O texto que hoje publico na Visão volta a reflectir sobre o divórcio que existe entre os dirigentes políticos da Europa e os cidadãos.
Escrevo, também, sobre a falta de coragem de quem é pago, e bem, para a ter e que, no topo das instituições europeias, prefere ficar calado. Essa "timidez" tem levado a uma marginalização progressiva das principais figuras comunitárias. A sua relevância politica é cada vez menor.
O velho ritual voltou a ser cumprido. Depois de 900 km de estrada, o dia terminou na Adega de Belém, como sempre acontece nestas ocasiões. É a prova dos nove do regresso a Lisboa.
E no primeiro serão não se fala de política.
Com um novo governo ainda a dar os primeiros passos, o melhor é, de qualquer modo, esperar um pouco mais, para ver onde param as modas. Para já, seria mera especulação, sem fundamento.
Entretanto, a aprovação pelo Parlamento grego de um segundo programa de austeridade foi bem recebida na Europa e muito mal na Grécia. Serve, para já, para permitir emprestar 12 mil milhões de euros adicionais, que deverão satisfazer as necessidades mais urgentes. Mas não vejo como é que o programa possa vir a ser implementado. A sua aprovação, na minha opinião, foi para muitos dos deputados mais um exercício de hipocrisia. Aprova-se, em teoria, diz-se que sim, mas não se executa.
Sou dos que pensam que nãohá lugar na zona euro para a Grécia, a não ser se eles passaram a cumprir o que prometem.
Isto de se andar para aí a dizer que a Europa tem que ajudar porque a Grécia foi o bercco da democracia é um argumento que tem a leveza de um velho senhor que nao está a perceber o enredo do filme.
Fim do dia em Calatayud, no antigo reino de Aragão. Terra pobre e meio em ruínas, pelo menos a parte histórica, rodeada por terras que fazem pensar no Norte do Chade. São verdadeiros exemplos do que pode ser o deserto.
Faz impressão ver esta parte da península tão agredida pela erosão, a seca, um clima duro e uma gestão humana que não se tem interessado pela preservação da natureza.
Falei com um padre muito simpático, que queria a todo o custo que eu visse a sua igreja: Iglesia de San Juan el Real. Uma maravilha de arte sacra, com muitas peças de grande valor. Valeu a pena.
Fiquei, depois, com a impressao que o velho pároco achou piada `a minha estada em Calatayud. É que a sua rotina pouco mais é do que rezar missas de corpo presente numa terra onde os idosos imperam.
De manhã, passagem do tempo na praia de Saintes-Maries-de-la-Mer. Um encanto de urbanismo, organização, segurança, facilidade de estacionamento, tudo a preços acessíveis. Uma praia que mostra que o Algarve é um escândalo, uma roubalheira e um sítio para deixar pousar os patos bravos.
Depois, o circuito da Lagoa de Vaccares, um parque natural com muitas facetas: aves, plantas, cavalos selvagens, peixes, e muitas possibilidades de passeios a pé e de bicicleta.
À tarde, viagem até Aix-en-Provence. Uma cidade cheia de vida, muito jovem, em termos da população residente, com uma parte antiga muito bem conservada, embora recente: do século XVII até aos nossos dias. Uma temperatura infernal nas velhas ruas da urbe. E uma língua local, a língua de Oc, que é prima directa do português. Curioso ler as inscrições numa língua que se assemelha ao que falamos.
Ao fim do dia, um encontro com a cigana-chefe de Arles. Mulher velha e sabida, que não vos deixa muito espaço para manobras. Tem muita conversa. Não lhe mostrei a mão. Era capaz de me dizer que eu ainda haveria de ser... Vocês imaginam.
As "arenas romanas" de Nimes são espectaculares. Como também o é a torre romana, construída no alto de uma colina, um século e picos antes da nossa era. Mas a visita exige pernas fortes, espírito determinado e fôlego por inteiro, sobretudo debaixo de um Sol intenso.
A Ponte de Gard é uma obra única, inserida num parque natural de grande beleza paisagística. Muita gente vem passar o dia `a beira-rio e a caminhar nos matagais e nas florestas de árvores indígenas que enquadram a ponte.
Já de tarde, fiz uma primeira visita ao delta do rio Rhone. É uma reserva ambiental, paraíso de pássaros, peixes, cavalos selvagens e outros animais e plantas.
Ainda teve que dar para por a escrita para a Visão em dia.
Arles, que me serve de base durante uns dias, é uma antiga cidade romana, que atrai muitos turistas mas que tem sofrido um processo de declínio. O centro da cidade é, no essencial, constituído por velhas habitações, que já conheceram dias melhores. Muita gente pobre vive no interior do casco urbano, incluindo um número significativo de imigrantes vindos da África do Norte.
Uns vinte quilómetros mais a Norte, SaintRémy de Provence surge como uma localidade no extremo oposto. É terra de gente com meios, muito bem arranjada e com serviços públicos a funcionar como seria de esperar. A presença da imigraçãonão é tão óbvia como em Arles.
Avignon, também nas paragens, é uma cidade monumental. As muralhas, com um perímetro de vários quilómetros, o Palácio dos Papas, a ponte medieval, as igrejas e os outros monumentos, tudo isto coloca Avignon numa categoria acima da média.
Ao voltar à base, ao fim do dia, um visitante atento e interessado sente que precisa de descanso.
Cheguei esta tarde a Arles, na Camargue provençal.
A auto-estrada que vem de Paris para a Provença é um inferno de trânsito, mesmo em dias normais como o de hoje. O lado positivo da questão é que isto quer dizer que a economia continua a mexer-se. Já não é nada mau.
Sou dos que defendem que a vida política não precisa de ser feita com base em crispações, ataques gratuitos, confrontações inúteis e pequeninas. A serenidade, nas relações entre as instituições e os partidos, é prova de maturidade e de sentido das responsabilidades.
Disse há pouco, a quem me quis ouvir, que o carrossel político português deu hoje provas de serenidade e de bom funcionamento das instituições da governação. São sinais positivos, que os nossos parceiros internacionais apreciam. E que o povo português reconhece.
Há, em especial, que saudar a eleição da deputada Assunção Esteves como Presidente da Assembleia da República. É uma escolha que dignifica Portugal. Como também foi apreciada a maneira como os diferentes grupos parlamentares exprimiram a sua satisfação com esta eleição.