Amigo meu fez-me chegar do Rio de Janeiro, neste fim de semana de Carnaval, vejam bem, uma nota sobre o mal-estar que existe junto dos oficiais de maior patente, nas Forças Armadas do Brasil. Declarações recentes de ministros do governo, e do Partido dos Trabalhadores, trouxeram algumas preocupações a esses oficiais.
No essencial, a retórica política actual vai no sentido de aconselhar as pessoas a introduzir processos contra os oficiais que possam ter violado direitos humanos durante a ditadura militar.
Esta posição contraria o consenso que tem existido até agora. Reconheço que tem que haver justiça mas também creio que há várias maneiras de encarar a paz social e de compensar quem foi vítima da repressão. O Brasil precisa de olhar em frente e de manter um certo nível de estabilidade institucional.
O único tio meu ainda vivo chamou-me hoje de Campinas, no Brasil. Era o dia do seu aniversário: 89 anos. Queria agradecer-me os votos de parabéns que lhe mandara. Lembrou-me que a última vez que estivemos juntos foi no cais de Alcântara, em 1958, na altura da sua partida para o outro lado do oceano.
Partiu como partiam quase todos os jovens vindos do campo português, nesses tempos. Portugal era um país pobre e a emigração era a solução para muitos deles, sobretudo para quem vinha das terras de pedras e de fome das Beiras e de mais ao Norte.
Essa foi a história de vida de muitas gerações de portugueses.
Parece, uma vez mais, que aquele ditado que diz que a história gosta de se repetir está de novo a bater-nos à porta.
A nova direcção da CGTP-Intersindical decidiu hoje convocar uma greve geral para 22 de Marco. A outra central sindical não foi consultada nem está de acordo.
Na minha opinião, a decisão da CGTP é um erro táctico, com repercussões económicas e de imagem para o nosso país importantes. Parece, no entanto, fazer parte de uma estratégia de instrumentalização da Intersindical, como uma mera extensão de um partido político que tenta obter na rua o poder que não consegue nas urnas.
A hora da verdade parece ter chegado, no que respeita à Grécia. Existe uma corrente de opinião, em certas capitais, corrente que está a ganhar peso, que considera que a Grécia não tem condições para continuar no euro, nem para ser ajudada de modo a evitar a falência. A violência que acompanhou as manifestações de domingo e o descalabro verbal, por parte de certos sectores de opinião de Atenas, contribuíram bastante para a esta nova atitude. Mas não só. A verdade é que a Grécia não tem economia capaz de assegurar a recuperação do país, nem planos para a revitalizar. Deste modo, emprestar mais uns milhares de milhões é como deitar dinheiro num poço sem fundo.
Entretanto, um grupo de personalidades portuguesas divulgou hoje um abaixo-assinado, mostrando muita preocupação pela sorte dos gregos. É um gesto bonito. Falta agora uma declaração semelhante, a pensar na sorte dos portugueses. Embora deva acrescentar que parágrafos vagos e desconectados da realidade não nos levarão a parte alguma. O que precisamos é de gente que faça coisas, que tenha ideias concretas, que saiba como funciona a economia e as relações económicas internacionais. Palavras de ignorantes não levam a porto seguro.
Também quero sublinhar, embora esse mesmo grupo não esteja de acordo, que Portugal não pode ser associado ao que se está a passar na Grécia. A nossa realidade tem sido diferente e deve continuar a sê-lo. Seria um passo de gigante para o abismo se o nosso país começasse a ser visto como é vista a Grécia. Neste momento, quanto menos se falar de nós nas capitais europeias e nos jornais internacionais, melhor.
De manhã levei o carro à inspecção. A fila de espera era longa, mas os serviços estavam bem organizados e despachavam quatro veículos de cada vez. Em meia hora ficou o assunto arrumado. Sem conversas, sem alaridos, tudo feito com a preocupação de fazer o trabalho como deve ser e sem demoras. Dá gosto ver um serviço público a funcionar com eficiência. E a tratar as pessoas com respeito.
Estamos nas vésperas de mais uma cimeira UE-China, desta vez em Beijing. Creio que será a primeira cimeira da humildade europeia. Até agora, os dirigentes da União olhavam para a China com algum desdém, com um ar de superioridade mal contida. Desta vez, será diferente. A Europa está mergulhada numa crise estrutural profunda, sente-se, de certo modo, à deriva, enquanto a China continua a ter uma visão expansionista e optimista da sua economia e da sociedade.
Estamos a assistir um processo de reequilibragem das relações internacionais que é apenas natural. O que não era normal era ter um cantinho do mundo, meia dúzia de estados da Europa Ocidental, numa posição de domínio das relações económicas e políticas internacionais. Assim aconteceu durante séculos. Temos que aceitar a realidade e não cair na tentação racista, retrógrada, de diminuir ou ridiculizar o que é chinês.
Entretanto, nem tudo são rosas, do lado chinês. Soube hoje que as despesas militares da China, que atingiram cerca de 120 mil milhões de dólares em 2011, vão chegar aos 238 mil milhões em 2015. Este acréscimo é enorme, fora de proporção, num espaço de tempo bem curto. Revela o peso político dos militares chineses, bem como os receios extremos que os animam, sobretudo em relação ao Japão e aos EUA. Vão levar a uma corrida aos armamentos, quando o que todos precisamos é de uma verdadeira corrida contra a pobreza.
Discutia esta tarde o tema central que é a crise grega.
Alguém me dizia que a situação está tão má que dificilmente poderá piorar. Respondi que não é assim. Infelizmente, a queda não tem limites. Num caso como este, existe o risco de ver entrar em colapso sectores importantes da economia: a produção de energia, por exemplo, por falta de dinheiro para as peças de substituição, os sobresselentes; ou os transportes públicos, por não haver dinheiro para o combustível; a saúde, sem meios para funcionar e prestar o mínimo de cuidados; e assim sucessivamente.
Nestas situações, aprendi eu noutras terras, nunca se bate no fundo. Continuamos a perder recursos, a ver os serviços essenciais desaparecer e a miséria a agravar-se. É o caminho para a falência do Estado e da economia. Uma crise nacional.
A Grécia continua a ser um motivo de grande preocupação. Uma parte da população grega pensa que já não tem nada a perder. Não é verdade, mas isso não impede esta maneira de ver de ganhar terreno.
Por outro lado, vários países da UE estão convencidos que a Grécia não está disposta a pôr a sua casa em ordem. Também isto não será totalmente verdade.
O facto é, no entanto, que a ruptura está hoje mais próxima do que nunca de acontecer.
Esta semana escrevo na Visão sobre François Hollande, a campanha eleitoral francesa e o desemprego na Europa. Para mim, o desemprego deve ser a preocupação central de todos os líderes políticos. Infelizmente, não é assim. França
No dia em que apareceu o meu texto, voltou a falar-se da Grécia e de um novo resgate, de cerca de 170 mil milhões de euros. A situação grega e as perspectivas para os próximos anos são aterradoras. A Grécia não consegue dar a volta à sua economia, está num processo de pauperização acelerado. Por outro lado, a UE está agora muito pouco disposta a ajudar a Grécia. Chegou-se a um ponto em que se diz, alto e bom som, que a Grécia não tem remédio.
No meio de tudo isto, não podemos deixar de pensar na situação portuguesa. Mais do que nunca, é fundamental investir na diversificação da nossa economia, na expansão dos sectores mais competitivos, criar riqueza e emprego. Aliás, o meu artigo de hoje defende essa mesma tese.