Bengasi, nas próximas horas, bem como fechar as fronteiras do seu país ao livre trânsito das pessoas.