Durante três dias, de Sexta até hoje, milhares de fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, encheram o estádio do Belenenses. Gente bem posta, com uma paciência evangélica, chegaram, cada dia, por volta das 08:30, para deixar o local cerca das 18:00 horas. Vinham às famílias, quase todos em carros particulares em bom estado.
As entradas do estádio eram controladas pela segurança da Igreja, tudo muito certinho e sem falhas aparentes.
Foram meus vizinhos temporários. De vez em quando, olhava da minha varanda e lá estavam eles todos sentados, muitos ao Sol, cheios de fé e de calor. Eram uma paisagem humana interessante, uma curiosidade, num bairro de Lisboa que não tem grande animação de rua. O que fizeram, durante tantas horas, não sei dizer.
Aliás, eu nada sei sobre esta seita, para além do que é público. Mas nota-se que têm dinheiro, embora não creio que tenham poder.
Escrevi, no meu último texto da Visão, publicado há dois dias, que os indivíduos que frequentem sociedades secretas ou que são membros de outras bizarrias, com rituais esotéricos, não deveriam poder ser agentes dos serviços de informação. No meu entender, isto é tão verdade para os quadros dirigentes como o é para os postos mais abaixo. Há solidariedades cegas e outros mistérios, nas organizações secretas, como a maçonaria, que não são compatíveis com o trabalho isento que as agências encarregadas da segurança nacional têm a obrigação de levar a cabo.
Também é inaceitável a passagem de quadros das instituições de segurança do Estado para os grandes grupos económicos, feita sem regras e sem um período de nojo, mais ou menos prolongado.
O que se passa actualmente no sistema português de segurança dá uma imagem péssima dos serviços e de quem sobre eles tem autoridade.
Será que andamos a jogar ao faz-de-conta com coisas que são muito sérias?
Hoje ao serão o meu bairro ficou deserto. É o mês de Agosto que se anuncia. Só a crise não vai de férias. A nossa e a dos vizinhos. Incluindo os do outro lado do mar grande.
O meu trabalho insere-se num conjunto bem pensado de notas e informações, sob a responsabilidade do editor da secção internacional da revista, sobre a Noruega e os atentados da semana passada. As primeiras reacções ao meu texto são muito positivas.
Faço igualmente, na parte final, uma breve reflexão sobre aspectos lusitanos da questão.
Lisboa é única capital que conheço --e vocês sabem que eu já estive em muitas-- onde as "meninas da noite" e os seus "dedicados protectores" operam, com toda a liberdade, nas ruas em que vivem alguns dos embaixadores estrangeiros.
Temos um bairro diplomático bem animado, de facto. Veja-se, à noite, a avenida do Restelo, junto às residências oficiais do Japão, da Coreia do Sul, do Irão, das embaixadas de Cabo Verde, da Argélia, da Noruega, e outras. Ou a das Descobertas e zonas afins. Imaginem o que é ir a um jantar oficial numa dessas residências, com toda a animação de rua que por ali vai, todos os serões.
Aparentemente esta situação, que incomoda os diplomatas estrangeiros e os seus convidados, parece não ser considerada digna de nota nem nas Necessidades nem na Administração Interna. Ou então, finge-se, uma vez mais, que se não vê.
A direita americana, personificada pelos membros Republicanos da Câmara dos Representantes, não consegue aceitar que o Presidente seja um Afro-americano. Tem mostrado, nos últimos dias, que está disposta a tudo, mesmo a pôr a economia de pantanas, com o único objectivo de criar uma situação política que seja desfavorável à reeleição de Barack Obama.
Dizia alguém, não me lembro agora em que país europeu, que a direita desse país era a mais estúpida do mundo. Penso que a americana ultrapassa qualquer outra. O problema é que uma crise financeira nos Estados Unidos tem repercussões globais.
Deve haver por aí alguém que entende a razão que faz a Caixa Geral de Depósitos passar a ter tantos bosses e tão bem pagos. Eu sou dos que não entendem e que acham que isto é um mau indicador de outras coisas.
Sou também dos que pensam que seria bom fazer uma auditoria a sério -e com resultados públicos- à CGD.
Domingo calmo. Dia de escrita. A actualidade internacional continua focalizada nos atentados na Noruega e nas discussões orçamentais em Washington. As notícias vindas de Washington não são boas. Os Republicanos estão dispostos a tudo, para tornara reeleição de Obama impossível, no próximo ano. A política na capital americana está totalmente personalizada. Poucas ideias e muitas rasteiras.
O dia voltou a ser dominado pelos trágicos acontecimentos na Noruega. Entre outras coisas, para que não nos esqueçamos que as questões de segurança têm uma prioridade absoluta, mas não devem ser pretextos para nos fazer pôr de parte os ideais e os valores da democracia e da tolerância.
Também hoje, o Expresso voltou a falar de fugas de dados nos serviços de informações de segurança de Portugal. É um assunto que precisa de ser investigado. Já o deveria ter sido, que para isso existem os serviços do Secretário-geral da Segurança Nacional. Só o fazer depois da peça sair num jornal dá a impressão que anda por aí muita gente a dormir na forma. O que não nos deixa tranquilos.
Os atentados na Noruega deixaram o país em estado de choque.
Estive em contacto com os meus amigos noruegueses e ninguém queria acreditar que o seu "paraíso" pudesse vir a ser alvo deste tipo de acções terroristas. A verdade é que a Noruega é um actor internacional importante, quer na paz quer na guerra, e um aliado íntimo dos Estados Unidos. Por estas razões, pelo menos por estas, atrai a atenção de quem pensa que o terrorismo é uma arma política.
Mas não o é. Trata-se, pura e simplesmente, de um crime cego e bárbaro contra as pessoas, cometido por loucos perigosos.
Entretanto, olhei a paisagem à volta da minha varanda e vi o Ministério da Defesa de Portugal, aqui no Restelo, com um amontoado de carros caoticamente e perigosamente estacionadas contra as suas paredes. Fiquei apreensivo. Será que acreditamos que estas coisas só acontecem aos outros?