Amanhã, muito cedo, estarei a caminho de Lisboa, para contar a minha experiência de cooperação entre a ONU e a UE, em matéria de gestão de crises civis e militares. À noite, regresso à base de Bruxelas. O único problema é que a minha neta me passou um vírus que mal me deixa andar. Voar será, no entanto, outra coisa, espero.
Nos próximos dias vai haver muito ruído à volta da crise europeia. É o tema da actualidade, neste canto do mundo. A Chanceler Merkel vai falar sobre o assunto na Sexta-feira, no Parlamento alemão.
No dia anterior, terá falado N. Sarkozy.
Nessa altura a Visão desta semana estará na rua com um texto meu sobre o assunto. Um escrito polémico, creio.
Muito ao contrário do que diz o Economist na sua edição de agora. Mas que deve ser consultada.
Depois, a 9 de Dezembro, teremos a cimeira final da presidência polaca do Conselho Europeu. A problemática do euro e das reformas institucionais ligadas às questões fiscais serão os temas dominantes.
Entretanto, a Itália, a Espanha, os bancos, estarão todos debaixo de escrutínio muito apertado.
A sondagem desta semana do IFO, o instituto alemao que faz o seguimento do clima de negócios, revela que, na Alemanha, os empresários estão optimistas no que respeita à conjuntura económica. Não vêem motivo para alarme. Sobretudo tendo em conta o crescimento do PIB nos últimos doze meses: mais 2,6%.
O consumo interno não perdeu fôlego e as exportações, que representam cerca de 1/3 do valor somado dos 27, para uma população que equivale a 16% do total dos europeus, continuam a crescer de modo sustentado. A diversificação e aposta em mercados externos não-tradicionais, fora da EU, é uma constante da política económica de Berlim.
O meu escrito de ontem, sobre os incidentes junto à AR, gerou alguma atenção e apoio.
Entretanto, surgiu hoje um vídeo na internet que põe em causa a actuação de dois agentes da PSP à paisana, filmados a espancar um jovem alemão, nas imediações da AR. É evidente que intervenções deste tipo precisam de ser investigadas e, caso se confirmem, terão que ser condenadas. Não é possível deixar práticas inaceitáveis manchar o que a PSP tem de positivo. A confiança na Polícia é um pilar da democracia e do Estado de direito.
As provocações feitas à Polícia ontem, em frente à Assembleia da República, por meia dúzia de agitadores que nada tinham que ver com os movimentos dos trabalhadores, mostraram várias coisas: a PSP está agora melhor treinada para lidar com este tipo de incidentes; certos agentes não estavam equipados, quer em termos de uniformes apropriados quer ainda no que respeita aos meios necessários para a sua protecção pessoal, para lidar com este tipo de incidentes violentos, tendo, mesmo assim, mostrado valentia; a legislação sobre a violência e a ordem pública não protege suficientemente a dignidade e a condição dos polícias, dando margem de manobra aos agitadores profissionais e aos elementos anarquistas para actuar de um modo que é inaceitável na grande maioria das democracias, pois sabem que as suas acções ficarão impunes.
Houve quem pensasse que eu tinha iniciado a greve geral, por antecipação, como aconteceu nos aeroportos.
Queria sossegar quem me lê. Não foi por motivos de paralisação ou por ter entrado em serviços mínimos. Respeito quem decide fazer greve, mas esta luta que é a minha não pára. Também não sou como aquele professor mediático que, por despeito por não ter sido escolhido para nada, pelo seu PSD, diz agora em toda a parte e a quem ainda o quer ouvir, que é a favor da greve.
Os mercados também não param.
Hoje, desvalorizaram, uma vez mais, a notação portuguesa. Deram um sinal inequívoco: a crise da economia portuguesa vai continuar a aprofundar-se. Essa é a grande questão.
Ontem, haviam dito que não a uma oferta pública de obrigações alemãs. O alarido à volta deste facto também não tem parado.
Exageros, digo eu. Os investidores não compraram dívida à Alemanha por três razões: a taxa de juro é muito baixa, quando comparada com obrigações de qualidade semelhante (AAA), disponíveis no mercado; o prazo de 10 anos é demasiado longo, num período de grandes incertezas e de mutações rápidas; finalmente, quem tem capital investe a muito curto prazo, em Espanha ou na Itália, a juros muito elevados, entrando e saindo dos mercados sem grandes demoras.
A confiança nos líderes políticos europeus também não pára de cair. Com gravíssimas repercussões económicas e sociais. Criando ondas de instabilidade e de xenofobia
Há quem diga que parar é morrer. Mas há certas paragens que nos dariam um novo alento.
O voo da tarde para Bruxelas estava a abarrotar. Os passageiros, no avião belga, eram sobretudo gente estrangeira, que aproveitara um bilhete barato, para vir passar um fim-de-semana ligeiramente prolongado, em Lisboa e arredores. Assim me pareceu.
Entretanto, a crise tem o vento em popa. Os grandes bancos do centro da Europa continuaram, hoje, a perder capital. Fica-se com a impressão que já se esgotou o manancial de ideias novas, em Bruxelas, Paris e Berlim. É como se estivessem todos à espera, para ver onde param as modas.
Nos EUA, a situação não será muito diferente. Só que, por lá, vão-se imprimindo uns dólares.
Por aqui, não vejo como isso possa ser evitado. Quanto mais cedo se começar a imprimir euros, melhor, assim o creio.
A democracia representativa está em crise. Os políticos aproveitam-se do poder para estabelecer regras que os favorecem. É altura de pensar a sério nas alternativas.
Veja-se, esta noite, quanto recebe de pensão a presidente da Assembleia da República, em resultado de dez anos que passou no Tribunal Constitucional, para onde fora nomeada não por méritos extraordinários, mas por conhecer as pessoas que contavam, na altura, no seio do seu partido.
O IPAD, que é o instituto português que apoia a cooperação para o desenvolvimento, está a dois passos de ser reorganizado pelo governo. O decreto-lei está pronto para ser aprovado em Conselho de Ministros, talvez já nesta próxima semana. Tem como objectivo fundir o IPAD com o Instituto Camões, uma instituição com uma vocação completamente distinta do órgão que se ocupa da cooperação internacional.
É um erro. Com vários tipos de consequências. Incluindo no relacionamento com Bruxelas.
Entretanto o pobre do Secretário de Estado da Cooperação ainda anda à procura de uma oportunidade para poder falar com o seu Ministro, Paulo Portas, e perceber qual poderá ser o seu papel no meio de um MNE que vive à deriva das improvisações do chefe.